São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Ele exige que Israel deixe áreas invadidas durante a Intifada; para israelenses, trata-se de desculpa para adiar pleito

Arafat agora condiciona eleições à retirada de Israel

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, disse ontem que só realizará novas eleições quando o Exército israelense se retirar de áreas da faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupadas desde o início da Intifada, em setembro de 2000.
Pressionado por EUA e Israel -e sobretudo por críticas no plano doméstico- a promover mudanças institucionais na ANP, Arafat prometeu nesta semana reformas aceleradas e a convocação de eleições municipais e legislativas dentro de seis meses.
Ao impor condições para convocar o pleito, Arafat tenta aumentar seu poder de barganha com relação ao premiê israelense, Ariel Sharon. Como os EUA exigem mudanças na ANP como fator importante para o futuro do processo de paz, o líder palestino espera que Washington ponha pressão sobre o governo de Israel para que realize a retirada militar.
Altos funcionários palestinos argumentam que a continuação do cerco militar israelense e o bloqueio das estradas impossibilitam a realização de eleições justas e livres. Sem liberdade de movimento, é muito difícil organizar campanhas para apresentar plataformas políticas à população, disse à Folha Ahmed Sobeh, diretor-geral do Ministério de Cooperação Internacional da ANP.
Arafat poderia estar tentando também ganhar tempo -ele sabe que dificilmente Sharon aceitaria retirar o Exército nas atuais circunstâncias e seria visto, assim, como o responsável pela eventual demora na realização das eleições.
Indagado em Ramallah sobre quando haverá eleições, Arafat respondeu: "Assim que terminar a ocupação de nossa terra".
Não ficou claro, inicialmente, se ele quis dizer uma retirada total israelense às linhas anteriores à guerra de 1967 -o que incluiria o desmantelamento das dezenas de colônias judaicas- ou se havia se referido a um retorno à situação pré-Intifada. O ministro do gabinete Nabil Shaath esclareceu: "O presidente quis dizer que não haverá eleição até que Israel retire as suas forças de ocupação para onde estavam em 29 de setembro de 2000 (início da Intifada)".
A saída das tropas israelenses de áreas antes controladas pela ANP é uma das recomendações de dois planos de cessar-fogo apresentados pelo diretor da CIA, George Tenet, e pelo ex-senador americano George Mitchell.
Israel afirma, porém, que não há sentido em dialogar com a liderança palestina para a implementação dessas propostas enquanto não houver a contrapartida da ANP prevista nos documentos: o fim da violência e o combate a grupos terroristas como Hamas e Jihad Islâmico.
"Por um lado, Arafat fala sobre reformas, mas agora tem uma desculpa para não executá-las", disse Raanan Gissin, porta-voz de Sharon. "Ele sabe muito bem que, enquanto não tomar iniciativa contra o terrorismo, as forças israelenses permanecerão lá."

Lições de Washington
Mohammed Rashid, um dos principais assessores de Arafat, que está nos EUA, disse ontem ter preparado junto com altas autoridades americanas um calendário de reformas para tornar a ANP mais democrática. Afirmou que as duas partes têm interesse em preparar mudanças políticas e no aparato de segurança palestino antes de uma eventual conferência internacional para a paz no Oriente Médio, em julho.
Segundo ele, o subsecretário de Estado William Burns teria participado da formulação das reformas, que incluiriam redução no número de pastas ministeriais das atuais 32 para algo entre 16 e 20.
Os EUA também exigem que a ANP desarme milícias e reúna os atuais 12 diferentes serviços de segurança leais a Arafat em apenas uma ou duas agências centrais. Rashid disse que os palestinos aceitaram essa proposta.


Com agências internacionais

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