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Zelaya ameaça com nova tentativa de volta
Presidente deposto planeja regresso a Honduras, à margem de diálogo com golpistas, que será retomado hoje na Costa Rica
Forças Armadas impediram 1ª tentativa de retorno; na ocasião, conflitos com apoiadores de Zelaya deixaram dois mortos
Orlando Sierra/France Presse
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Apoiadores do presidente deposto Manuel "Mel' Zelaya bloqueiam uma estrada hondurenha nas cercanias da capital Tegucigalpa, sob a vigilância de soldado
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANÁGUA (NICARÁGUA)
Sob a ameaça de que Manuel
Zelaya tentará novamente voltar a Honduras "nas próximas
horas", as comissões do presidente deposto e do governo interino de Roberto Micheletti
retomam hoje as negociações
na Costa Rica para buscar uma
solução à crise política.
Até ontem, a principal proposta sobre a mesa havia sido
apresentada pelo presidente da
Costa Rica e Prêmio Nobel da
Paz de 1987, Óscar Arias, mediador das negociações. Ele sugeriu um governo de transição
encabeçado por Zelaya, mas
com a presença de ministros ligados a Micheletti, para cumprir o resto do mandato até janeiro do ano que vem.
Ambos pertencem ao mesmo
partido, o Liberal (centro-direita), mas o presidente deposto ficou isolado da cúpula da sigla, que apoiou a sua deposição.
Por outro lado, Arias também propôs que Zelaya abandone sua campanha para convocar um referendo sobre uma
Assembleia Constituinte em
paralelo às eleições gerais de 29
de novembro.
A insistência de Zelaya em levar adiante uma votação sobre
o tema apesar da proibição da
Justiça e do Congresso foi a
principal justificativa para a
sua deposição, em 28 de junho.
Segundo um assessor de Zelaya que participa das negociações, o presidente deposto aceita a proposta de Arias, desde
que os eventuais ministros ligados ao governo Micheletti sejam escolhidos por ele.
Zelaya também abriria mão
da consulta sobre a Constituinte, mas não impediria que "o
povo" a convocasse.
Micheletti, porém, não tem
dado sinais de que concordaria
com a volta de Zelaya sob nenhuma circunstância. Nesta semana, afirmou que poderia renunciar desde que o seu ex-aliado não regressasse ao poder, mas a proposta já foi descartada como solução para a
crise pelo presidente deposto e
por Arias.
O principal trunfo de Micheletti é o apoio interno de todas
as instituições, entre as quais o
Congresso e as Forças Armadas, a Igreja Católica e a elite
econômica. Já Zelaya aposta na
condenação internacional contra o golpe e em sua popularidade nas camadas mais pobres
hondurenhas, que vêm realizando protestos quase diariamente desde a deposição, há
três semanas.
O aumento da tensão às vésperas da reunião de hoje levou
Micheletti a declarar anteontem toque de recolher durante
a noite -a medida havia sido
suspensa na segunda-feira.
Chávez
As negociações de hoje ocorrem sob uma intensa pressão
de Zelaya, que tem prometido
abandonar as negociações na
Costa Rica caso não haja um
acordo nesta semana e promete voltar a Honduras "a qualquer momento".
Ontem, foi a vez de Hugo
Chávez, que na semana passada
qualificou de "grave erro" a
tentativa de diálogo, afirmar
que Zelaya voltará a Honduras
"nas próximas horas". "Nós estamos com Zelaya, é preciso
apoiá-lo", disse o presidente
venezuelano, que mantém uma
equipe permanente de diplomatas acompanhando o aliado
(leia texto nesta página).
As declarações de Chávez foram criticadas pelo Departamento de Estado dos EUA, patrocinadores da iniciativa do
diálogo mediado por Arias.
"Nenhum país da região deve
alentar nenhuma ação que possa aumentar potencialmente o
risco de violência em Honduras
nem nos países vizinhos", disse
o porta-voz P.J. Crowley, ao ser
questionado sobre o anúncio
do mandatário venezuelano.
Um dos assessores que
acompanham Zelaya na Nicarágua, onde ele passou os últimos dias, afirmou que ele tentará o seu retorno ao país entre
amanhã e segunda-feira -com
ou sem acordo-, mas não nas
próximas horas.
Há duas semanas, Zelaya
tentou voltar a Tegucigalpa a
bordo de um avião venezuelano, mas a aeronave foi impedida de pousar por militares, que
bloquearam a pista do aeroporto com caminhões. Confrontos
entre manifestantes e forças de
segurança neste dia causaram a
morte de dois manifestantes, as
únicas vítimas nos conflitos
pós-golpe até aqui. As autoridades golpistas dizem que Zelaya
tenta provocar um "massacre"
em eventual confronto entre
seus partidários e forças de segurança hondurenhas para aumentar a comoção popular e
internacional por seu retorno.
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