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Símbolo de convivência, Haifa vira alvo inimigo
Vítima do pior ataque do Hizbollah, cidade sofre êxodo e dano econômico
Local de rara coexistência
entre judeus e árabes em Israel, Haifa vive a rotina dos
mísseis; prejuízo estimado
chega a US$ 100 milhões
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE HAIFA
São quase 18h em Haifa e a
avenida ao longo do porto está
vazia. O trânsito deveria estar
infernal. Fica fácil encostar o
carro e correr em busca de abrigo quando a sirene ensurdecedora avisa que mais um foguete
se aproxima.
Uma delas acertou em cheio
um prédio de apartamentos a
200 metros dali. Após ter sido
alvo, no domingo, do pior ataque sofrido por Israel até agora,
que deixou oito mortos, a terceira maior cidade do país, vive
a amarga rotina da guerra. Justamente a única grande cidade
israelense que reúne uma população mista, de árabes e israelenses, e que por isso tornou-se um raro símbolo de
convivência pacífica.
As ruas estão desertas. Os
moradores estão em bunkers
ou em quartos com paredes reforçadas em suas casas. Qualquer nova construção em Israel
é obrigada a ter um desses.
Todas as cidades do norte de
Israel também estão vazias. Na
quinta-feira, Tiberíades, na
beira do mar da Galiléia, era
uma agitação de turistas americanos, peregrinos cristãos europeus visitando locais do Novo Testamento e israelenses
aproveitando o verão.
Reservas canceladas
Em toda a cidade havia ontem apenas um restaurante e
alguns quiosques abertos. As
lojas para turistas estavam fechadas e os barcos de passeio
no lago, recolhidos. Um ambiente assustador, uma cidade-fantasma. "Tínhamos 350 reservas para hoje, mas só apareceram 30 pessoas", conta o garçom Walid.
Os turistas fugiram, revertendo a euforia de uma época
em que Israel comemorava a
volta dos visitantes estrangeiros -1 milhão, do começo do
ano até a quinta-feira passada.
Um número recorde depois dos
anos duros do terror suicida,
em que eles desapareceram.
Os israelenses que têm parentes em cidades mais ao sul,
também. As rádios e os canais
de televisão divulgam ofertas
de famílias dispostas a receber
gente do norte durante a guerra. Quem ficou no norte, uma
preferência do turismo interno, mas uma periferia no sentido econômico e social, está no
abrigo antibomba ou no quarto
protegido. Nem todos em Israel
têm essa proteção, que comprovadamente diminui o número de vítimas nos ataques do
Hizbollah.
Cidades árabes
Nas cidades da minoria árabe
não há abrigos nem psicólogos
do governo que ajudam em situações de trauma. "Os foguetes não sabem diferenciar entre
árabes e judeus. Mas o governo
israelense sabe muito bem", diz
o diretor de uma escola de Uhm
El Fahm, no norte do país.
As cidades de Tzfat (Safed),
Carmiel e Kiriat Shmone, principais centros urbanos da Galiléia, estão vazias. Alguns semáforos estão desligados e só passam nas ruas carros da polícia.
A associação industrial de Israel estima que as perdas passem de US$ 100 milhões por
dia. Apenas um terço das fábricas israelenses estão com funcionamento normal. Outro terço trabalha parcialmente. O
restante está parado.
Como sempre, também há
quem lucre com a situação. Os
hotéis de Eilat, no extremo sul
do país, do mar Morto e de Jerusalém, que neste momento
são locais seguros, elevaram os
preços em 40%.
Quando a sirene pára em
Haifa, depois de quatro minutos de tensão à espera do estrondo do foguete contra seu
alvo, a vida volta ao normal. Isto é, o normal de um estado de
guerra, porque a universidade
está fechada e os teatros e cinemas cancelaram sessões.
"Desta vez não caiu nada.
Mas logo vai ter outro foguete,
e desta vez ele pode cair", diz o
israelense Hagai.
E ele tinha razão. Horas depois, já noite em Haifa, mais
salvas de foguetes, nova correria em direção aos abrigos, e
mais Katyushas.
(MICHEL GAWENDO)
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