São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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ANÁLISE

Sabatina canaliza a revolta do eleitorado com as corporações

JOHN GAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"

Tony Hayward é apenas o mais recente líder empresarial a enfrentar uma sabatina hostil em Washington.
Nos últimos meses os presidentes da Goldman Sachs, Moody's, Toyota e outras grandes empresas pecadoras passaram por isso.
A disputa não opõe americanos a britânicos, mas políticos, canalizando os sentimentos dos eleitores, a grandes corporações.
Durante algum tempo pareceu que a ira pública com a crise financeira se limitaria aos bancos. Mas o vazamento criou uma ameaça mais ampla. O petróleo está virando o novo tabaco, e é possível que outras indústrias sejam as próximas na berlinda.
Se executivos-chefes fossem levados a Washington apenas para serem humilhados, os investidores não se importariam. Mas a pressão exercida sobre a BP para suspender os dividendos a seus acionistas e guardar US$20 bilhões em um fundo reservado a compensações e operações de limpeza preocupa.
Ela traz ecos do acordo do tabaco de 1998, em que a indústria pagou US$ 246 bilhões a Estados americanos após ações legais. Apenas 5% desse dinheiro foi gasto com iniciativas relacionadas ao tabaco; a Virgínia, por exemplo, investiu em cabos de fibra ótica, pesquisas em energia e educação superior.
Desde o socorro prestado a Wall Street, o clima está tão hostil às grandes empresas que qualquer deslize pode deixá-las vulneráveis.
Robert Reich, o ex-secretário do Trabalho dos EUA que quer que o governo americano coloque a BP temporariamente sob o controle de um responsável por seus ativos, define o assunto como "uma disputa entre os interesses da cidadania e dos acionistas".
Soa bonito, mas a maioria das pessoas são as duas coisas. Investidores e pensionistas dependem da BP e de outros aristocratas dos dividendos para receber suas aposentadorias. Se os políticos tirarem os ativos dos aristocratas, quem acabará pagando são os cidadãos.


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