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ANÁLISE
Mundo é mais complexo que as regras
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Apenas 4 dos quase 200 países do mundo já legalizaram a
eutanásia: Holanda, Bélgica,
Luxemburgo e Suíça -além
dos Estados americanos de
Washington e Oregon. Em todas as outras nações, ajudar um
paciente terminal a morrer é
considerado crime.
O mundo, entretanto, é mais
complexo do que querem os códigos penais e regulamentos de
ética médica. Apesar do veto
ubíquo, decisões de abreviar ou
ao menos de não prolongar a vida de pacientes são tomadas todos os dias em todas as UTIs e
salas de emergência do planeta.
E é preciso que seja assim, ou o
sistema não funcionaria.
O tipo mais comum é a ortotanásia, no qual a equipe médica, dependendo do prognóstico
e/ou dos desejos do paciente,
deixa de executar os protocolos
de reanimação na eventualidade de uma parada cardíaca. No
Brasil, tais pacientes são informalmente referidos como SPPs
(se parar, parou).
Em tese, um médico que aplica a ortotanásia pode virar réu
por omissão de socorro. Deixar
de fazê-lo, entretanto, tenderia
a perenizar nos sempre escassos leitos de UTI doentes crônicos e sem perspectivas de recuperação, privando de cuidados
intensivos pacientes que poderiam deles beneficiar-se muito
mais. Aqui, renunciar a decidir,
como a lei parece exigir, já significa tomar uma decisão -e
justamente a menos racional.
Num degrau acima estão os
cuidados paliativos. Muitas vezes, a fim de evitar sofrimento,
eleva-se o uso de sedativos
opioides, que podem ter o efeito colateral de provocar a morte por parada respiratória.
Aqui, os próprios limites entre a ortotanásia e a eutanásia
ativa se tornam ambíguos. Qual
a alternativa? Deixar um doente terminal padecer de dores
excruciantes parece uma saída
menos moral do que correr o
risco de matá-lo numa ação que
visava evitar um mal maior.
Será que a diferença entre o
travesseiro utilizado por Gosling e a dose mais elevada de sedativos é tão grande assim?
A resposta depende do intérprete. Para os que abraçam
uma ética consequencialista,
que olha sobretudo para os resultados, dá no mesmo. Já para
deontologistas, que se fixam
nos princípios, leves ambiguidades fazem toda a diferença.
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