São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2011 |
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CRÍTICA Livro promove discussão sobre até onde o fotojornalismo pode chocar os leitores CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA DE SÃO PAULO Jornais e revistas provocam periodicamente polêmicas devido a certas fotografias chocantes que publicam. Uma delas ocorreu no ano passado, quando a "Time" deu na capa imagem de uma afegã de 19 anos que teve o nariz decepado pelo marido. O debate gira sempre em torno do dilema: como estabelecer a fronteira entre morbidez e denúncia, sensacionalismo e dever de informar. A professora de jornalismo Susie Linfield, da New York University, acaba de lançar um livro, "The Cruel Radiance: Photography and Political Violence" (Cruel Esplendor- Fotografia e Violência Política), que aprofunda o exame do assunto e trata dele de maneira mais genérica. Linfield teve sua atenção voltada para o tema quando era criança, ao achar um livro na biblioteca do pai com documentação do extermínio de judeus poloneses. Depois disso, analisou e escreveu sobre fotorreportagens de guerras em Serra Leoa, Libéria, Congo, Somália, Ruanda, Uganda, Bósnia, Tchetchênia e outros lugares, depois da Guerra Fria. Provas de que não havia muita base para as esperanças de que a queda do Muro de Berlim poderia marcar o início de uma era de paz. O livro parte de uma tese e de uma posição contra duas outras, muito bem estabelecidas nas ciências sociais. A tese é de que a foto é um instrumento único para causar empatia em relação a vítimas de crueldades extremas, superior a qualquer forma de arte ou relato jornalístico. A oposição é à teoria crítica da fotografia de Susan Sontag (principalmente às posições de seus herdeiros pós-modernistas) e à visão progressista da história. "Eu acredito que precisamos aprender com as fotos e responder a elas, em vez de simplesmente desconstruí-las", afirma Linfield, a respeito de Sontag. Sobre a crença de que o arco da história se curva na direção da justiça e da liberdade, ela argumenta: "Eu aprecio essa tradição, mas cheguei à conclusão de que é a experiência de degradação, miséria, violência e derrota que define a vida de milhões e, em grande parte, define a história". Segundo a autora, não é possível "falar, pelo menos não de modo realista e significativo, em construir um mundo de democracia, justiça e direitos humanos sem antes ter compreendido a experiência de sua negação". Para obter essa compreensão, é preciso empatia e, para chegar a esta, a fotografia é o caminho mais curto e eficaz. Para concretizar suas ideias, Linfield examina quatro situações históricas dos últimos 70 anos (o Holocausto, a Revolução Cultural Chinesa, as crianças guerreiras na África e a prisão de Abu Ghraib e ações da jihad) e três fotógrafos célebres (Robert Cappa, James Nachtwey e Gilles Peress). Isso embora ela também se refira a outros episódios e jornalistas (inclusive, e extensivamente, o brasileiro Sebastião Salgado). Trata-se de obra importante para estudiosos, praticantes e apreciadores da foto documental. THE CRUEL RADIANCE: PHOTOGRAPHY AND POLITICAL VIOLENCE AUTORA Susie Linfield EDITORA University of Chicago Press QUANTO cerca de R$ 35, mais frete, pela Amazon (344 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Wikileaks os papéis brasileiros: Lula e Bush trataram de aviões para Chávez Próximo Texto: Cruz Vermelha faz resgate de brasileiros presos no sul chileno Índice | Comunicar Erros |
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