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São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003

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GUERRA IMINENTE

Baixas por "fogo amigo", resistência urbana e reabastecimento de tanques são os problemas projetados pelos militares dos EUA

Ataque deve ser rápido e devastador

DE WASHINGTON

Um ataque rápido, simultâneo e devastador. Intenso a ponto de permitir que as tropas americanas ocupem mais da metade do Iraque em menos de uma semana. Nas primeiras 48 horas da guerra, mais bombas devem cair sobre Bagdá do que em todos os 43 dias da Guerra do Golfo, em 1991.
No caso de um ataque, os EUA apostam tudo na já batizada "operação de choque" para levar a uma rápida rendição os 380 mil homens de Saddam Hussein.
Desta vez, o Iraque será atacado por uma tropa equivalente a um terço da mobilizada há 12 anos. Mais de 225 mil soldados americanos estão na região do Golfo. Apenas no Kuait, vizinho ao sul do Iraque, são 130 mil americanos e 25 mil britânicos.
Outros 90 mil devem seguir para a região após os primeiros ataques a fim de dar suporte à ambiciosa operação que pretende retirar Saddam do poder, prender milhares de militares e evitar que o caos tome conta do Iraque -país de 23 milhões de habitantes com as dimensões dos Estados de São Paulo e Paraná juntos.
A orientação expressa para o uso de uma tropa menor e para que as operações aéreas e terrestres comecem quase simultaneamente partiu do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
A estimativa é que a capital, Bagdá, seja atacada nas primeiras 48 horas por mais de 3.000 mísseis e que tropas americanas cheguem à cidade em uma semana.
O sucesso da missão, comandada pelo general Tommy Franks, dependerá, segundo especialistas militares ouvidos pela Folha, de quatro elementos principais: intensidade do ataque inicial, tecnologia das bombas empregadas, logística de transporte de carga e combustível e das chamadas forças especiais -pequenos grupos de militares que já estão atuando dentro do território iraquiano.
Em 1991, apenas 10% das bombas jogadas sobre o Iraque eram "inteligentes", com tecnologia a laser. Desta vez, 80% serão guiadas por satélite. Mau tempo ou fumaça não devem, em tese, atrapalhar o itinerário até os alvos.
Baterias antiaéreas, centros de comando e comunicação, quartéis da Guarda Republicana e edifícios simbólicos, como o palácio presidencial de Saddam, vão sofrer os primeiros choques.
Os americanos contam com a destruição de tanques e baterias antiaéreas antes mesmo de os radares iraquianos detectarem a presença inimiga. O desafio é também diminuir ao máximo as baixas civis -na Guerra do Golfo, houve 3.500.
Nesta nova guerra, as maiores preocupações dos EUA são:
1) que as forças de Saddam não se rendam e os arrastem para uma batalha de rua em meio aos 5 milhões de habitantes de Bagdá;
2) que Saddam, sem nada mais a perder, use finalmente seu suposto estoque de armas químicas e de destruição em massa;
3) a ocorrência de "fogo amigo" entre os próprio americanos em ataques aéreos e terrestres que pretendem ser "quase simultâneos". Em 1991, 35 americanos, um quarto do total de baixas do país, pereceram em situações de "fogo amigo" no Golfo;
4) e, finalmente, logística: cerca de 500 km separam Bagdá da fronteira do Kuait, onde está estacionada a maior força americana. Os EUA pretendem fazer o caminho com milhares de tanques e caminhões transportando equipamentos e soldados.
A principal preocupação é o abastecimento. Cada tanque consome, em média, 5 litros de combustível por quilômetro. Dezenas de helicópteros Apache adaptados devem trabalhar dia e noite nessa tarefa -em um turno de 12 horas de vôos intensos, cada helicóptero pode carregar até 115 mil litros de combustível.
O maior risco aqui seriam os iraquianos guardarem homens, mísseis e até armas químicas para tentar fechar "as portas de trás" depois que os americanos já estiverem fundo dentro do Iraque. Em um cenário como esse, visto como o pior possível, o risco de "fogo amigo" aumentaria exponencialmente. (FERNANDO CANZIAN)


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