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Vaticano rediscute caráter vitalício do papado
DO ENVIADO ESPECIAL
A saúde frágil de João Paulo 2º,
83, e a expectativa de vida cada
vez maior das pessoas -especialmente nos países desenvolvidos- fizeram com que o Vaticano começasse a rediscutir o caráter vitalício do pontificado. Esse
seria um dos temas sobre os quais
os cardeais têm conversado em
reuniões fechadas.
O cardeal belga Godfried Danneels disse que no futuro próximo
será comum que os papas renunciem e que eles "devem ser livres
para decidir o momento de se
aposentarem". "Cada vez vivemos mais tempo, e não é possível
continuar com essa responsabilidade quando se tem 90 ou 100
anos, mesmo que se recebam os
melhores cuidados", disse, no último dia 9, Danneels, visto como
um dos possíveis sucessores de
João Paulo 2º.
As leis eclesiásticas permitem
explicitamente a renúncia de um
papa, mas exigem que a decisão
seja tomada livremente e que seja
"devidamente manifesta". A decisão, extremamente rara na história da igreja, não precisa da aceitação de nenhuma autoridade.
O cânone 332 do Código de Direito Canônico (principal documento legislativo da Igreja Católica) afirma que, "se acontecer que
o romano pontífice renuncie a seu
múnus (cargo), para a validade se
requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita
por alguém".
O Código de Direito Canônico
não prevê, no entanto, nenhuma
medida concreta no caso de perda
das faculdades mentais do líder
católico. Também não está claro
quem seria o encarregado de tomar uma decisão se a situação
chegasse a esse ponto.
O último papa a renunciar por
vontade própria foi Celestino 5º,
em 1294. Já o papa Gregório 12 foi
forçado a abdicar por causa de
disputas internas em 1415.
Saúde frágil
Em agosto de 2002, o papa admitiu, pela primeira vez, que vinha sofrendo pressões para que
renunciasse e abrisse caminho
para a eleição de um novo líder
católico. Sua saúde frágil, agravada pelo mal de Parkinson (desordem do sistema nervoso) e pela
artrose no joelho, despertaram
rumores de que ele renunciaria
durante a viagem que fazia à cidade de Cracóvia, que o consagrou
como arcebispo e cardeal, antes
de ser eleito papa, em 1978.
Ele negou qualquer intenção de
abandonar a liderança católica, e
o cardeal chileno Jorge Medina
Estevez afirmou ter ouvido o papa
dizer, em particular, que não renunciaria "porque Jesus não desceu da cruz".
A maior parte dos cardeais, ao
menos publicamente, declara ser
contra uma eventual renúncia.
No início deste mês, um cardeal
disse que o papa está próximo da
morte. O cardeal austríaco Christoph Schönborn, 58, arcebispo de
Viena e um dos principais líderes
católicos europeus, afirmou que
João Paulo 2º "está se aproximando dos últimos dias e meses de
sua vida". Foi o primeiro clérigo
da alta hierarquia católica a reconhecer que o estado de saúde do
papa é muito frágil. "O mundo inteiro está testemunhando um papa doente, incapacitado e que está
morrendo", declarou.
O papa mais uma vez surpreendeu. Depois das declarações, realizou uma cerimônia de canonização na praça de São Pedro e viajou
a Pompéia. Anteontem, apesar
das dificuldades, celebrou uma
missa na praça de são Pedro, onde
permaneceu durante mais de
duas horas.
De acordo com o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado
do Vaticano, o papa tem problemas de saúde, mas está plenamente à frente da Igreja Católica.
Sodano disse que, "sem dúvida
alguma", João Paulo 2º é quem toma decisões relativas ao cotidiano
da igreja e questões relacionadas
ao cerca de 1 bilhão de católicos
no mundo.
"Não estou fingindo que o papa
está bem, não. É óbvio que o tempo para todo mundo... é uma lei
da vida que alguém com 83 anos
não tenha a força de alguém com
33 anos", disse.
(PDF)
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