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GUERRA IMINENTE
Baixas por "fogo amigo", resistência urbana e reabastecimento de tanques são os problemas projetados pelos militares dos EUA
Ataque deve ser rápido e devastador
DE WASHINGTON
Um ataque rápido, simultâneo
e devastador. Intenso a ponto de
permitir que as tropas americanas
ocupem mais da metade do Iraque em menos de uma semana.
Nas primeiras 48 horas da guerra,
mais bombas devem cair sobre
Bagdá do que em todos os 43 dias
da Guerra do Golfo, em 1991.
No caso de um ataque, os EUA
apostam tudo na já batizada
"operação de choque" para levar
a uma rápida rendição os 380 mil
homens de Saddam Hussein.
Desta vez, o Iraque será atacado
por uma tropa equivalente a um
terço da mobilizada há 12 anos.
Mais de 225 mil soldados americanos estão na região do Golfo.
Apenas no Kuait, vizinho ao sul
do Iraque, são 130 mil americanos
e 25 mil britânicos.
Outros 90 mil devem seguir para a região após os primeiros ataques a fim de dar suporte à ambiciosa operação que pretende retirar Saddam do poder, prender
milhares de militares e evitar que
o caos tome conta do Iraque
-país de 23 milhões de habitantes com as dimensões dos Estados
de São Paulo e Paraná juntos.
A orientação expressa para o
uso de uma tropa menor e para
que as operações aéreas e terrestres comecem quase simultaneamente partiu do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
A estimativa é que a capital,
Bagdá, seja atacada nas primeiras
48 horas por mais de 3.000 mísseis
e que tropas americanas cheguem
à cidade em uma semana.
O sucesso da missão, comandada pelo general Tommy Franks,
dependerá, segundo especialistas
militares ouvidos pela Folha, de
quatro elementos principais: intensidade do ataque inicial, tecnologia das bombas empregadas, logística de transporte de carga e
combustível e das chamadas forças especiais -pequenos grupos
de militares que já estão atuando
dentro do território iraquiano.
Em 1991, apenas 10% das bombas jogadas sobre o Iraque eram
"inteligentes", com tecnologia a
laser. Desta vez, 80% serão guiadas por satélite. Mau tempo ou fumaça não devem, em tese, atrapalhar o itinerário até os alvos.
Baterias antiaéreas, centros de
comando e comunicação, quartéis da Guarda Republicana e edifícios simbólicos, como o palácio presidencial de Saddam, vão sofrer os primeiros choques.
Os americanos contam com a
destruição de tanques e baterias
antiaéreas antes mesmo de os radares iraquianos detectarem a
presença inimiga. O desafio é
também diminuir ao máximo as
baixas civis -na Guerra do Golfo, houve 3.500.
Nesta nova guerra, as maiores
preocupações dos EUA são:
1) que as forças de Saddam não
se rendam e os arrastem para uma
batalha de rua em meio aos 5 milhões de habitantes de Bagdá;
2) que Saddam, sem nada mais
a perder, use finalmente seu suposto estoque de armas químicas
e de destruição em massa;
3) a ocorrência de "fogo amigo"
entre os próprio americanos em
ataques aéreos e terrestres que
pretendem ser "quase simultâneos". Em 1991, 35 americanos,
um quarto do total de baixas do
país, pereceram em situações de
"fogo amigo" no Golfo;
4) e, finalmente, logística: cerca
de 500 km separam Bagdá da
fronteira do Kuait, onde está estacionada a maior força americana.
Os EUA pretendem fazer o caminho com milhares de tanques e
caminhões transportando equipamentos e soldados.
A principal preocupação é o
abastecimento. Cada tanque consome, em média, 5 litros de combustível por quilômetro. Dezenas
de helicópteros Apache adaptados devem trabalhar dia e noite
nessa tarefa -em um turno de 12
horas de vôos intensos, cada helicóptero pode carregar até 115 mil
litros de combustível.
O maior risco aqui seriam os
iraquianos guardarem homens,
mísseis e até armas químicas para
tentar fechar "as portas de trás"
depois que os americanos já estiverem fundo dentro do Iraque.
Em um cenário como esse, visto
como o pior possível, o risco de
"fogo amigo" aumentaria exponencialmente.
(FERNANDO CANZIAN)
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