São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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"Risco de voar em nuvem vulcânica é alto"

Piloto Robert Schapiro afirma que o perigo de atravessar cinzas é "muito maior" que o de enfrentar uma tempestade

Comandante que atuou em companhias aéreas dos EUA e do Japão diz que análise de dados ajuda pilotos a evitar nuvens de cinzas vulcânicas

GABRIELA MANZINI
DA REDAÇÃO

Piloto há mais de 30 anos, Robert Schapiro, 52, afirma que a principal regra para enfrentar uma nuvem de cinzas vulcânicas, como a que cobre parte da Europa desde quarta-feira, é nunca correr riscos. "A chance de algo ruim acontecer é muito, muito grande", afirma.
Com cerca de 18 mil horas de voo, ele trabalhou para companhias aéreas dos EUA e do Japão -no Anel de Fogo do Pacífico, uma das áreas de maior atividade vulcânica do planeta.

 

FOLHA - É comum ter vulcões em rotas de aviões?
ROBERT SCHAPIRO -
Muitos vulcões ficam em rotas, sim. E entram em erupção o tempo todo, no mundo inteiro. Pilotos internacionais se deparam com vulcões oito, nove vezes por ano. Não é incomum. O importante, para eles, é não entrar na nuvem. Ninguém o faria voluntariamente. Não se compara a atravessar uma tempestade, a chance de algo ruim acontecer é muito, muito maior.

FOLHA - Se é comum, por que o problema na Europa?
SCHAPIRO -
Grande parte dos vulcões fica em áreas de pouca população. Esse gera transtorno porque a nuvem avança sobre uma área populosa, com muito tráfego aéreo. Da Islândia para a Europa Central é distante, então, ao chegar, a nuvem ainda cobria uma área extensa.
Com o depósito de partículas, elas dominaram a faixa entre o chão e a altitude elevada. Nesses países, começa a surgir aquela poeira que cobre tudo.

FOLHA - Como são essas nuvens?
SCHAPIRO -
Cinzas vulcânicas não são como as de um incêndio, por exemplo. São rocha pulverizada, e a pressão de dentro do vulcão as empurra para o alto. Nelas há sílica, que é como vidro. Quando entram na turbina aquecida, as cinzas se derretem e se espalham, podendo levar à quebra. Normalmente, a turbina precisa ser descartada.

FOLHA - O piloto não vê a nuvem?
SCHAPIRO -
Quando vemos a fumaça saindo do vulcão, ela fica muito clara, porém, a altitudes muito elevadas, ela é mais como uma neblina escura.

FOLHA - Como evitar as nuvens?
SCHAPIRO -
Os pilotos, antes de voar, veem dados da iminência das erupções. Outro fator é o vento, que leva as cinzas.

FOLHA - O que um piloto pode fazer, quando entra em uma nuvem?
SCHAPIRO -
Pilotos são treinados para reconhecer que entraram em uma nuvem vulcânica. Quando você avança pelas cinzas, é como se uma lixa atingisse a frente da aeronave. No para-brisa dá para ver minúsculas descargas elétricas. As partículas afetam a visibilidade e, a certa altura, não se vê nada. Há ainda um odor forte, e o interior do avião pode parecer empoeirado. Pela boca da turbina se vê um brilho. Dentro da nuvem, a técnica é dar meia-volta e começar a reduzir a altitude.

FOLHA - É exagero fechar espaços aéreos e aeroportos?
SCHAPIRO -
É uma precaução boa. O risco de algo acontecer com a aeronave é bem alto. Mesmo quando na sua área parece tudo bem, talvez em 15 minutos de voo você chegará a um lugar pior e começará a ter problemas. Não vale a pena.


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