São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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Ritual até o "Habemus Papam" é longo

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

A única coisa que falta definir para a eleição do papa é o espaço em branco nas cédulas, deixado após a frase em latim "Eligo in Summum Pontificem", cuja tradução é "elejo sumo pontífice...".
No mais, está pronto o extenso ritual, carregado da pompa de que só são capazes instituições milenares como a igreja. É assim, em resumo:

Jantar dominical - Pela primeira vez, todos os 115 cardeais jantaram ontem no mesmo local, a Casa de Santa Marta, espécie de hotel, em que chegaram pela tarde.

Missa das 10h - Hoje, às 10h (5h em Brasília), é celebrada a missa "pro eligendo Papa". Será celebrada pelo decano, Joseph Ratzinger. Será na basílica de São Pedro, aberta a todos os fiéis.

Almoço e descanso - Tudo na Santa Marta é transformado em "ambiente de conclave": valem as mesmas regras de sigilo estabelecidas para a capela Sistina, o local da eleição.

Procissão - Às 16h30 (11h30 em Brasília), começa a procissão rumo à capela, ao canto "Veni Creator Spiritus". É um hino sacro dos tempos de Carlos Magno. Diz: "Ilumina nossos sentidos/ infunda fervor nos nossos corações/ revigore a alma/ nos nossos corpos débeis".

Juramento - Na capela, há a convocação, ainda por Ratzinger, para que cada cardeal jure obedecer as normas estabelecidas para a sucessão papal. Cada cardeal, mão sobre o Evangelho, dirá: "Eu, prometo, comprometo-me e juro. Assim me ajudem Deus e este santo Evangelho."

Última reflexão - Terminado o juramento, o mestre-de-cerimônias vaticanas, monsenhor Piero Marini, diz, sempre em latim, "extras omnes" (todos fora), e os cardeais são trancados na capela. Mas nem todos saem. Ficam ainda o próprio Marini e o cardeal já aposentado Tomas Spidik, de 85 anos, para uma última reflexão.
Spidik tem em comum com o papa João Paulo 2º as duras experiências tanto com o nazismo como com o comunismo na sua Tcheco-Eslováquia natal. Foi inclusive obrigado a trabalhos forçados durante o comunismo.

Primeira decisão - Terminada a reflexão, aí sim o "extra omnes" vale para todos menos os 115 eleitores. Primeira decisão a tomar: se fazem ou não uma primeira votação já hoje.
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, recusa-se a especular sobre essa primeira decisão, mas dá a entender que provavelmente não haverá tempo para o voto, porque o juramento é individual e tomará duas horas.

A votação - Se, no entanto, os cardeais decidirem votar, preencherão o espaço em branco na cédula e a levarão até a urna (no caso, um cálice), jurando: "Chamo a testemunhar o Senhor Cristo, que me julgará, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, considero deva ser eleito".
Não diz o nome, no entanto.
Feita a apuração, se ninguém obtiver 77 votos, o dia eleitoral termina, as cédulas e anotações dos cardeais são queimadas e, da chaminé instalada no teto da capela, sai fumaça negra.

A eleição - No dia em que um dos cardeais obtiver os dois terços (ou a maioria absoluta, se não tiver havido definição até o determinado dia), o cardeal decano (Ratzinger ou, se ele tiver sido o escolhido, o vice-decano, Angelo Sodano) pergunta, ainda em latim, se aceita ser papa: "Acceptasne eletionem de te canofice factam in Summum Pontificem?".
Se o escolhido aceitar, o passo seguinte é perguntar-lhe que nome adotará. (Como, em tese, qualquer católico não casado pode ser eleito papa, caso ocorra a praticamente impossível hipótese de o escolhido morar, por exemplo, em São Paulo, toda a parte final da cerimônia terá de aguardar que ele chegue a Roma.)
Mas, se for um dos cardeais, a chaminé emitirá fumaça branca, e o Campanone, o Campanoncino, o Rota, o Predica, o Ave Maria e o Campanela, os seis sinos gigantes da basílica de São Pedro, tocarão em festa para anunciar, pela primeira vez na história, junto com a fumaça, "Habemus Papam", a fórmula ritual.

A bênção - Meia hora depois, o "Habemus Papam, Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum" se repetirá, agora na voz do protodiácono da basílica de São Pedro, que apresenta na sacada o novo chefe da Igreja Católica Apostólica Romana. O papa dá a benção "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo) e começa enfim o seu pontificado. (CR e IG)

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