São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Zelaya ameaça com nova tentativa de volta

Presidente deposto planeja regresso a Honduras, à margem de diálogo com golpistas, que será retomado hoje na Costa Rica

Forças Armadas impediram 1ª tentativa de retorno; na ocasião, conflitos com apoiadores de Zelaya deixaram dois mortos

Orlando Sierra/France Presse
Apoiadores do presidente deposto Manuel "Mel' Zelaya bloqueiam uma estrada hondurenha nas cercanias da capital Tegucigalpa, sob a vigilância de soldado

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANÁGUA (NICARÁGUA)

Sob a ameaça de que Manuel Zelaya tentará novamente voltar a Honduras "nas próximas horas", as comissões do presidente deposto e do governo interino de Roberto Micheletti retomam hoje as negociações na Costa Rica para buscar uma solução à crise política.
Até ontem, a principal proposta sobre a mesa havia sido apresentada pelo presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz de 1987, Óscar Arias, mediador das negociações. Ele sugeriu um governo de transição encabeçado por Zelaya, mas com a presença de ministros ligados a Micheletti, para cumprir o resto do mandato até janeiro do ano que vem.
Ambos pertencem ao mesmo partido, o Liberal (centro-direita), mas o presidente deposto ficou isolado da cúpula da sigla, que apoiou a sua deposição.
Por outro lado, Arias também propôs que Zelaya abandone sua campanha para convocar um referendo sobre uma Assembleia Constituinte em paralelo às eleições gerais de 29 de novembro.
A insistência de Zelaya em levar adiante uma votação sobre o tema apesar da proibição da Justiça e do Congresso foi a principal justificativa para a sua deposição, em 28 de junho.
Segundo um assessor de Zelaya que participa das negociações, o presidente deposto aceita a proposta de Arias, desde que os eventuais ministros ligados ao governo Micheletti sejam escolhidos por ele.
Zelaya também abriria mão da consulta sobre a Constituinte, mas não impediria que "o povo" a convocasse.
Micheletti, porém, não tem dado sinais de que concordaria com a volta de Zelaya sob nenhuma circunstância. Nesta semana, afirmou que poderia renunciar desde que o seu ex-aliado não regressasse ao poder, mas a proposta já foi descartada como solução para a crise pelo presidente deposto e por Arias.
O principal trunfo de Micheletti é o apoio interno de todas as instituições, entre as quais o Congresso e as Forças Armadas, a Igreja Católica e a elite econômica. Já Zelaya aposta na condenação internacional contra o golpe e em sua popularidade nas camadas mais pobres hondurenhas, que vêm realizando protestos quase diariamente desde a deposição, há três semanas.
O aumento da tensão às vésperas da reunião de hoje levou Micheletti a declarar anteontem toque de recolher durante a noite -a medida havia sido suspensa na segunda-feira.

Chávez
As negociações de hoje ocorrem sob uma intensa pressão de Zelaya, que tem prometido abandonar as negociações na Costa Rica caso não haja um acordo nesta semana e promete voltar a Honduras "a qualquer momento".
Ontem, foi a vez de Hugo Chávez, que na semana passada qualificou de "grave erro" a tentativa de diálogo, afirmar que Zelaya voltará a Honduras "nas próximas horas". "Nós estamos com Zelaya, é preciso apoiá-lo", disse o presidente venezuelano, que mantém uma equipe permanente de diplomatas acompanhando o aliado (leia texto nesta página).
As declarações de Chávez foram criticadas pelo Departamento de Estado dos EUA, patrocinadores da iniciativa do diálogo mediado por Arias. "Nenhum país da região deve alentar nenhuma ação que possa aumentar potencialmente o risco de violência em Honduras nem nos países vizinhos", disse o porta-voz P.J. Crowley, ao ser questionado sobre o anúncio do mandatário venezuelano.
Um dos assessores que acompanham Zelaya na Nicarágua, onde ele passou os últimos dias, afirmou que ele tentará o seu retorno ao país entre amanhã e segunda-feira -com ou sem acordo-, mas não nas próximas horas.
Há duas semanas, Zelaya tentou voltar a Tegucigalpa a bordo de um avião venezuelano, mas a aeronave foi impedida de pousar por militares, que bloquearam a pista do aeroporto com caminhões. Confrontos entre manifestantes e forças de segurança neste dia causaram a morte de dois manifestantes, as únicas vítimas nos conflitos pós-golpe até aqui. As autoridades golpistas dizem que Zelaya tenta provocar um "massacre" em eventual confronto entre seus partidários e forças de segurança hondurenhas para aumentar a comoção popular e internacional por seu retorno.


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