São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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ANÁLISE

Hamas disputa espaço em Gaza com Arafat

DO "LE MONDE", EM JERUSALÉM

Antes mesmo do encontro, em Washington, entre o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e presidente americano, George W. Bush, uma operação já estava desencadeada em Gaza com vistas ao que ocorreria após desmantelamento dos assentamentos judaicos daquele território.
A Autoridade Nacional Palestina, diante do fato consumado, demorou para se convencer de que Israel pretendia se retirar.
Com isso, os palestinos procuram agora tirar as conseqüências políticas que validam a posição de princípio do Hamas. Depois de sua criação, em 1987, o movimento radical islâmico se recusa a negociar com Israel. Fortalecido pela reputação de seus ativistas, responsáveis pela maior parte dos atentados perpetrados em Israel, o movimento não quer ser alijado de um processo que considera como uma vitória sua.
Pouco antes de seu assassinato pelo Exército israelense, em 22 de março, o xeque Ahmed Yassin disse que seu movimento assumiria todas as eventuais responsabilidades depois que os militares israelenses deixassem Gaza.
A morte de Yassin não mudou a disposição do Hamas, que se considera proprietário da região. Consciente da correlação de forças que lhe é menos favorável que no passado, o chefe da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, disse desejar a integração do Hamas nas instituições palestinas. Mas até agora o movimento islâmico se recusa a integrar a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que Arafat controla por intermédio do Fatah, a facção mais importante da organização.
O Hamas se recusou a participar da Autoridade Palestina ou das eleições gerais de 1996.
O novo quadro com o plano de retirada de Israel, caso ele realmente se efetive, cria uma situação nova. Essa perspectiva provocou imediatamente vivas críticas americanas. "Nós qualificamos o Hamas de organização terrorista", disse a 6 de abril um porta-voz do Departamento de Estado. Um dos principais negociadores palestinos, Saeb Erekat, rejeitou as críticas e disse que "o diálogo interpalestino deve levar em conta os interesses nacionais" e que se trata de "um assunto interno aos palestinos".
Para Arafat, no entanto, a integração do Hamas não é sinônimo de divisão de responsabilidades. Ou, conforme indicou Erekat, "o pluralismo político não significa pluralismo de autoridade".
O ministro do Exterior palestino, Nabil Shaath, que deve encontrar em Washington altos responsáveis americanos, disse por sua vez que a integração do Hamas implicaria a observação de um cessar-fogo, tão logo ocorra a retirada israelense.
"As forças de segurança palestinas punirão aqueles que violarem o cessar-fogo, sem que para tanto precisemos desencadear uma guerra total contra os extremistas", afirmou Shaath.
Mas o Hamas rejeitou o cessar-fogo em Gaza e na Cisjordânia. Apesar da abertura de um "diálogo nacional" em Gaza, entre as diferentes facções armadas e a Autoridade Palestina, um acordo ainda parece distante.
É verdade que o Hamas deu garantias de que não estava interessado em assumir o controle da faixa de Gaza, uma perspectiva que provocou alívio entre israelenses e americanos.
Além de não dispor dos meios, as dificuldades a serem encontradas não fazem parte de sua vocação enquanto organização.
Mais do que se deixar fundir nas instituições existentes, o Hamas, segundo movimento mais importante entre os palestinos depois do Fatah, quer que novas estruturas sejam criadas. Perspectiva com a qual Arafat, que não quer dividir poder, não concorda.


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