São Paulo, sábado, 18 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Contrato no valor de US$ 30 milhões prevê construção de presídio para 220 pessoas até julho de 2006

Halliburton vai construir nova prisão de Guantánamo

RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT", EM WASHINGTON

Uma subsidiária da empresa Halliburton, que já foi dirigida pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, venceu um contrato de US$ 30 milhões para ajudar a construir uma nova prisão permanente para supostos terroristas na base americana de Guantánamo, em Cuba.
A prisão terá dois andares com capacidade para 220 pessoas e será equipada com ar condicionado e instalações médicas e de ginástica. De acordo com o contrato com o Comando de Engenharia Naval dos EUA, a construção deve ir até julho de 2006.
Segundo o Pentágono, o acordo final pode valer até US$ 500 milhões. O trabalho realizado pela subsidiária Kellogg Brown & Root incluirá serviços de construção, ventilação, ar condicionado, hidráulica e eletricidade.
O anúncio é um sinal de que o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, está determinado a manter a polêmica prisão em funcionamento.
Além de denúncias de maus-tratos que beiram a tortura, relatório recente do Pentágono confirmou a ocorrência de atos de profanação do Corão, livro sagrado muçulmano. Há atualmente cerca de 520 detidos de 40 países em Guantánamo, alguns dos quais presos há mais de três anos.
A Anistia Internacional, que recentemente descreveu a prisão como "o gulag de nossos tempos", criticou ontem a decisão. "É uma decisão errônea e aumentará a preocupação mundial sobre as notícias de torturas, maus-tratos, humilhação religiosa e detenções arbitrárias que saem de lá", afirmou nota do organismo.
A divulgação do contrato ocorre quando o futuro de Guantánamo está em debate nos EUA. Parlamentares democratas e republicanos argumentaram publicamente que o dano causado pela prisão à imagem dos EUA já é maior do que qualquer benefício prático que possa trazer. O democrata Joe Biden, do Comitê de Relações Exteriores do Senado, descreveu o local como um "agência de recrutamento" da Al Qaeda.
A sugestão mais recente veio nesta semana do Centro para o Progresso Americano, que instou a que os detidos há muito tempo em Guantánamo sejam transferi dos para a prisão militar de Fort Leavenworth (Kansas) e julgados perante cortes marciais militares. Detentos de pouco risco em termos de segurança devem ser transferidos de volta a seus países de origem, sugeriu o "think tank" democrata.
O governo George W. Bush parece estar dividido sobre o tema. A Casa Branca chegou a sinalizar um possível fechamento da prisão, com um porta-voz declarando que "todas as opções" estão sendo consideradas.
Mas Cheney e Rumsfeld insistem em que não há uma alternativa prática e que os detentos são tratados decentemente, além de aportar informações valiosas para a guerra contra o terror.
Como Guantánamo, a Halliburton também se tornou um problema para a imagem dos EUA após denúncias de que os contratos para a reconstrução do Iraque foram entregues sem licitação a um grupo pequeno de empresas americanas, e depois foram superfaturados. Cheney dirigiu a empresa por cinco anos, até que se demitiu para tornar-se candidato a vice de Bush nas eleições de 2000.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Religião: Patriarca ortodoxo é rebaixado a monge
Próximo Texto: Paz não serve ao mundo do islã, diz Zawahiri
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.