São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

Próximo Texto | Índice

EUROPA

Entidades estudantis francesas anunciam para hoje "1 milhão" em passeatas contra a legislação do primeiro emprego

Chirac exorta estudantes a negociarem

DA REDAÇÃO

O presidente Jacques Chirac pediu ontem a imediata abertura de negociações entre o governo francês e os sindicatos para conter o movimento de protesto de universitários contra a nova lei sobre o primeiro emprego.
Enquanto isso, grupos estudantis, que na quinta-feira colocaram nas ruas uma multidão de 247 mil a 500 mil manifestantes -segundo estimativas do Ministério do Interior ou das associações de universitários- prometem para hoje reunir "1 milhão" em passeatas por toda a França.
Por mais que anteontem as manifestações tenham sido em geral pacíficas, dois focos de violência eclodiram à noite em Paris, com a quebra de vitrinas e invasão de restaurantes e cafeterias.
A polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d'água. O governo anunciou ontem que 92 policiais e 18 manifestantes saíram feridos. Foram presos 187 manifestantes, dos quais 71 ainda permaneciam sob custódia policial.
O chefe da polícia parisiense afirmou que a violência partiu "de delinqüentes e de militantes anarquistas que só querem atacar os policiais para que as manifestações degenerem".
O jornal "Le Monde" havia noticiado no início da semana que não eram provavelmente estudantes os responsáveis pelo saque e depredação nas dependências da velha Sorbonne, em Paris.
Pesquisa publicada pelo jornal "Le Parisien" indica que 68% dos franceses se opõem à nova legislação, aprovada na semana passada pelo Parlamento, que procura reduzir o desemprego de recém-formados em universidades e no ensino técnico.
Para estimular os empresários, o texto reduz os encargos sociais, o que implica a redução também dos direitos trabalhistas dos contratados. O dispositivo mais controvertido prevê a possibilidade de demissões nos primeiros 24 meses, sem justificativa precisa.
O primeiro-ministro, Dominique de Villepin, está com sua popularidade em queda. O jornal "Libération" disse ontem que sua disposição ao diálogo chega tarde demais. O premiê não admite por enquanto aceitar, sob pressão, o pedido de revogação da nova lei, que deve vigorar em abril.
Seu rival do bloco de centro-direita nas eleições presidenciais de 2007, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, deu à polícia instruções de moderação em caso de repetição, hoje, dos conflitos ocorridos na quinta.
Ele declarou que os distúrbios foram obras de "arruaceiros que estavam procurando briga". Seus assessores disseram saber que não era de estudantes um grupo que, depois de gerar confusão, tentou se apoderar do conteúdo da vitrina de uma joalheria.
O apelo ao diálogo de Chirac na direção dos sindicatos não surtirá necessariamente efeitos. Os estudantes não têm obedecido a nenhum comando institucional. Dois sindicatos estudantis, ligados aos socialistas e à esquerda trotskista, têm liderança limitada.
Tanto os que se opõem à nova lei quanto aqueles que não querem que as greves prejudiquem os exames finais de junho têm se articulado sobretudo pela internet.
Ontem, sexta, protestos ocorreram dentro de dois terços das 84 universidades públicas francesas. O país praticamente não tem instituições privadas. Os reitores registram um ligeiro recuo do movimento. Não há greve geral. Em uma parcela das universidades, ao menos 30, as aulas prosseguem normalmente.


Com agências internacionais

Próximo Texto: Subúrbios de Paris se mantêm alheios
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.