São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Máquina estatal e campanha mais clara ajudaram Chávez

Institutos veem pressão do governo sobre servidores, mas também crença em lisura do pleito

Extensão da prerrogativa da reeleição sem limites a prefeitos e governadores também pesou no "sim" e na baixa abstenção

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A inclusão de governadores e prefeitos na emenda que permite a reeleição ilimitada, a confiança no sistema eleitoral, uma mensagem mais clara da propaganda governista e a pressão presidencial sobre funcionários públicos e beneficiários de programa sociais explicam a vitória do presidente Hugo Chávez e o alto comparecimento no referendo de domingo, segundo institutos de pesquisa que previram o resultado.
Ontem, com 99,75% das urnas apuradas, o "sim" tinha 54,86% dos votos, contra 45,13%. O nível de abstenção estava em 30,08%, um índice considerado baixo para a Venezuela, onde o voto é facultativo.
Tanto o instituto Datanálisis, crítico ao governo, quanto o Consultores 30.11, mais próximo do chavismo, acertaram as porcentagens do referendo que abre caminho para que Chávez, há dez anos no poder, se candidate à Presidência outra vez em 2012. Mas eles divergem sobre a motivação dos eleitores.
Para German Campos, do Consultores 30.11, a confiança no sistema eleitoral e uma mensagem mais direta da campanha chavista explicam a maior participação em relação ao referendo de 2007, quando a abstenção foi de 44,5%, e Chávez teve cerca de 1,9 milhão de votos a menos.
"Em 2007, o tema da reeleição estava muito mais diluído, havia 69 mudanças constitucionais complexas. A emenda [agora] aprovada deixava claro que o que estava em jogo era a possibilidade de Chávez se candidatar em 2012. Isso deu um respaldo mais direto a ele do que na época da reforma", disse Campos à Folha.

Máquina
Já Luis Vicente León, do Datanálisis, enfatizou o amplo esforço de mobilização por parte dos governos chavistas, a coerção da máquina estatal e, do lado do voto pelo "não", o aumento da confiança no sistema eleitoral após a vitória de 2007.
"Obviamente, o governo foi mais eficiente na mobilização de pessoas. Havia uma pressão direta do presidente sobre os funcionários públicos e os beneficiados pelas missões [programas sociais], de quem checavam abertamente os locais onde votariam com a lista do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O governo foi muito mais intenso, a campanha foi acachapante", disse León.
Para o diretor do Datanálisis, outra diferença crucial em relação a 2007 foi a inclusão de prefeitos e governadores como beneficiários da reeleição ilimitada. Na primeira tentativa, Chávez se opôs a estender o mecanismo aos Executivos regionais "sob o risco de criar caudilhos".
"Os governadores e prefeitos estavam mais motivados para ajudar na mobilização. Em 2007, estavam bastante apáticos porque não lhes interessava a proposta", disse León.
Campos acha que os governadores e prefeitos "tiveram um papel", mas muito menor do que a mobilização em torno de Chávez. "Esse era o tema."
O analista do Consultores 30.11 também discorda do peso da máquina estatal. Para ele, a oposição foi mais beneficiada porque teve o apoio explícito de meios de comunicação privados. "A oposição foi favorecida por um desequilíbrio informativo. O Estado sempre dispõe de recursos, isso é certo, mas, no caso venezuelano, a oposição tem os meios privados, o que não é pouco."


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