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Polêmica em torno de mesquita em NY já prejudica os EUA
Protestos contra a construção de um templo perto do local do 11 de Setembro repercutem no mundo islâmico
Especialistas dizem que episódio pode atestar o que muitos interpretam como "guerra" entre os americanos e o Islã
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Já usada como arma pela
oposição na política interna
dos EUA, a controvérsia sobre a construção de uma
mesquita a dois quarteirões
do local do ataque do 11 de
Setembro, em Nova York, está afetando também suas relações exteriores.
No momento em que a popularidade de Barack Obama
cai sem parar no mundo islâmico, as atenções do Oriente
Médio e do mundo árabe começam a se voltar para as
reações iradas de americanos contrários ao projeto.
A ideia é construir um centro cultural, esportivo e religioso islâmico em uma área
que ainda toca sensivelmente os americanos, perto de
onde 3.000 pessoas morreram nas mãos de extremistas
islâmicos. A construção é
condenada pela maioria dos
nova-iorquinos, mas foi
aprovada pela prefeitura.
Republicanos compararam a mesquita à instalação
de um símbolo nazista perto
de um museu do Holocausto.
Até o líder democrata do Senado, Harry Reid, disse que
os muçulmanos deveriam
procurar outro lugar.
Obama acabou tocando no
assunto na semana passada.
Disse que muçulmanos têm o
direito constitucional à mesquita, mas evitou opinar sobre se é aconselhável fazer isso no local planejado.
"Já vemos um impacto negativo", disse Ahmed Rehab,
porta-voz do Conselho de Relações Americanas-Islâmicas. "Está se reforçando a impressão de que temos um
problema com o Islã."
Gary Sick, ex-membro do
Conselho de Segurança Nacional dos EUA e pesquisador da Universidade Columbia, em Nova York, concorda.
"O que vemos no mundo
árabe é a confirmação do que
a maioria já pensa, que os
EUA estão em guerra contra o
Islã", disse à Folha. "É uma
noção muito popular e muito
usada por extremistas."
ATENÇÃO
Na imprensa estrangeira, a
atenção ao tema é visível.
Jamil Mroue, publisher do
"Daily Star", de Beirute, escreveu editorial elogiando a
interferência de Obama. O
"Al Watan" (Síria) disse crer
que Obama entrou no assunto para reconquistar apoio de
muçulmanos, pois sabe que
estão "decepcionados com
promessas não cumpridas".
Lideranças muçulmanas
também opinaram. "Temos
de construir em todos os lugares", disse Mahmoud al
Zahar, do Hamas, grupo radical palestino considerado
terrorista pelos EUA.
Apesar do dano, analistas
não veem como certo um impacto duradouro. Para Sick,
"as pessoas [no Oriente Médio] são sofisticadas, sabem
do quanto o 11 de Setembro é
um tema sensível nos EUA."
Ele afirma que o impacto
da controvérsia atual é pontual e que o que realmente
importa para as relações dos
EUA com o mundo árabe é fazer avançar um acordo entre
Israel e os palestinos.
Já Rehab disse que vai depender das ações do governo. "Todos estão observando
e isso terá um impacto no legado de Obama. Como ele lidará com a mesquita é algo
que será lembrado daqui para frente", disse.
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