São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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IRAQUE

Em esforço para obter nova resolução do Conselho de Segurança da ONU, EUA suavizam linguagem, segundo diplomatas

EUA aceitam fazer concessões sobre ataque

INA/Associated Press
Saddam Hussein, durante cerimônia ocorrida em Bagdá (capital)


DA REDAÇÃO

Em um esforço para obter uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o Iraque, os EUA retiraram de sua proposta a linguagem dura que ameaça explicitamente Bagdá, informaram diplomatas ontem.
A proposta de resolução inicialmente elaborada pelos EUA e pelo Reino Unido previa a autorização para o uso automático da força contra o Iraque se o ditador Saddam Hussein não cooperasse com as inspeções.
A alteração tem como objetivo conquistar o apoio da França e da Rússia, que se opõem a essa autorização automática para o uso da força. Mas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher, disse que o objetivo continua a ser "uma resolução forte, que deixe claro que deve haver consequências".
Segundo Boucher, "essas consequências viriam na forma de ação se o Iraque não cumprisse" suas obrigações. Diplomatas que falaram sob condição de anonimato disseram que a ameaça deve ser ambígua e que, se os iraquianos obstruírem as inspeções, os EUA teriam de consultar o Conselho de Segurança antes de tomar qualquer atitude.
Os cinco membros permanentes com direito a veto estão divididos sobre o próximo passo em relação ao Iraque após o anúncio do mês passado de que os inspetores da ONU poderiam voltar incondicionalmente ao país agora, após cerca de quatro anos.
A França, apoiada pela Rússia e pela China, concordou com que as inspeções precisavam ser controladas, mas defendia uma abordagem (em duas fases) que daria ao Iraque a oportunidade de cumprir suas obrigações sem ameaças. Se o Iraque se recusasse a cooperar, uma segunda resolução autorizaria o uso da força.
O embaixador da França não quis se manifestar sobre a proposta norte-americana ontem, mas diplomatas disseram que autoridades em Paris estavam estudando o novo texto em meio a uma intensa atividade diplomática com o intuito de pôr fim ao impasse no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Igor Ivanov, elogiou a nova proposta dos EUA e disse que o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse-lhe que ela seria submetida à aprovação da ONU em breve.
"Há condições favoráveis para preservar a unidade da comunidade global e garantir o retorno dos inspetores internacionais e seu trabalho eficiente no Iraque", afirmou Ivanov, em Moscou.
O novo texto levaria em consideração a opinião de Hans Blix, chefe dos inspetores de armas da ONU que se opõe a várias idéias norte-americanas, incluindo uma escolta armada para os inspetores.
Ivanov não confirmou os detalhes da nova proposta, mas disse que ela tem como objetivo "a retomada do trabalho dos inspetores internacionais de armas no Iraque" e que ela não deve "sancionar o uso automático da força contra o Iraque".
Durante um debate aberto sobre o Iraque no Conselho de Segurança (em seu segundo dia ontem), dezenas de países -incluindo vizinhos do Iraque e aliados-chave dos EUA- se recusaram a endossar uma proposta de ação militar automática contra o Iraque caso Bagdá não coopere com a ONU.
Embaixadores da Ásia, da África, do Oriente Médio e da América Latina elogiaram a decisão iraquiana de permitir o retorno dos inspetores da ONU ao país, e muitos afirmaram que uma nova guerra pioraria a situação da população iraquiana e possivelmente mergulharia todo o Oriente Médio em um conflito, além de afetar a estabilidade mundial.

Brasil
O embaixador do Brasil na ONU, Gelson Fonseca, disse ontem que o uso da força contra o Iraque só deve ser considerado quando todos os recursos diplomáticos tiverem se esgotado.
"No caso do Iraque, o Brasil crê que é competência apenas do Conselho de Segurança determinar as medidas necessárias para assegurar o cumprimento das resoluções relevantes", afirmou Fonseca durante a reunião no Conselho de Segurança da ONU.
Segundo o governo, a ONU deve exercer suas responsabilidades para "reduzir as tensões e evitar o risco de consequências imprevisíveis que resultem em mais instabilidade".

Com agências internacionais



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