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Máquina estatal e campanha mais clara ajudaram Chávez
Institutos veem pressão do governo sobre servidores, mas também crença em lisura do pleito
Extensão da prerrogativa
da reeleição sem limites a prefeitos e governadores também pesou no "sim"
e na baixa abstenção
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A inclusão de governadores e
prefeitos na emenda que permite a reeleição ilimitada, a
confiança no sistema eleitoral,
uma mensagem mais clara da
propaganda governista e a
pressão presidencial sobre funcionários públicos e beneficiários de programa sociais explicam a vitória do presidente Hugo Chávez e o alto comparecimento no referendo de domingo, segundo institutos de pesquisa que previram o resultado.
Ontem, com 99,75% das urnas apuradas, o "sim" tinha
54,86% dos votos, contra
45,13%. O nível de abstenção
estava em 30,08%, um índice
considerado baixo para a Venezuela, onde o voto é facultativo.
Tanto o instituto Datanálisis,
crítico ao governo, quanto o
Consultores 30.11, mais próximo do chavismo, acertaram as
porcentagens do referendo que
abre caminho para que Chávez,
há dez anos no poder, se candidate à Presidência outra vez em
2012. Mas eles divergem sobre
a motivação dos eleitores.
Para German Campos, do
Consultores 30.11, a confiança
no sistema eleitoral e uma
mensagem mais direta da campanha chavista explicam a
maior participação em relação
ao referendo de 2007, quando a
abstenção foi de 44,5%, e Chávez teve cerca de 1,9 milhão de
votos a menos.
"Em 2007, o tema da reeleição estava muito mais diluído,
havia 69 mudanças constitucionais complexas. A emenda
[agora] aprovada deixava claro
que o que estava em jogo era a
possibilidade de Chávez se candidatar em 2012. Isso deu um
respaldo mais direto a ele do
que na época da reforma", disse
Campos à Folha.
Máquina
Já Luis Vicente León, do Datanálisis, enfatizou o amplo esforço de mobilização por parte
dos governos chavistas, a coerção da máquina estatal e, do lado do voto pelo "não", o aumento da confiança no sistema eleitoral após a vitória de 2007.
"Obviamente, o governo foi
mais eficiente na mobilização
de pessoas. Havia uma pressão
direta do presidente sobre os
funcionários públicos e os beneficiados pelas missões [programas sociais], de quem checavam abertamente os locais
onde votariam com a lista do
Conselho Nacional Eleitoral
(CNE). O governo foi muito
mais intenso, a campanha foi
acachapante", disse León.
Para o diretor do Datanálisis,
outra diferença crucial em relação a 2007 foi a inclusão de prefeitos e governadores como beneficiários da reeleição ilimitada. Na primeira tentativa, Chávez se opôs a estender o mecanismo aos Executivos regionais
"sob o risco de criar caudilhos".
"Os governadores e prefeitos
estavam mais motivados para
ajudar na mobilização. Em
2007, estavam bastante apáticos porque não lhes interessava
a proposta", disse León.
Campos acha que os governadores e prefeitos "tiveram
um papel", mas muito menor
do que a mobilização em torno
de Chávez. "Esse era o tema."
O analista do Consultores
30.11 também discorda do peso
da máquina estatal. Para ele, a
oposição foi mais beneficiada
porque teve o apoio explícito de
meios de comunicação privados. "A oposição foi favorecida
por um desequilíbrio informativo. O Estado sempre dispõe
de recursos, isso é certo, mas,
no caso venezuelano, a oposição tem os meios privados, o
que não é pouco."
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