|
Próximo Texto | Índice
Autor de massacre era aluno sul-coreano
Motivo que levou Cho Seung-hui, cuja família vivia nos EUA desde 1992, a matar 32 colegas e professores ainda é dúvida
Bush participa de cerimônia que atraiu 11 mil no Virginia Tech; polícia ainda procura testemunha crucial do pior massacre do tipo no país
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BLACKSBURG
(VIRGÍNIA)
Cho Seung-hui, um estudante sul-coreano de 23 anos que
vivia desde 1992 nos EUA, foi
identificado ontem pela polícia
como o homem que matara 32
pessoas e depois se suicidara na
véspera no Instituto Politécnico da Virgínia (Virginia Tech).
Aluno da instituição, estava no
último ano do curso de inglês.
Mas, enquanto o campus velava as vítimas do que é considerado o maior massacre a tiros
da história dos EUA, policiais
procuravam outro rapaz de traços orientais que, na foto distribuída pela polícia, não parece
ter mais que 18 anos.
Seria uma "testemunha importante", não um suspeito de
participar do massacre. A busca
por essa testemunha já levou à
detenção temporária do namorado de uma vítima anteontem.
Apesar disso, a cada hora de
investigação, menos dúvidas a
polícia parece ter do que aconteceu. A reitoria acredita que o
autor das mortes no prédio de
engenharia do Virginia Tech
seja mesmo Cho. Usou duas armas compradas legalmente no
Estado da Virgínia, uma 9mm e
uma calibre 22, e uma delas foi
disparada tanto no prédio da
engenharia quanto duas horas
antes, num dormitório, em que
as duas primeiras vítimas foram mortas. São Emily Hilscher, 19, e Ryan Clark, 22.
Aí, começam as especulações. Segundo a versão mais
ouvida de estudantes no campus, não confirmada pela polícia, Emily seria ex-namorada
de Cho, e Clark, monitor do
dormitório dela, teria sido morto ao tentar evitar o primeiro da
série de assassinatos.
A única informação oficial é
que o suposto assassino em série e a estudante freqüentaram
o mesmo colégio, em Centreville, na Virgínia, a quatro horas
de Blacksburg. Ali vivem os pais
de Cho, sul-coreanos que são
donos de uma tinturaria.
"Somos todos família"
A primeira homenagem oficial às vítimas teve lugar no
meio da tarde de ontem, num
ginásio fechado do Virginia
Tech. Cerca de 11 mil pessoas,
vestidas em sua maioria de vinho e laranja, as cores da universidade, esperavam em silêncio pelas autoridades. No estádio aberto ao lado, outros milhares faziam o mesmo.
Um garoto usava a camisa do
time da universidade, com o lema "10% de sorte, 20% de talento, 15% de força de vontade,
5% de prazer e 50% de dor". A
segunda metade dominava o
auditório, ao som de marchas
fúnebres tocadas pela orquestra da reserva da Aeronáutica.
Algumas pessoas choravam.
Meninas traziam adesivos com
as iniciais "VT" pregadas na bochecha. Parentes e amigos carregavam cartazes em homenagem aos mortos. Dez coroas de
flores tomavam o lado direito
do púlpito. Folhetos oferecendo ajuda a famílias em choque
eram distribuídos na entrada
por uma ONG.
Pouco depois das 14h, o presidente George W. Bush assumiu o púlpito. Citaria a Bíblia e
diria que "hoje, somos todos família". Seguiu o reitor Charles
Steger, aplaudido de pé por minutos, apesar das crescentes
críticas que vem sofrendo.
Parte dos estudantes e alguns
dos parentes de vítimas acham
que a universidade errou ao
não esvaziar o campus logo
após ser avisada das duas primeiras mortes, às 7h15 -as outras ocorreriam duas horas depois, e o esvaziamento só veio
depois de Cho ter aparentemente se suicidado.
Logo após participar da cerimônia, Joseph Samaha, pai da
estudante Reema Samaha, 18,
uma das vítimas e ex-colega de
Cho no colegial, reclamava da
demora em receber a confirmação de que sua filha fora morta.
"Tive de fazer toda a apuração
por minha conta, até o necrotério", disse, revoltado.
A pressão levou o governador
Tim Kaine, a anunciar no fim
da noite de ontem, no campus,
que estava iniciando uma investigação independente para
saber se houve negligência por
parte da universidade. Mas defendeu o reitor.
Outra homenagem, uma vigília, reuniu ontem à noite milhares de pessoas que carregavam
velas por todo o campus, que
reúne 26 mil estudantes, pela
cidade de Blacksburg, de pouco
mais de 40 mil habitantes, e por
todo o Estado.
Próximo Texto: Frase Índice
|