São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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McCain abre vantagem na Carolina do Sul

Senador de posições duras é o republicano preferido em quase todos os segmentos de eleitores; economia é o tema maior

Candidato é desafiado por Mike Huckabee, que atrai o importante eleitorado cristão de direita; primária democrata será só no dia 26

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A COLUMBIA

No salão de "beleza afro" Angelina's, no centro da cidade de Columbia, capital da Carolina do Sul, as primárias locais dominam o assunto. "As clientes ficam brigando. A maioria vota em Barack Obama e Hillary Clinton [democratas], algumas em republicanos, e todas querem me convencer. Ainda não sei se voto em Obama, Hillary ou [o republicano] John McCain", diz Pamela Millor, 48, sócia do salão, que não se inscreveu em nenhum partido (é independente).
Pamela é a típica eleitora do Estado que pode ser arrastada pela onda McCain, cujas propostas têm muito pouco a ver com as dos democratas. A Carolina do Sul vota amanhã em sua primária republicana e, no dia 26, na democrata. Também amanhã, o Estado de Nevada, onde está localizada a cidade de Las Vegas, realiza seus "caucuses" (assembléias de eleitores) dos dois partidos.
Atual líder republicano nas pesquisas nacionais, o senador do Arizona avançou para o primeiro lugar na Carolina do Sul, conseguindo o feito raro de ser o predileto em quase todos os segmentos. É a primeira opção de voto das mulheres, dos homens, dos eleitores republicanos, dos independentes e até entre os democratas que mudaram de partido neste ano para eleger algum republicano.
Pamela explica sua dúvida. "Eu tenho dois filhos, não ganho muito dinheiro, e o que eu mais queria era assistência médica de graça. Está duro pagar. O McCain não defende isso, eu sei, mas é algo estranho. Quando eu ouço ele falar, ele me parece o mais sincero de todos, o mais confiável, o que tem as melhores idéias para o país e não só para si próprio. E acho que ele sabe o que fazer com o Iraque, pela experiência que ele tem [tendo lutado no Vietnã]."

Plano econômico
Candidato com posições duras mesmo quando está em comício -defendeu em Iowa, a capital do milho, que não daria subsídios aos fazendeiros locais, e depois disse em Michigan que não é possível recuperar os empregos perdidos na indústria automotiva nos últimos anos, um dos fatores pelos quais foi derrotado por Mitt Romney-, McCain tem conquistado a preferência de um Estado em que a economia é o principal tema de interesse dos eleitores: 31%, à frente de imigração (23%), de acordo o instituto Rasmussen.
Ontem o senador defendeu em Columbia um plano de longa duração com estímulos à economia, para preparar os EUA para "os tempos difíceis à frente", em referência à possível entrada do país em uma recessão desencadeada, entre outros fatores, pela crise imobiliária. Para estimular a produção, McCain propõe a redução de taxas corporativas, investimento em maquinários e tecnologia e facilitação de crédito.
Dias atrás, ao criticar a proposta do rival Mitt Romney, de que é preciso concentrar investimentos em curto prazo para acalmar rapidamente a economia do país, McCain pediu cautela e citou as propostas democratas, de maior intervenção.
"Vocês vão ouvir dos democratas: "Vamos bombear US$ 70 bilhões, vamos bombear US$ 80 bilhões, façamos isso, façamos aquilo". Meus amigos, lembrem-se de quem vai pagar isso. Isso [o dinheiro] não vem de uma impressora, isso vem dos nossos bolsos", disse.
A ascensão homogênea do republicano -que ganhou uma de três votações, a de New Hampshire, até agora- chama a atenção da coordenação de campanhas dos partidos concorrentes. "McCain tem conseguido o voto dos independentes, mas acho que os independentes da Carolina do Sul virão para o nosso lado", diz Josh Ernest, 32, porta-voz do comitê de Obama em Columbia.
Há, contudo, vários desafios até amanhã. Mike Huckabee, o segundo nas pesquisas, é o predileto dos evangélicos, e isso pode fazer muita diferença em um Estado onde a direita religiosa costuma decidir eleições.


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