São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Israel declara trégua em Gaza; Hamas rejeita

Plano estabelece cessar-fogo unilateral; tropas israelenses ficarão no território palestino por tempo indeterminado

Após anúncio, Hamas diz que não aceitará a presença de "um único soldado, não importa o preço que custe" e que manterá resistência


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV

Israel anunciou ontem um cessar-fogo unilateral após 22 dias de ofensiva contra o grupo extremista Hamas, mas decidiu manter suas tropas na faixa de Gaza por tempo indeterminado, sob a ameaça de retomar os ataques caso volte a ser atingido por foguetes.
O cessar-fogo foi rejeitado por representantes do Hamas no exílio e em Gaza, que prometeram continuar lutando até que suas condições sejam atendidas, entre elas a retirada do Exército israelense e a abertura das passagens da fronteira.
Embora em Israel a decisão tenha sido anunciada como unilateral, ela é forrada de multilateralismo. O Egito, que negociou o cessar-fogo, sediará hoje uma reunião para demonstrar o apoio da comunidade internacional ao acordo.
Estarão no balneário de Sharm el Sheikh os líderes de França, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Itália, Turquia e República Tcheca -atual presidente da UE- assim como o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Após reunir seu gabinete em Tel Aviv, o premiê israelense, Ehud Olmert, anunciou que Israel suspenderia os ataques às 2h (22h de sábado em Brasília), ao fim de três semanas de uma ofensiva que deixou mais de 1.200 mortos em Gaza. Treze israelenses foram mortos, entre eles dez soldados.
Pouco antes, Olmert havia comunicado a aprovação do acordo em telefonema ao presidente do Egito, Hosni Mubarak. O premiê de Israel disse que há um "entendimento com o governo egípcio para impedir a entrada de armas em Gaza". O bloqueio da fronteira entre Gaza e o Egito ao tráfico de armas foi um dos principais motivos de Israel para ir à guerra.
O outro foi o disparo de foguetes contra o seu território. "Se o Hamas parar completamente de disparar foguetes contra Israel, Israel irá considerar a retirada do Exército da faixa de Gaza", disse Olmert. "Se isso não ocorrer, o Exército continuará a agir para proteger seus cidadãos".
Analistas israelenses calculam que o governo não pretende manter o Exército na faixa de Gaza por mais que alguns dias, mas isso dependerá da reação do Hamas. Ontem, logo após o anúncio israelense, Fawzi Barhoum, porta-voz do grupo islâmico em Gaza, declarou que um cessar-fogo unilateral não era suficiente.
"O ocupante deve suspender fogo imediatamente, retirar-se de nosso território e levantar seu bloqueio, abrindo todas as passagens de fronteira, Não aceitaremos um único soldado em nossa terra, não importa o preço que isso custe", disse.
Tanto Olmert como o ministro da Defesa, Ehud Barak, disseram que os objetivos da ofensiva foram plenamente alcançados. "Posso dizer de forma absoluta: alcançamos os objetivos", disse Barak.
A poucos dias de deixar o poder, Olmert fez um discurso em claro tom de despedida. Agradeceu à comunidade internacional, aos rivais de gabinete, Barak e a chanceler, Tzipi Livni, e lamentou as vítimas civis da ofensiva. Disse ainda que crê na solução dos dois Estados e que vê Gaza como parte do futuro Estado palestino.
"Nossa guerra não é contra a população de Gaza", disse Olmert, deixando claro que Israel não pretende reocupar Gaza. "Saímos de Gaza em 2005 com a intenção de jamais voltar", disse, em referência à retirada unilateral de soldados e colonos em 2005, comandada pelo premiê Ariel Sharon.
Segundo o jornal "Haaretz", a proposta egípcia tem três fases. Na primeira, israelenses e palestinos concordam com um cessar-fogo imediato, por tempo limitado, e a fronteira é reaberta para ajuda humanitária. Na segunda, é negociado um mecanismo de controle da fronteira e o fim do embargo a Gaza. E na terceira, Fatah e Hamas retomam o diálogo.


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