São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

Próximo Texto | Índice

Autor de massacre era aluno sul-coreano

Motivo que levou Cho Seung-hui, cuja família vivia nos EUA desde 1992, a matar 32 colegas e professores ainda é dúvida

Bush participa de cerimônia que atraiu 11 mil no Virginia Tech; polícia ainda procura testemunha crucial do pior massacre do tipo no país

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BLACKSBURG (VIRGÍNIA)

Cho Seung-hui, um estudante sul-coreano de 23 anos que vivia desde 1992 nos EUA, foi identificado ontem pela polícia como o homem que matara 32 pessoas e depois se suicidara na véspera no Instituto Politécnico da Virgínia (Virginia Tech). Aluno da instituição, estava no último ano do curso de inglês.
Mas, enquanto o campus velava as vítimas do que é considerado o maior massacre a tiros da história dos EUA, policiais procuravam outro rapaz de traços orientais que, na foto distribuída pela polícia, não parece ter mais que 18 anos.
Seria uma "testemunha importante", não um suspeito de participar do massacre. A busca por essa testemunha já levou à detenção temporária do namorado de uma vítima anteontem.
Apesar disso, a cada hora de investigação, menos dúvidas a polícia parece ter do que aconteceu. A reitoria acredita que o autor das mortes no prédio de engenharia do Virginia Tech seja mesmo Cho. Usou duas armas compradas legalmente no Estado da Virgínia, uma 9mm e uma calibre 22, e uma delas foi disparada tanto no prédio da engenharia quanto duas horas antes, num dormitório, em que as duas primeiras vítimas foram mortas. São Emily Hilscher, 19, e Ryan Clark, 22.
Aí, começam as especulações. Segundo a versão mais ouvida de estudantes no campus, não confirmada pela polícia, Emily seria ex-namorada de Cho, e Clark, monitor do dormitório dela, teria sido morto ao tentar evitar o primeiro da série de assassinatos.
A única informação oficial é que o suposto assassino em série e a estudante freqüentaram o mesmo colégio, em Centreville, na Virgínia, a quatro horas de Blacksburg. Ali vivem os pais de Cho, sul-coreanos que são donos de uma tinturaria.

"Somos todos família"
A primeira homenagem oficial às vítimas teve lugar no meio da tarde de ontem, num ginásio fechado do Virginia Tech. Cerca de 11 mil pessoas, vestidas em sua maioria de vinho e laranja, as cores da universidade, esperavam em silêncio pelas autoridades. No estádio aberto ao lado, outros milhares faziam o mesmo.
Um garoto usava a camisa do time da universidade, com o lema "10% de sorte, 20% de talento, 15% de força de vontade, 5% de prazer e 50% de dor". A segunda metade dominava o auditório, ao som de marchas fúnebres tocadas pela orquestra da reserva da Aeronáutica.
Algumas pessoas choravam. Meninas traziam adesivos com as iniciais "VT" pregadas na bochecha. Parentes e amigos carregavam cartazes em homenagem aos mortos. Dez coroas de flores tomavam o lado direito do púlpito. Folhetos oferecendo ajuda a famílias em choque eram distribuídos na entrada por uma ONG.
Pouco depois das 14h, o presidente George W. Bush assumiu o púlpito. Citaria a Bíblia e diria que "hoje, somos todos família". Seguiu o reitor Charles Steger, aplaudido de pé por minutos, apesar das crescentes críticas que vem sofrendo.
Parte dos estudantes e alguns dos parentes de vítimas acham que a universidade errou ao não esvaziar o campus logo após ser avisada das duas primeiras mortes, às 7h15 -as outras ocorreriam duas horas depois, e o esvaziamento só veio depois de Cho ter aparentemente se suicidado.
Logo após participar da cerimônia, Joseph Samaha, pai da estudante Reema Samaha, 18, uma das vítimas e ex-colega de Cho no colegial, reclamava da demora em receber a confirmação de que sua filha fora morta. "Tive de fazer toda a apuração por minha conta, até o necrotério", disse, revoltado.
A pressão levou o governador Tim Kaine, a anunciar no fim da noite de ontem, no campus, que estava iniciando uma investigação independente para saber se houve negligência por parte da universidade. Mas defendeu o reitor.
Outra homenagem, uma vigília, reuniu ontem à noite milhares de pessoas que carregavam velas por todo o campus, que reúne 26 mil estudantes, pela cidade de Blacksburg, de pouco mais de 40 mil habitantes, e por todo o Estado.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.