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ALEMANHA VOTA
Favorita contra o social-democrata Schröder, a conservadora Merkel pode não obter força bastante para reformas
Alemães decidem modelo de Estado na urna
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Dividida entre a direita -que
prega a continuidade das reformas do mercado de trabalho e da
Previdência Social para alentar a
cambaleante economia- e a esquerda -que iniciou as reformas
porém defende a manutenção de
uma importante rede de proteção
social-, mais de 60 milhões de
eleitores alemães estão aptos a decidir hoje que modelo de Estado
privilegiarão nos próximos anos.
Com exceção das últimas eleições legislativas, o país não vive
campanha tão polarizada há mais
de duas décadas. E, seguindo o
exemplo do pleito de 2002, a campanha teve muita agitação político-partidária e diferentes alternativas, embora tenha sido a mais
curta (cinco semanas) da história
desde a fundação da República
Federal da Alemanha, em 1949.
Angela Merkel, candidata da
aliança conservadora formada
pela União Democrata Cristã
(CDU) e pela União Social Cristã
(CSU), é a favorita para substituir
seu maior rival político atual, o
social-democrata Gerhard Schröder, na Chancelaria alemã.
Nas últimas semanas, ela apostou todas as suas fichas na necessidade de aprofundar as reformas
da Previdência e de flexibilizar o
mercado de trabalho para dinamizar a economia alemã, que, há
mais de uma década, apresenta
níveis insignificantes de crescimento -exceto em 2000 (3%).
Com isso, o desemprego, o mais
forte tema da campanha democrata-cristã, atinge hoje 11,4% da
mão-de-obra ativa do país (4,7
milhões de pessoas de uma população total de 82,5 milhões), e o
número de falências e de concordatas de empresas (sobretudo as
de baixo número de empregados)
poderá chegar a 35 mil em 2005.
Merkel pretende, portanto, continuar a desmantelar o tão aclamado Estado do Bem-Estar Social
alemão. Este, para os conservadores e para seus aliados liberais
-além dos mercados financeiros
e dos sindicatos patronais-, não
tem mais força para enfrentar a
concorrência externa imposta pela globalização e encontra-se fragilizado por conta do envelhecimento de sua população, que, logicamente, deixa a Previdência
ainda mais onerosa.
Todavia a vitória de Merkel, que
a tornaria a primeira mulher à
frente do governo da Alemanha,
poderá não ser tão doce quanto o
quadro que se desenhava há apenas algumas semanas.
Afinal, sua intenção é governar
ao lado dos principais aliados dos
conservadores, os liberais do FDP
(Partido Democrata Liberal), mas
as pesquisas dizem que isso poderá não ser possível em razão da recuperação do Partido Social-Democrata (SPD), de Schröder, iniciada após o triunfo do carismático chanceler (premiê) num debate há duas semanas.
Isso abriria caminho para a chamada "grande coalizão", que uniria os conservadores a seus maiores rivais na cena política alemã,
os social-democratas. Tal perspectiva seria negativa para a Alemanha, de acordo com a maior
parte dos especialistas, pois haveria um sério risco de bloqueio das
reformas -com ambos os partidos buscando parecer mais simpático ao público, tendo em vista
eleições futuras. O único caso de
grande coalizão na história alemã
do pós-guerra (em que os dois
maiores partidos dividiram o poder) ocorreu de 1966 a 1969, sob o
comando do chanceler Kurt
Georg Kiesinger, talvez o menos
conhecido líder do país dos últimos 60 anos. Por enquanto, a
CDU e o SPD descartam a formação de uma aliança.
Como pôde miraculosamente
fazer em 2002, Schröder ainda
tem esperança de virar o jogo no
último minuto. Para tanto, aposta
no alto número de indecisos
(30%) e nos temas que mais agradam a seu eleitorado: a manutenção dos benefícios sociais, embora seu governo tenha começado a
reformar o Estado do Bem-Estar
Social, e a política externa.
Assim, ele descreve sua oponente como uma nova Margaret
Thatcher, a primeira-ministra
britânica que realizou reformas
radicais no Reino Unido nos anos
80 "à custa dos trabalhadores".
Na esfera internacional, ele reitera que as disputas devem ser resolvidas pacificamente, numa
alusão direta à sua oposição, já em
2002, à invasão do Iraque, que lhe
valeu preciosos votos no último
pleito legislativo. Cerca de 70%
dos alemães são contrários à participação do país em guerras.
Mesmo que Merkel seja eleita,
não se deve, contudo, esperar reformas radicais. Afinal, Schröder
sofreu várias derrotas em eleições
regionais por conta das impopulares reformas que introduziu, cenário que a candidata conservadora quer de toda forma evitar.
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