São Paulo, sábado, 18 de junho de 2005

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ELEIÇÃO IRANIANA

Ex-presidente Rafsanjani e Moin se enfrentarão provavelmente na próxima sexta-feira, segundo seus assessores

Conservador e reformista farão 2º turno no Irã

Damir Sagolj/Reuters
Iraniana aguarda momento de votar durante eleição presidencial, perto da Universidade de Teerã


MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O conservador pragmático Hashemi Rafsanjani, 70, e o reformista moderado Mostafá Moin, 54, deverão enfrentar-se num inédito segundo turno da eleição presidencial da República Islâmica do Irã, fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979, de acordo com assessores dos candidatos.
Ambos chegaram na frente no primeiro turno, segundo pesquisa de boca-de-urna feita pelos partidos políticos, contudo nenhum dos dois conseguiu obter ao menos 50% dos votos válidos mais um, o que evitaria a realização do segundo turno. Este deverá ocorrer na próxima sexta-feira.
Os dois candidatos fizeram uma campanha marcada por técnicas e por táticas conhecidas no Ocidente -uma novidade no Irã- e prometeram dar continuidade às reformas lançadas pelo presidente Mohammad Khatami (1997-2005), cujo governo decepcionou sua base de apoio porque não pôde realizar reformas abrangentes.
Afinal, a maior parte das iniciativas do reformista moderado Khatami foi bloqueada pelo Conselho de Guardiães, órgão que zela pelo respeito à Constituição, cujos 12 membros (clérigos e juristas) foram apontados pelo aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã. Este tem mais poder que o presidente da República.
Analistas consultados pela Folha tiveram opiniões distintas acerca da possibilidade de Rafsanjani continuar no caminho de uma reforma gradual da sociedade iraniana. Para Saied Zaher, professor da Universidade de Shiraz (Irã), o ex-presidente (1989-97) interromperá o processo de abertura porque "o ambiente social não é mais tão estrito para os jovens quanto no passado por conta das políticas de Khatami".
Todavia a iraniana Shireen Hunter -que vive nos EUA-, autora de "Iran and the World: Continuity in a Revolutionary Decade" (Irã e o mundo: continuidade numa década revolucionária), e Olivier Roy, diretor do Laboratório Mundo Iraniano do Centro Nacional de Pesquisa Científica, da França, discordam de Zahed.
"Rafsanjani tem ciência do peso da população de menos de 30 anos, que é majoritária [cerca de 65% dos iranianos] e, em grande parte, defende as reformas. Ademais, ele tem trânsito na linha dura e poderá introduzir projetos que, se fossem apresentados por Moin, seriam bloqueados pelo Parlamento ou pelo Conselho de Guardiães", analisou Hunter.
"Rafsanjani é uma raposa velha da política iraniana e pode levar adiante um projeto de abertura gradual, pois quer manter-se no poder e sabe que, para tanto, não pode desagradar totalmente a eleitores reformistas", disse Roy.
Segundo Hunter, se eleito, Moin poderá ter o mesmo destino que Khatami, de quem é forte aliado. "Dificilmente um reformista conseguirá obter a anuência dos líderes do establishment político-clerical a reformas liberalizantes. Ou seja, Moin, que, como Khatami, foi ministro da Cultura, não terá margem de manobra para aplicar seu programa e poderá decepcionar sua base de apoio." Para os analistas ouvidos pela Folha, os conservadores dogmáticos (linha-dura) se enfraqueceram na campanha porque não se uniram em torno de um só candidato.
As urnas foram fechadas às 23h de ontem no Irã. Segundo informações da agência de notícias France Presse, cerca de 68% dos eleitores registrados votaram, índice que supera o do pleito de 2001. O resultado oficial do pleito deve ser divulgado hoje.

Surpresa eleitoral?
Embora Rafsanjani seja considerado favorito na disputa eleitoral, Hunter frisou que uma "surpresa" não pode ser descartada, já que Moin -que só pôde concorrer porque Khamenei interveio e pediu ao Conselho de Guardiães que retirasse a proibição à sua candidatura- poderá contar com forte apoio dos jovens.
"Tudo dependerá da participação dos jovens. Se ela for alta, Moin terá chance de triunfar no segundo turno." Galvanizar os ânimos dos jovens é, portanto, um dos desafios do campo reformista. Porém isso não lhe garantirá a vitória. Afinal, Rafsanjani fez uma campanha voltada para o público jovem, prometendo manter o curso das reformas sociais e aproximar-se dos EUA. Resta saber o alcance de sua mensagem.

Com agências internacionais

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