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Israel declara trégua em Gaza; Hamas rejeita
Plano estabelece cessar-fogo unilateral; tropas israelenses ficarão no território palestino por tempo indeterminado
Após anúncio, Hamas diz que não aceitará a presença de "um único soldado, não importa o preço que custe" e que manterá resistência
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV
Israel anunciou ontem um
cessar-fogo unilateral após 22
dias de ofensiva contra o grupo
extremista Hamas, mas decidiu
manter suas tropas na faixa de
Gaza por tempo indeterminado, sob a ameaça de retomar os
ataques caso volte a ser atingido por foguetes.
O cessar-fogo foi rejeitado
por representantes do Hamas
no exílio e em Gaza, que prometeram continuar lutando até
que suas condições sejam atendidas, entre elas a retirada do
Exército israelense e a abertura
das passagens da fronteira.
Embora em Israel a decisão
tenha sido anunciada como
unilateral, ela é forrada de multilateralismo. O Egito, que negociou o cessar-fogo, sediará
hoje uma reunião para demonstrar o apoio da comunidade internacional ao acordo.
Estarão no balneário de
Sharm el Sheikh os líderes de
França, Alemanha, Espanha,
Reino Unido, Itália, Turquia e
República Tcheca -atual presidente da UE- assim como o
presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Após reunir seu gabinete em
Tel Aviv, o premiê israelense,
Ehud Olmert, anunciou que Israel suspenderia os ataques às
2h (22h de sábado em Brasília),
ao fim de três semanas de uma
ofensiva que deixou mais de
1.200 mortos em Gaza. Treze
israelenses foram mortos, entre eles dez soldados.
Pouco antes, Olmert havia
comunicado a aprovação do
acordo em telefonema ao presidente do Egito, Hosni Mubarak. O premiê de Israel disse
que há um "entendimento com
o governo egípcio para impedir
a entrada de armas em Gaza". O
bloqueio da fronteira entre Gaza e o Egito ao tráfico de armas
foi um dos principais motivos
de Israel para ir à guerra.
O outro foi o disparo de foguetes contra o seu território.
"Se o Hamas parar completamente de disparar foguetes
contra Israel, Israel irá considerar a retirada do Exército da
faixa de Gaza", disse Olmert.
"Se isso não ocorrer, o Exército
continuará a agir para proteger
seus cidadãos".
Analistas israelenses calculam que o governo não pretende manter o Exército na faixa
de Gaza por mais que alguns
dias, mas isso dependerá da
reação do Hamas. Ontem, logo
após o anúncio israelense,
Fawzi Barhoum, porta-voz do
grupo islâmico em Gaza, declarou que um cessar-fogo unilateral não era suficiente.
"O ocupante deve suspender
fogo imediatamente, retirar-se
de nosso território e levantar
seu bloqueio, abrindo todas as
passagens de fronteira, Não
aceitaremos um único soldado
em nossa terra, não importa o
preço que isso custe", disse.
Tanto Olmert como o ministro da Defesa, Ehud Barak, disseram que os objetivos da ofensiva foram plenamente alcançados. "Posso dizer de forma
absoluta: alcançamos os objetivos", disse Barak.
A poucos dias de deixar o poder, Olmert fez um discurso em
claro tom de despedida. Agradeceu à comunidade internacional, aos rivais de gabinete,
Barak e a chanceler, Tzipi Livni, e lamentou as vítimas civis
da ofensiva. Disse ainda que crê
na solução dos dois Estados e
que vê Gaza como parte do futuro Estado palestino.
"Nossa guerra não é contra a
população de Gaza", disse Olmert, deixando claro que Israel
não pretende reocupar Gaza.
"Saímos de Gaza em 2005 com
a intenção de jamais voltar",
disse, em referência à retirada
unilateral de soldados e colonos em 2005, comandada pelo
premiê Ariel Sharon.
Segundo o jornal "Haaretz",
a proposta egípcia tem três fases. Na primeira, israelenses e
palestinos concordam com um
cessar-fogo imediato, por tempo limitado, e a fronteira é reaberta para ajuda humanitária.
Na segunda, é negociado um
mecanismo de controle da
fronteira e o fim do embargo a
Gaza. E na terceira, Fatah e Hamas retomam o diálogo.
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