|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Hamas disputa espaço em Gaza com Arafat
DO "LE MONDE", EM JERUSALÉM
Antes mesmo do encontro, em
Washington, entre o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon,
e presidente americano, George
W. Bush, uma operação já estava
desencadeada em Gaza com vistas ao que ocorreria após desmantelamento dos assentamentos judaicos daquele território.
A Autoridade Nacional Palestina, diante do fato consumado, demorou para se convencer de que
Israel pretendia se retirar.
Com isso, os palestinos procuram agora tirar as conseqüências
políticas que validam a posição de
princípio do Hamas. Depois de
sua criação, em 1987, o movimento radical islâmico se recusa a negociar com Israel. Fortalecido pela reputação de seus ativistas, responsáveis pela maior parte dos
atentados perpetrados em Israel,
o movimento não quer ser alijado
de um processo que considera como uma vitória sua.
Pouco antes de seu assassinato
pelo Exército israelense, em 22 de
março, o xeque Ahmed Yassin
disse que seu movimento assumiria todas as eventuais responsabilidades depois que os militares israelenses deixassem Gaza.
A morte de Yassin não mudou a
disposição do Hamas, que se considera proprietário da região.
Consciente da correlação de forças que lhe é menos favorável que
no passado, o chefe da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, disse
desejar a integração do Hamas
nas instituições palestinas. Mas
até agora o movimento islâmico
se recusa a integrar a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que Arafat controla por
intermédio do Fatah, a facção
mais importante da organização.
O Hamas se recusou a participar da Autoridade Palestina ou
das eleições gerais de 1996.
O novo quadro com o plano de
retirada de Israel, caso ele realmente se efetive, cria uma situação nova. Essa perspectiva provocou imediatamente vivas críticas
americanas. "Nós qualificamos o
Hamas de organização terrorista", disse a 6 de abril um porta-voz do Departamento de Estado.
Um dos principais negociadores
palestinos, Saeb Erekat, rejeitou
as críticas e disse que "o diálogo
interpalestino deve levar em conta os interesses nacionais" e que se
trata de "um assunto interno aos
palestinos".
Para Arafat, no entanto, a integração do Hamas não é sinônimo
de divisão de responsabilidades.
Ou, conforme indicou Erekat, "o
pluralismo político não significa
pluralismo de autoridade".
O ministro do Exterior palestino, Nabil Shaath, que deve encontrar em Washington altos responsáveis americanos, disse por sua
vez que a integração do Hamas
implicaria a observação de um
cessar-fogo, tão logo ocorra a retirada israelense.
"As forças de segurança palestinas punirão aqueles que violarem
o cessar-fogo, sem que para tanto
precisemos desencadear uma
guerra total contra os extremistas", afirmou Shaath.
Mas o Hamas rejeitou o cessar-fogo em Gaza e na Cisjordânia.
Apesar da abertura de um "diálogo nacional" em Gaza, entre as diferentes facções armadas e a Autoridade Palestina, um acordo
ainda parece distante.
É verdade que o Hamas deu garantias de que não estava interessado em assumir o controle da
faixa de Gaza, uma perspectiva
que provocou alívio entre israelenses e americanos.
Além de não dispor dos meios,
as dificuldades a serem encontradas não fazem parte de sua vocação enquanto organização.
Mais do que se deixar fundir nas
instituições existentes, o Hamas,
segundo movimento mais importante entre os palestinos depois
do Fatah, quer que novas estruturas sejam criadas. Perspectiva
com a qual Arafat, que não quer
dividir poder, não concorda.
Texto Anterior: Oriente Médio: Ataque de Israel mata novo líder do Hamas Próximo Texto: Rantisi assumiu liderança há três semanas Índice
|