São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Força de 3.000 homens do grupo terrorista é desafio ao presidente palestino, que reagiu com mobilização policial

Hamas ignora advertência e lança milícia

DA REDAÇÃO

No mais frontal desafio aos poderes do presidente Mahmoud Abbas até agora, o grupo terrorista Hamas, que controla o governo palestino desde março, apresentou ontem uma nova força de segurança de 3.000 homens na faixa de Gaza. Em resposta, o presidente Abbas ordenou que milhares de policiais fossem para as ruas.
A efetivação da milícia do Hamas, ocorrida poucas horas após mais um membro do grupo ter sido morto em Gaza, aumenta a tensão entre as facções rivais, que há semanas vem empurrando os territórios palestinos para a beira da guerra civil. O ministro do Interior, Saeed Seyam, disse que a missão do contingente será conter "o caos e a anarquia e os crescentes ataques a nosso povo".
Um grupo de 30 homens da nova milícia, cujas fardas ostentam insígnias islâmicas, começaram ontem a patrulhar o centro de Gaza e estradas da faixa.
O gesto de força do Hamas parece ter sido motivado pelo misterioso ataque que matou o líder de um de seus braços armados, praticado por homens mascarados que atiraram de um carro em movimento nesta quarta-feira em Gaza. No dia anterior outro militante do Hamas tinha sido morto em um ataque parecido. Ninguém assumiu a autoria, mas líderes do Hamas culparam o Fatah.
O presidente Abbas, que tem se oposto com veemência à formação da força de segurança do Hamas por medo de que a iniciativa provoque ainda mais desagregação e desgoverno, chegou a anular o decreto que a criou, algumas semanas atrás. Tawfiq Abu Khoussa, porta-voz do Fatah, partido de Abbas, ontem exortou Seyam a voltar atrás de sua decisão, que, segundo ele, pode levar os palestinos "à catástrofe".
Em seus esforços para não perder poder e evitar o isolamento internacional dos palestinos, Abbas tem mantido contato com as potências internacionais que atuam como mediadoras do conflito com Israel para que o processo de paz seja retomado e o boicote financeiro iniciado após a vitória do Hamas seja rompido. Na semana passada ele obteve um primeiro sucesso, quando o Quarteto (EUA, UE, ONU e Rússia) concordou em criar um mecanismo para prover de ajuda humanitária o povo palestino.

Insatisfação popular
A pobreza crescente em Gaza e na Cisjordânia piorou dramaticamente com a chegada ao poder do Hamas. O grupo islâmico passou a sofrer não só a ameaça do Fatah, mas da insatisfação popular. Ontem centenas de funcionários públicos bloquearam uma estrada de Ramallah, na Cisjordânia. "[Ismail] Haniyeh, não temos pão", gritavam ao premiê palestino os servidores, cujos salários estão há três meses atrasados.
Em Estrasburgo, um dia após discursar no Parlamento Europeu, o presidente palestino voltou a advertir o Hamas: ou abandona a violência e reconhece o direito de existência de Israel, ou não sobreviverá. "Eles deveriam adotar padrões internacionais, ser parte da comunidade internacional", disse. "Sem isso não acho que possam sobreviver."
Numa medida que deve aliviar a pressão econômica sobre os palestinos, Israel voltou a permitir a entrada de produtos de Gaza para o seu território. Segundo o ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, a reabertura da fronteira é uma decisão estratégica que terá impacto direto sobre a economia palestina. "Nossa guerra é contra o terror, não contra os moradores da faixa [de Gaza]", disse Peretz.


Com agências internacionais


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