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OPINIÃO
Teerã promete saída do labirinto
DO "FINANCIAL TIMES"
A OFERTA do Irã de depositar urânio enriquecido na Turquia, patrocinada pela própria Turquia e
pelo Brasil, talvez prove ser
uma saída do labirinto que é o
jogo de negociação nuclear com
Teerã.
Numa declaração conjunta
dos ministros das Relações Exteriores dos três países, o Irã
propõe transferir 1.200 quilos
de urânio pouco enriquecido ao
território turco dentro de um
mês, sujeito a monitoramento
do próprio país persa e da AIEA
(Agência Internacional de
Energia Atômica).
Em troca, o Irã espera receber 120 quilos de urânio mais
enriquecido de potências globais, o qual precisa para isótopos médicos, dentro de um período não superior a um ano.
A atual negociação carrega
mais do que uma mera semelhança com um acordo supostamente acertado no ano passado, que rapidamente desmoronou. Sob tal acordo, o Irã enviaria dois terços de seu estoque de urânio pouco enriquecido à Rússia, em troca de isótopos médicos vindos da França.
Mais chances
Mas há três razões pelas
quais o novo plano tem uma
chance maior de funcionar.
Primeiro, ele supera os inconvenientes do acordo anterior, de transferência indireta
de urânio, e garante o retorno
do urânio pouco enriquecido
ao Irã no caso de que as potências globais não cumpram a sua
parte da barganha.
Em segundo lugar, uma oferta por escrito -com novas concessões, como depositar o urânio pouco enriquecido em um
único lote e abster-se de uma
permuta simultânea em solo
iraniano- sugere que a irritadiça política de Teerã, combinada com esforços renovados
do Ocidente por novas sanções
ao país, está fazendo com que
os líderes iranianos enxerguem
a importância de um acordo.
Mais importante é o papel assumido pela Turquia e, em menor grau, pelo Brasil. Ambos
ocupam atualmente assentos
temporários no Conselho de
Segurança da ONU, onde têm
resistido à crescente pressão
por sanções ao Irã.
Responsabilidade
É de interesse dessas potências emergentes mostrar que
elas podem oferecer uma alternativa. Ambas estão se posicionando como "players" independentes, fazendo a ponte entre a desconfiança do Ocidente
e o mundo muçulmano (no caso de Ancara) e o mundo em desenvolvimento em geral (no caso de Brasília).
Para o Irã, é claramente mais
fácil tanto confiar quanto sair
ileso ao lidar com a Turquia
-país de maioria muçulmana,
que, apesar de ser um Estado
secular, tem atualmente um
governo claramente islâmico
(ainda que moderado).
Enquanto ninguém se surpreenderia se os volúveis aiatolás iranianos novamente fizerem birra e recuarem de uma
posição aparentemente mais
cooperativa, a oferta deve ser
levada em conta seriamente.
Se o Irã estiver sendo sério,
esta é a melhor chance para
prevenir um conflito militar
com Israel, que resultaria em
desastre para o Oriente Médio
e todo o mundo.
O que é certo é que os acontecimentos dão à Turquia e ao
Brasil uma responsabilidade
maior em garantir um resultado pacífico -e dão ao Irã uma
razão para não fazer esses países parecerem tolos ingênuos.
Isso é, inegavelmente, uma mudança positiva.
Este editorial foi publicado na edição de hoje do
jornal britânico "Financial Times"
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