São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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TERROR VERDE

Ações são realizadas por subgrupos independentes, que usam Internet para compartilhar idéias e técnicas

Ideologia é o único elo entre ecoterroristas

Associated Press - 5.jan.2001
Presidente da empresa vítima da ELF observa estragos causados por incêndio na companhia


DA REDAÇÃO

O FBI (a polícia federal dos EUA) e representantes do chamado ecoterror afirmam que a ideologia é o único elo entre os militantes.
Os autores dos crimes podem ser "qualquer um de qualquer comunidade. Pais, professores, voluntários de igrejas, seu vizinho e até seu amado podem estar envolvidos", diz a ELF (sigla, em inglês, para Frente de Libertação da Terra, o principal grupo nos EUA).
Sem lideranças conhecidas, quartéis-generais nem sequer programa de ação fixo, esses ativistas compartilham apenas a percepção de que há uma guerra contra o planeta.
Para eles, o Exército inimigo é formado não só por empresas que desrespeitam a lei.
Os alvos mais comuns da campanha de destruição são madeireiras, construtoras, criadores de animais de peles valiosas, centros de bioengenharia e laboratórios que fazem testes com animais.
Há também vegetarianos que atacam restaurantes e lanchonetes pela comercialização e pelo consumo de carne nesses locais.

Verdadeira violência
A acusação de que os métodos são violentos é rechaçada. "Nos EUA e no resto do mundo, temos de beber água de garrafas plásticas, não podemos respirar ar puro, não temos acesso fácil a alimentos sem pesticidas. Essa é a verdadeira violência", disse à Folha Craig Rosebraugh, porta-voz da ELF. "O objetivo da ELF no curto prazo é causar prejuízos àqueles dedicados ao assassinato da Terra. A idéia é provocar a expulsão do negócio da destruição e criar uma atmosfera de ameaça a todos os envolvidos na agressão ao planeta."
Os ideais se encaixam na definição de terrorismo dada pelo FBI: "Uso ilegal da força ou da violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil ou qualquer segmento aí incluído, por fins políticos ou sociais".
Para Rosebraugh, contudo, o rótulo "ecoterror" é hipócrita. "A ELF nunca feriu pessoas. O FBI (responsável por investigar a ELF), por outro lado, tem uma inquietante ficha corrida."
A adesão de pessoas dispostas à realização de ataques é largamente facilitada pela Internet. Vários desses grupos possuem sites onde exibem seu "currículo" de ações, expõem suas idéias e compartilham técnicas.
A ELF, cujas ofensivas contaram diversas vezes com o apoio de um grupo autodenominado ALF (sigla, em inglês, para Frente de Libertação dos Animais), oferece aos interessados um manual para a realização de incêndios. O "Ponha fogo por aí com a titia Alf", assinado pela "titia", pelo "tio ELF" e pela "gangue antidireitos autorais", mostra como fazer o fogo consumir uma propriedade inteira usando itens bastante prosaicos.
As labaredas que arruinaram casas quase finalizadas em Long Island (Nova York), em dezembro, foram provocadas por velas de aniversário presas a recipientes de plástico cheios de gasolina.

Testes inúteis
A campanha contra as pesquisas com animais na britânica Huntingdon Life Sciences é justificada com argumentos científicos. A Shac (sigla, em inglês, para Impeça a Crueldade da Huntingdon contra os Animais), que diz pretender fechar a empresa somente com protestos pacíficos, afirma que as pesquisas com animais são inúteis e até prejudiciais ao homem. "Além da crueldade, os resultados não são confiáveis", diz Heather James, porta-voz do grupo. "A pesquisa com animais tem matado pessoas em todo o mundo devido à falsa concepção de que medicamentos e vacinas podem atravessar com sucesso a barreira entre as espécies", completa Rosebraugh.
Segundo os ativistas, os animais poderiam ser substituídos por pesquisas in vitro, modelos matemáticos e estudos genéticos, por exemplo.
"É uma ignorância científica", contesta a brasileira Silvana Chiavegatto, neurofarmacologista com pós-doutorado pela Universidade Johns Hopkins, nos EUA, e que realizou estudos sobre agressividade com camundongos. "Testes com animais precisam ser aprovados por um comitê de ética, e substâncias passam por várias fases antes de serem dadas a pacientes. Quanto menos tivermos de usar animais, melhor. Mas não há como abolir os animais da ciência por enquanto."
(RODRIGO PENA MAJELLA)


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