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Acre vira refúgio de bolivianos
Estimativa é que mais de 500 pessoas, a maioria contrária a Morales, buscaram abrigo em cidades fronteiriças
Brasileiros que viviam em Pando, hoje sob estado de sítio, também imigraram; entre os fugitivos está líder de Comitê Cívico pandino
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASILÉIA (AC)
A violência no departamento
de Pando está provocando a fuga de dezenas de bolivianos e
brasileiros que vivem lá para as
cidades fronteiriças de Brasiléia e Epitaciolândia, no Acre. A
presença de dirigentes oposicionistas procurados pelo governo Evo Morales levou a tensão ao lado acreano e traz o risco de se transformar em desafio para a diplomacia brasileira,
já que alguns demonstraram a
intenção de pedir asilo.
O grupo dos brasileiros é formado principalmente por mulheres e filhos de trabalhadores
rurais, alguns que viviam no
país vizinho havia mais de 20
anos. Até ontem, 49 estavam
abrigados em albergues dos
dois municípios.
Em maior número, os bolivianos são quase todos funcionários departamentais nomeados pelo governador Leopoldo
Fernández, preso anteontem
sob acusação de violar o estado
de sítio decretado por La Paz
após os confrontos da semana
passada, que deixaram ao menos 15 mortos.
Para atender aos recém-chegados, o governo do Acre nomeou anteontem uma comissão formada pelo Corpo de
Bombeiros, pela Polícia Militar
e pelas duas prefeituras. O grupo é coordenado por José Alvanir, ex-prefeito de Brasiléia e
assessor da Secretaria Estadual
de Articulação. Entre as tarefas
estão a preparação dos albergues e o cadastramento de bolivianos recém-chegados.
"Até agora, não sabemos onde os bolivianos estão nem
quantos são. A estimativa que
ouvimos é de 500 a 1.000, mas é
uma margem muito grande. A
maioria é autonomista [oposição a Morales] e mora em Cobija. Mas não procuramos saber
de que lado são, a nossa função
é dar assistência", diz Alvanir.
Segundo ele, apenas 17 bolivianos procuraram abrigos -o
restante está com parentes, em
hotéis ou até já alugou casa.
Desde anteontem à noite, vários refugiados, todos anti-Morales, montaram uma espécie
de vigília na praça central de
Brasiléia (19 mil habitantes), a
apenas dez minutos de caminhada do centro de Cobija por
meio da ponte internacional.
Muitos carregam feridas dos
confrontos da semana passada.
"No momento em que o governador foi preso, acabou a segurança", disse o secretário departamental de Estradas, Julio
Cesar Villalobos, 28, um dos
que estavam na praça anteontem à noite. Segundo ele, há
cerca de 60 funcionários apenas de sua pasta em Brasiléia.
Também está na cidade a
presidente do Comitê Cívico de
Pando, Ana Melena de Suzuki,
apontada por Morales como
uma das culpadas pela violência da semana passada.
O governo boliviano informou que pediu a ajuda do governo brasileiro para procurar
e prender pessoas supostamente envolvidas no episódio ocorrido há uma semana, mas ainda
não formalizou nenhum pedido de extradição.
Medidas de segurança
O temor de que a violência na
Bolívia respingue no Brasil fez
com que a Receita Federal fechasse ontem seu posto fiscal
em Epitaciolândia "devido à
falta de condições adequadas
de segurança". Com a medida,
toda a importação e exportação
na fronteira está proibida.
Também ontem, quatro policiais militares estiveram por
cerca de uma hora vigiando o
consulado boliviano em Brasiléia devido a ameaças telefônicas e rumores de que os opositores tomariam o prédio.
"Até domingo, foram 85
ameaças dizendo que eu estava
na lista. Depois, parei de contar
os telefonemas", disse o cônsul
José Luis Mendez.
Assustada com a violência na
Bolívia, a caseira brasileira Maria das Dores da Silva, 53, esvaziou o óleo diesel das lamparinas de sua casa, a cerca de 20
km de Cobija. Com o combustível, completou o tanque do carro de um vizinho boliviano e foi
com duas filhas e um cunhado
até a estrada que corta a região.
Ali, um carro do Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) a trouxe a
Brasiléia, onde passou as últimas duas noites no Sindicato
dos Trabalhadores Rurais. Agora, diz que não voltará mais ao
país vizinho.
"Saí de lá chorando, a Bolívia
já foi muito boa. Morei 25 anos
e não vi nenhum problema, e
agora vem isso."
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