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ARTIGO
Cuba vota sem saber se muda
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Neste domingo os cubanos
elegerão os 614 membros da
Assembléia Nacional, todos referendados pelo Partido Comunista. Fidel Castro é um deles, o
que significa que continuará
tendo um papel institucional.
"Morrerá com botas calçadas", assegurou um jovem
membro dos Comitês de Defesa da Revolução, citado pelo "El
País". Com isso ele manifestou
convicção de que nada muda.
Os novos parlamentares designarão o novo presidente dos
conselhos de Estado e de ministros. Sobre essa escolha recaem atenções, já que ela define a forma de continuidade de
Fidel no poder -se ocorrer.
Uma primeira etapa já se
cumpriu -a seleção dos 15.236
membros das 169 Assembléias
Municipais do Poder Popular.
Não necessariamente militantes do Partido Comunista, os
candidatos se apresentam, com
suas biografias, são propostos
em reuniões de bairros e são
designados por meio de mãos
levantadas. Nunca obteve assento alguém que pudesse ser
considerado de oposição.
Agora é a vez de chegar ao topo, de onde saem ordens e decisões que configuram o regime
cubano. Fidel é a cabeça dessa
engrenagem desde 1976, quando terminou sua montagem.
Comandante é desde a derrota
da ditadura de Batista.
Haverá afinal alguma alteração? Fidel é também primeiro-secretário do Partido Comunista, e só um Congresso, algo
que não acontece há dez anos,
pode substitui-lo. Não há dúvida de que Fidel continuará tendo, no mínimo, a sua cadeira de
deputado. Mas o "Monde" colocou algumas perguntas aparentemente em circulação. Será
mantido o chamado "voto único", em favor dos 614, inclusive
Fidel, agrupados num só bloco?
Quantos se decidirão pela dissidência, sob a forma de abstenção ? Isso acontecerá?
O "voto único" é apresentado
como "demonstração de unidade patriótica e de forte apoio ao
socialismo", em face de ataques
dos EUA. Só a existência de especulações a respeito já é fato
contundente que se encaixa
num contexto mais amplo.
O próprio Raúl Castro, substituto interino de Fidel, fala de
"excesso de proibições e de medidas legais que fazem mais mal
do que bem". Diz-se que 5 milhões de cubanos participaram
de 215 mil reuniões e fizeram
mais de 1 milhão de propostas
relacionadas com o discurso no
qual Raúl falou da "necessidade
de mudanças estruturais" que
não se materializaram. Expectativas caíram num vazio, definido por um acadêmico cubano, membro do PC, como a "ilusão das mudanças". Não se sabe
que alcance teriam (ou terão)
essas mudanças, "mas é o que
todos querem".
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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