São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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ARTIGO

Cuba vota sem saber se muda

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Neste domingo os cubanos elegerão os 614 membros da Assembléia Nacional, todos referendados pelo Partido Comunista. Fidel Castro é um deles, o que significa que continuará tendo um papel institucional.
"Morrerá com botas calçadas", assegurou um jovem membro dos Comitês de Defesa da Revolução, citado pelo "El País". Com isso ele manifestou convicção de que nada muda. Os novos parlamentares designarão o novo presidente dos conselhos de Estado e de ministros. Sobre essa escolha recaem atenções, já que ela define a forma de continuidade de Fidel no poder -se ocorrer.
Uma primeira etapa já se cumpriu -a seleção dos 15.236 membros das 169 Assembléias Municipais do Poder Popular. Não necessariamente militantes do Partido Comunista, os candidatos se apresentam, com suas biografias, são propostos em reuniões de bairros e são designados por meio de mãos levantadas. Nunca obteve assento alguém que pudesse ser considerado de oposição.
Agora é a vez de chegar ao topo, de onde saem ordens e decisões que configuram o regime cubano. Fidel é a cabeça dessa engrenagem desde 1976, quando terminou sua montagem. Comandante é desde a derrota da ditadura de Batista.
Haverá afinal alguma alteração? Fidel é também primeiro-secretário do Partido Comunista, e só um Congresso, algo que não acontece há dez anos, pode substitui-lo. Não há dúvida de que Fidel continuará tendo, no mínimo, a sua cadeira de deputado. Mas o "Monde" colocou algumas perguntas aparentemente em circulação. Será mantido o chamado "voto único", em favor dos 614, inclusive Fidel, agrupados num só bloco? Quantos se decidirão pela dissidência, sob a forma de abstenção ? Isso acontecerá?
O "voto único" é apresentado como "demonstração de unidade patriótica e de forte apoio ao socialismo", em face de ataques dos EUA. Só a existência de especulações a respeito já é fato contundente que se encaixa num contexto mais amplo.
O próprio Raúl Castro, substituto interino de Fidel, fala de "excesso de proibições e de medidas legais que fazem mais mal do que bem". Diz-se que 5 milhões de cubanos participaram de 215 mil reuniões e fizeram mais de 1 milhão de propostas relacionadas com o discurso no qual Raúl falou da "necessidade de mudanças estruturais" que não se materializaram. Expectativas caíram num vazio, definido por um acadêmico cubano, membro do PC, como a "ilusão das mudanças". Não se sabe que alcance teriam (ou terão) essas mudanças, "mas é o que todos querem".


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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