São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Morre aos 92 Walter Cronkite, mítico âncora da TV dos EUA

Apresentador da CBS deu notícias-chave como morte de Kennedy e chegada do homem à lua

"Ele era alguém em quem nós podíamos confiar, uma voz de certeza num mundo incerto", afirmou presidente Obama ao saber da morte

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Walter Cronkite, o âncora televisivo com voz de barítono, rosto sério e bigode ralo que narrou os principais eventos mundiais dos anos 60 e 70 para a classe média americana e moldou o cargo jornalístico que seria depois adotado por emissoras no mundo inteiro, morreu ontem em decorrência de problemas cerebrovasculares. Tinha 92 anos.
Conhecido pelo epíteto "o homem mais confiável da América" e por terminar as transmissões com a frase "That's the way it is" (é assim que as coisas são, em tradução livre), apresentou o principal telejornal da CBS de 1962 a 1981. Fez isso numa época, pré-Internet e com TV paga ainda incipiente, em que seu programa e os dos concorrentes, nas emissoras ABC e NBC, tinham mais de 80% da audiência total.
Sua relevância como o rosto noticioso por excelência dos televisores do país era tamanha que, em 1995, quase 15 anos após sua aposentadoria, "Tio Walter", o apelido carinhoso pelo qual ele ficou conhecido, ainda era apontado numa pesquisa de opinião feita pelo "TV Guide" como o principal nome no noticiário de TV em 13 de 14 categorias, entre elas "o mais confiável".
"Walter foi sempre mais do que somente um âncora. Ele era alguém em quem nós podíamos confiar para nos guiar em meio aos assuntos mais importantes do dia, uma voz de certeza num mundo incerto", disse o presidente Barack Obama, em declaração oficial. "Ele era parte da família."
Foi principalmente pela voz dele que milhões ouviram quatro momentos seminais da história recente norte-americana: a morte do presidente John Fitzgerald Kennedy, em 22 de novembro de 1963, o começo da virada da opinião pública a respeito da Guerra do Vietnã, após a Ofensiva do Tet, em 1968, a chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1969, e o processo que levou à renúncia de Richard Nixon, em 1974.
No primeiro evento, Cronkite diz, enquanto tira os óculos para olhar o relógio na parede do estúdio da emissora: "De Dallas, um boletim, aparentemente oficial: o presidente Kennedy morreu às 13h, hora central, 14h do Leste, cerca de 38 minutos atrás". Faz então uma pausa, verte lágrimas discretas e recoloca os óculos. Anos depois, diria em entrevista que se arrependeu de ter mostrado emoção no ar.
No segundo, ele decide fazer um editorial após visitar o front -até então, evitava expressar opiniões em suas transmissões, diferentemente de seu antecessor, o mítico Edward R. Murrow (1908-1965), que o levou à CBS em 1960. Considerado um moderado politicamente, Cronkite apoiara a entrada dos EUA no conflito do Sudeste Asiático.
Mudou de opinião ao voltar do Vietnã após a campanha militar empreendida pelo lado comunista que deixou milhares de mortos e feridos entre os soldados americanos, sagrou a percepção de que os EUA estavam perdendo uma guerra que não era sua e abriu uma crise no governo do presidente Lyndon B. Johnson (1963-1969).
"Agora, parece mais certo do que nunca que a experiência sangrenta no Vietnã é um beco sem saída", leu o âncora, após as reportagens. Depois da transmissão, Johnson diria a famosa frase: "Se eu perdi Cronkite, eu perdi o americano médio". O presidente democrata acertou duplamente.
Walter Leland Cronkite Junior nasceu em 4 de novembro de 1916 na cidade de St. Joseph, Estado do Missouri. Já como repórter da agência de notícias UPI, cobriu a Segunda Guerra Mundial em Londres. No dia do desembarque das tropas aliadas na Normandia, ele foi acordado por militares, que disseram se ele tinha interesse em cobrir um acontecimento do qual não podiam dar detalhes.
Horas depois, estava num avião bombardeiro B17 sobrevoando a praia de Omaha enquanto jovens soldados desembarcavam lá embaixo, no que ficaria conhecido como Dia D e selaria o destino do conflito.


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