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Morre aos 92 Walter Cronkite, mítico âncora da TV dos EUA
Apresentador da CBS deu notícias-chave como morte de Kennedy e chegada do homem à lua
"Ele era alguém em quem nós podíamos confiar, uma voz de certeza num mundo incerto", afirmou presidente Obama ao saber da morte
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Walter Cronkite, o âncora televisivo com voz de barítono,
rosto sério e bigode ralo que
narrou os principais eventos
mundiais dos anos 60 e 70 para
a classe média americana e
moldou o cargo jornalístico que
seria depois adotado por emissoras no mundo inteiro, morreu ontem em decorrência de
problemas cerebrovasculares.
Tinha 92 anos.
Conhecido pelo epíteto "o
homem mais confiável da América" e por terminar as transmissões com a frase "That's the
way it is" (é assim que as coisas
são, em tradução livre), apresentou o principal telejornal da
CBS de 1962 a 1981. Fez isso numa época, pré-Internet e com
TV paga ainda incipiente, em
que seu programa e os dos concorrentes, nas emissoras ABC e
NBC, tinham mais de 80% da
audiência total.
Sua relevância como o rosto
noticioso por excelência dos televisores do país era tamanha
que, em 1995, quase 15 anos
após sua aposentadoria, "Tio
Walter", o apelido carinhoso
pelo qual ele ficou conhecido,
ainda era apontado numa pesquisa de opinião feita pelo "TV
Guide" como o principal nome
no noticiário de TV em 13 de 14
categorias, entre elas "o mais
confiável".
"Walter foi sempre mais do
que somente um âncora. Ele
era alguém em quem nós podíamos confiar para nos guiar
em meio aos assuntos mais importantes do dia, uma voz de
certeza num mundo incerto",
disse o presidente Barack Obama, em declaração oficial. "Ele
era parte da família."
Foi principalmente pela voz
dele que milhões ouviram quatro momentos seminais da história recente norte-americana:
a morte do presidente John
Fitzgerald Kennedy, em 22 de
novembro de 1963, o começo
da virada da opinião pública a
respeito da Guerra do Vietnã,
após a Ofensiva do Tet, em
1968, a chegada do homem à
Lua, em 20 de julho de 1969, e o
processo que levou à renúncia
de Richard Nixon, em 1974.
No primeiro evento, Cronkite diz, enquanto tira os óculos
para olhar o relógio na parede
do estúdio da emissora: "De
Dallas, um boletim, aparentemente oficial: o presidente
Kennedy morreu às 13h, hora
central, 14h do Leste, cerca de
38 minutos atrás". Faz então
uma pausa, verte lágrimas discretas e recoloca os óculos.
Anos depois, diria em entrevista que se arrependeu de ter
mostrado emoção no ar.
No segundo, ele decide fazer
um editorial após visitar o front
-até então, evitava expressar
opiniões em suas transmissões,
diferentemente de seu antecessor, o mítico Edward R. Murrow (1908-1965), que o levou à
CBS em 1960. Considerado um
moderado politicamente,
Cronkite apoiara a entrada dos
EUA no conflito do Sudeste
Asiático.
Mudou de opinião ao voltar
do Vietnã após a campanha militar empreendida pelo lado comunista que deixou milhares
de mortos e feridos entre os
soldados americanos, sagrou a
percepção de que os EUA estavam perdendo uma guerra que
não era sua e abriu uma crise no
governo do presidente Lyndon
B. Johnson (1963-1969).
"Agora, parece mais certo do
que nunca que a experiência
sangrenta no Vietnã é um beco
sem saída", leu o âncora, após
as reportagens. Depois da
transmissão, Johnson diria a
famosa frase: "Se eu perdi
Cronkite, eu perdi o americano
médio". O presidente democrata acertou duplamente.
Walter Leland Cronkite Junior nasceu em 4 de novembro
de 1916 na cidade de St. Joseph,
Estado do Missouri. Já como
repórter da agência de notícias
UPI, cobriu a Segunda Guerra
Mundial em Londres. No dia do
desembarque das tropas aliadas na Normandia, ele foi acordado por militares, que disseram se ele tinha interesse em
cobrir um acontecimento do
qual não podiam dar detalhes.
Horas depois, estava num
avião bombardeiro B17 sobrevoando a praia de Omaha enquanto jovens soldados desembarcavam lá embaixo, no que ficaria conhecido como Dia D e
selaria o destino do conflito.
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