|
Texto Anterior | Índice
ARTIGO
Como o mundo pode lutar contra o terrorismo nuclear
Para o diretor da agência nuclear da ONU e o chanceler norueguês, mundo mal avançou em eliminar a maior ameaça atômica: o urânio altamente enriquecido
MOHAMED ELBARADEI
JONAS GAHR STORE
A MANEIRA MAIS simples de produzir uma
explosão atômica consiste em promover o choque de
dois pedaços de bom tamanho
de urânio altamente enriquecido (HEU highly enriched uranium), no que é comumente
conhecido como "gun-type nuke", ou arma nuclear do tipo de
uma arma de fogo. A abordagem pode soar grosseira, e é.
Nenhum país hoje utiliza esse
procedimento para criar suas
armas nucleares.
Mas vale a pena recordar que
foi uma arma nuclear de HEU,
desse tipo, que matou mais de
70 mil pessoas em Hiroshima.
Depois de passar quase cinco
anos vivendo sob a ameaça do
terrorismo sofisticado, por que
ainda estamos avançando tão
lentamente no sentido de eliminar os estoques mundiais de
HEU e de minimizar suas utilizações civis?
Muita atenção vem sendo
prestada atualmente à questão
do controle da tecnologia de
enriquecimento de urânio, e
com razão. Se todos os procedimentos de enriquecimento de
urânio fossem submetidos a
um controle multinacional, seria muito mais difícil para qualquer país desviar urânio enriquecido para emprego em armas. Mas faz igual sentido proteger -ou melhor ainda, eliminar- o urânio altamente enriquecido, em grau suficiente para a produção de bombas, que já
existe no mundo.
Especialistas dizem que existem cerca de 1.850 toneladas
métricas de HEU armazenadas
no mundo, o suficiente para fabricar dezenas de milhares de
armas nucleares. A grande parte desse total se encontra em
uso militar. Do lado civil, os números são muito menores
-mas o nível de segurança é
desigual.
Quase cem instalações civis
espalhadas pelo mundo operam com quantidades pequenas de HEU de grau de armas,
ou seja, urânio que já foi enriquecido a 90% ou mais. Essas
instalações, em sua maioria
reatores para pesquisas, fornecem benefícios importantes.
Os isótopos que produzem são
vitais para tratamentos médicos, produtividade industrial,
gerenciamento de recursos hídricos e muitas outras utilizações humanitárias. As pesquisas conduzidas nesses locais já
melhoraram em muito a nossa
qualidade de vida.
Mas a maioria desses benefícios também poderia ser obtida
com o emprego de urânio de
baixo grau de enriquecimento
(LEU). Ainda no final dos anos
1970, os EUA e outros países
lançaram esforços para converter essas instalações do HEU
para o LEU, visando reduzir os
riscos de proliferação. Nos últimos anos, foram feitos bons
avanços nesse sentido. Muitos
reatores de pesquisa já foram
convertidos. Grandes quantidades de combustível de HEU
para reatores, utilizado ou não,
foram removidos de lugares
vulneráveis e devolvidos a seus
países de origem.
Mas ainda restam muitos
pontos de vulnerabilidade. Precisamos intensificar o senso de
urgência, de uma ação global
mais coerente. Os países envolvidos deveriam unir suas forças
para minimizar e, com o tempo,
eliminar a utilização civil de
HEU. Pesquisas conjuntas devem ser empreendidas para encontrar soluções para os últimos obstáculos técnicos que
permanecem à conversão de
operações que empregam HEU
para outras com LEU.
Os países que dispõem de estoques civis e militares de HEU
devem ser encorajados a divulgar inventários desses estoques
e um cronograma do empobrecimento verificável do HEU remanescente.
Ao investir nessas medidas
diretas, poderíamos reduzir
substancialmente o risco do
terrorismo nuclear. O trabalho
poderia ser feito conjuntamente, como comunidade internacional; essa é uma iniciativa em
que todos os países -tanto os
que possuem quanto os que
não possuem armas nucleares- poderiam exercer um papel e da qual todos se beneficiariam claramente.
MOHAMED ELBARADEI é diretor da Agência
Internacional de Energia Atômica e ganhador do
Prêmio Nobel da Paz em 2005.
JONAS GAHR STORE é chanceler da Noruega
Este artigo foi originalmente publicado pelo
FINANCIAL TIMES
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Bolívia: Morales lança pacote antipobreza Índice
|