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São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003

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GUERRA IMINENTE

EUA desistem de diplomacia, e Bush dá 48 h para Saddam sair

Oleg Popov/Reuters
Fuzileiros navais americanos, mobilizados para uma possível guerra contra Bagdá, fazem exercício no deserto kuaitiano, em região próxima à fronteira com o Iraque



Bagdá já dissera que ditador não deixaria o Iraque

Presidente americano pedirá US$ 100 bi ao Congresso



FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, estabeleceu ontem um prazo de 48 horas para que Saddam Hussein e seus filhos deixem o Iraque. "A recusa em fazê-lo provocará um conflito militar que terá início no momento que nós escolhermos", afirmou.
Em pronunciamento em Washington às 20h (22h em Brasília), Bush criticou as Nações Unidas e justificou a decisão de declarar guerra contra o Iraque sem o apoio de seus principais aliados.
"O Conselho de Segurança da ONU não cumpriu as suas responsabilidades. Nós vamos cumprir a nossa", disse. "Os EUA têm autoridade para usar a força e preservar a sua segurança nacional. Essa tarefa cabe a mim, como comandante-em-chefe da nação."
Bush usou boa parte do discurso para dirigir-se aos militares iraquianos, a quem fez ameaças caso reajam a um ataque.
"Todos os militares e civis iraquianos devem ouvir com atenção esse aviso: seu destino dependerá de suas ações. Não destruam poços de petróleo, não dêem nenhuma ordem para usar armas de destruição em massa. Crimes de guerra serão punidos e não haverá a chance de dizer: eu apenas estava seguindo ordens", afirmou.
Bush lembrou que tem autorização do Congresso, aprovada no ano passado, para atacar o Iraque e que o fará baseado na resolução 1441 da ONU, de novembro de 2002, que previa o desarmamento completo e imediato do Iraque.
"Ninguém pode dizer hoje que o Iraque se desarmou", afirmou Bush, acrescentando que uma nova resolução não foi colocada em votação porque "membros permanentes do Conselho de Segurança disseram publicamente que a vetariam".
Bush voltou a relacionar o Iraque e Saddam a grupos terroristas e à Al Qaeda e afirmou que o Departamento de Segurança Interna dos EUA "estava tomando as providências necessárias" para proteger o país nos próximos dias.
Antes mesmo de Bush se pronunciar, o Iraque informou que Saddam não deixará o país. O ditador reconheceu ontem que Bagdá "já teve armas de destruição em massa" para se defender de "ameaças como o Irã e Israel", mas que as destruiu.
O pronunciamento de Bush marcou o fracasso da iniciativa diplomática de obter uma ampla coalizão para atacar o Iraque, a exemplo do que ocorreu na Guerra do Golfo, em 1991. Há 11 dias, Bush afirmou que levaria a votação no Conselho de Segurança da ONU uma nova resolução. Bush conta agora com uma guerra rápida, que liquide em dias as defesas de Saddam e, no melhor dos casos, leve suas tropas a Bagdá em menos de uma semana.
No melhor cenário, Bush sairia vingado da guerra e fortalecido perante a comunidade internacional. No pior -o de ter de suportar milhares de baixas em uma guerra de rua em Bagdá-, ficaria ainda mais isolado e sofreria as consequências da opinião pública interna norte-americana.
Cerca de 250 mil soldados norte-americanos e outros 45 mil britânicos já estão na região do golfo Pérsico. O maior contingente está no Kuait, ao sul do Iraque.
Bush deverá pedir ao Congresso até US$ 100 bilhões para financiar a guerra, afirmaram parlamentares e funcionários da Casa Branca.
Ontem, a ONU ordenou a retirada das 156 pessoas da equipe de inspetores de armas. Devem sair também nas próximas horas funcionários das Nações Unidas responsáveis pelo programa de ajuda humanitária ao país -que hoje responde pela alimentação de cerca de 60% dos iraquianos.
Apesar de manter apoio da maioria da população a uma guerra para desarmar Saddam, a aprovação de Bush está em declínio, principalmente pelo fraco desempenho econômico do país.


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