São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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BRASILEIROS NA TRAGÉDIA

Homenagem a morto pára cidade no PR

Viúva passa mal no velório de Sérgio Silva

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO TOMÉ (PR)

O corpo do brasileiro Sérgio dos Santos Silva, 28, morto nos atentados de Madri, chegou ontem às 17h a São Tomé, no noroeste do Paraná, onde mora sua família. Ele foi recebido por um cortejo de amigos e familiares que o aguardavam na cidade vizinha de Cianorte. Acompanharam o trajeto 45 carros.
Em São Tomé (536 km de Curitiba), município com 5.045 habitantes, as lojas fecharam as portas antes da passagem do cortejo e muita gente aguardava nas ruas.
Desde a manhã, um alto-falante no alto da igreja anunciava a homenagem. O prefeito Arlei Hernandes de Biazzi (PDT) decretou ponto facultativo hoje e luto oficial por três dias.
O corpo de Silva foi velado na capela do cemitério municipal, onde deve ser enterrado hoje, às 9h. A viúva, Sara Alves da Silva, 21, chorou muito e teve de ser atendida por enfermeiros. Silva deixou um filho, Miquéias, 4.
Muitos moradores da cidade esperaram para acompanhar o velório. As primeiras horas foram reservadas à família e a amigos mais próximos.
José Aparecido Magalhães Corrêa, amigo de Silva que mora em Madri, acompanhou o corpo desde a Espanha. "O processo de reconhecimento [do corpo] foi uma tortura muito grande", disse Corrêa, que deve retornar na segunda-feira à Espanha.
Ele estava em situação irregular no país, mas disse que o governo espanhol permitiu o retorno dele. Além da família, Corrêa tem outros dois irmãos e uma cunhada em Madri.
Segundo ele, a morte de Silva deve antecipar a volta deles ao Brasil. "Muitos brasileiros estão indo embora. No vôo em que vim, havia mais 40 brasileiros retornando", disse Corrêa.
Segundo o prefeito de São Tomé, cerca de 20 pessoas do município estão morando atualmente na Espanha.
A mãe de Corrêa, Maria Alves de Souza Corrêa, disse que seus três filhos foram para Madri na tentativa de guardar dinheiro para comprar uma casa própria. "Minha filha disse que, se tivesse mais 1.000, voltaria agora para o Brasil. O Cido [José Aparecido] disse que precisa trabalhar até o final do ano para conseguir dinheiro para comprar uma casa", disse Maria.
Silva estava em Madri havia cinco meses e trabalhava como mestre-de-obras.
A tia de Silva, Maria Aparecida dos Santos Cordeiro, 41, disse que ele estava recebendo na Espanha o equivalente a R$ 2.700. Antes de viajar, Sérgio trabalhava como operário na empresa Inpal, de produtos químicos a base de mandioca, em São Tomé, onde recebia R$ 350.
Segundo Cordeiro, a família ainda não pensou sobre a indenização anunciada pelo governo europeu para as famílias das vítimas dos atentados.
O prefeito disse que se colocou à disposição da família para intermediar as conversas com a Embaixada da Espanha, mas eles ainda não quiseram tratar do assunto.


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