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Irã fecha cerco a opositores nas ruas e na web
País multiplica prisão de reformistas, restringe velocidade da internet e promete retirar textos críticos da rede e punir autores
Jornalistas também são detidos; apesar da repressão, partidários do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi mantêm protestos
Agência Fars/France Presse
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Eleitores protestam na capital, Teerã
DA REDAÇÃO
No quinto dia de manifestações contra o governo iraniano,
acusado de fraude no pleito de
domingo que reelegeu o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, Teerã aumentou ontem a repressão contra movimentos oposicionistas.
Diante do maior levante em
30 anos no país, o governo iraniano multiplicou as prisões de
militantes reformistas, fechou
o cerco contra jornalistas e restringiu o acesso à internet.
Adversários de Ahmadinejad
dizem que continuarão enfrentando as autoridades e prometem realizar hoje uma megaprotesto na capital. Eles também pretendem parar o país
em sinal de luto pelos sete manifestantes mortos em confrontos com a polícia.
Segundo testemunhas, a polícia está promovendo uma caça aos intelectuais ligados a Mir
Hossein Mousavi, segundo colocado na votação de sexta -de
acordo com resultados oficiais- e líder dos protestos.
A maioria dos presos acabaram libertados, mas alguns permanecem sob custódia das autoridades. O governo admite
que ao menos 26 "organizadores de distúrbios" continuam
encarcerados. Líderes oposicionistas falam em centenas de
detenções arbitrárias.
Mousavi e um de seus principais aliados, o clérigo e ex-presidente Mohammad Khatami
(1997-2005), escreveram carta
ao chefe da Justiça pedindo a libertação dos presos.
Dentro do governo também
surgem vozes de contestação. O
ministro do Interior pediu ontem a abertura de uma investigação sobre um ataque de milicianos ligados ao regime na
universidade de Teerã durante
o fim de semana. A ação teria
deixado um número não determinado de mortos.
Ignorando os apelos domésticos e externos, o governo passou a ameaçar explicitamente
qualquer pessoa suspeita de fomentar os protestos.
Na cidade de Isfahan, também palco de grandes manifestações, o procurador local
anunciou que quem causar distúrbios poderá ser executado.
Blogueiros e jornalistas, iranianos e estrangeiros, também
estão na mira das autoridades.
Em sua primeira manifestação pública desde a eleição, a
Guarda Revolucionária ordenou que todos os textos na internet capazes de "causar tensão" sejam imediatamente retirados do ar. Quem descumprir
a regra poderá ser preso.
Sites oposicionistas e de imprensa estrangeira continuam
bloqueados, e o serviço de telefonia celular, limitado. As autoridades reduziram pela metade
a capacidade da banda larga no
país, dificultando o envio de arquivos sonoros e de vídeo que
vêm sendo usados como forma
de driblar a proibição de cobertura da crise iraniana.
Jornalistas não podem deixar seus escritórios, sendo
obrigados a fazer entrevistas
por telefone e a depender das
fotos e vídeos fornecidos pela
imprensa estatal.
Muitos repórteres estrangeiros, entre eles o da Folha, tiveram de deixar o país depois que
o governo revogou seus vistos.
Segundo a ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras, há
pelo menos 11 jornalistas iranianos ou estrangeiros detidos
no Irã sem que se tenha informação sobre seu paradeiro.
Suspeitas
Desafiando o governo, dezenas de milhares de partidários
de Mousavi participaram ontem de mais um protesto em
Teerã. Os manifestantes exigem a anulação do pleito, que
reelegeu Ahmadinejad com
62,7% dos votos. Mousavi, que
teve 33% dos votos, vê no pleito
"fraudes em massa" e pede uma
nova eleição. O governo descartou a hipótese, embora tenha
mandado recontar votos em regiões onde houve suspeitas.
Depois de uma campanha
acirrada e do desgaste causado
pela crise econômica, Ahmadinejad teve 8 milhões de votos a
mais do que em 2005, número
tido como irreal pela oposição.
O jornal britânico "The
Guardian" divulgou ontem relatório de ONG iraniana afirmando que a participação nas
urnas foi superior a 100% em
ao menos 30 cidades, o que reforçaria a tese de manipulação.
Com agências internacionais
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