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ONU e EUA investigam abusos em Honduras
Comissão das Nações Unidas chega hoje ao país para averiguar denúncias
Há relatos de pessoas presas sem mandados, torturas e mortes; para testemunhas, Exército persegue zelayistas depois de manifestações
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Pessoas detidas sem autorização judicial, torturas, mortos, feridos nos hospitais. Enquanto as negociações para o
fim da crise política em Honduras não avançam, organizações
internacionais começam a investigar denúncias de violações
contra direitos humanos ocorridas desde o golpe de Estado
de 28 de junho.
Hoje chega ao país uma equipe do Alto Comissariado para
Direitos Humanos da ONU. O
grupo ficará três semanas para
fazer um relatório detalhado
sobre o assunto. Além da equipe, desde a semana passada um
funcionário do Departamento
de Estado dos EUA está em
Honduras para encontros com
a sociedade civil para averiguar
as mesmas denúncias.
A Folha conversou com familiares e pessoas que sofreram ataques da polícia.
A situação no país se agravou
depois da volta do presidente
deposto, Manuel Zelaya, a Tegucigalpa. O governo interino
decretou a suspensão de diversas garantias constitucionais
-em uma medida ainda em vigor, apesar das promessas de
Micheletti de revogá-la- e instituiu um toque de recolher.
Durante o toque de recolher,
ao menos três pessoas foram
mortas, mais de cem ficaram
feridas e 2.000 foram detidas,
de acordo com o Comitê de Direitos Humanos de Honduras.
Ontem, um sindicalista que estava em estado grave há quatro
semanas após ser baleado se
somou à cifra, segundo movimentos pró-Zelaya.
Entre os feridos está Adalberto Rodríguez, 18, que até a
última sexta estava internado
no Hospital Escola, sem previsão de alta. Ele levou um tiro
no rosto no dia 22 de setembro,
quando estava do lado de fora
de casa durante o toque de recolher. Outros dois amigos
também foram feridos.
Adalberto conta que participava diariamente das marchas
do movimento de resistência
contra o golpe. Naquele dia, os
policiais jogaram, além de
bombas de gás lacrimogêneo,
jatos de tinta vermelha para
marcar os manifestantes. "A
gente fugia do Exército, mas
outros policiais nos encontravam mais tarde. Vi muita gente
sendo presa assim", conta.
A vendedora Augustina
Moncada, 32, também disse ter
sido agredida durante o toque
de recolher. "Saí para comprar
comida de manhã e os policiais
estavam na esquina. Gritavam
que eu era da resistência, me
acertaram nas costas com um
cassetete", diz ela, que denuncia a prisão de quatro parentes.
"Foram levados para a penitenciária e não ouvimos mais
notícias deles", afirma.
A ONG Human Rights
Watch (HRW) denunciou que
autoridades hondurenhas bloqueiam investigações de abusos e violência. Segundo a
HRW, a área do Ministério Público responsável pelas denúncias tem o trabalho dificultado
por superiores e pela polícia.
Há dois dias, o embaixador
dos EUA Hugo Llorens manifestou sua preocupação com as
denúncias de violações dos direitos humanos no país e com a
continuidade do decreto que
estabelece o "estado de sítio".
Apesar de Roberto Micheletti ter afirmado publicamente
que o decreto foi suspenso, até
hoje não houve publicação no
diário oficial. A repressão contra as manifestações continua,
assim como a proibição de funcionamento de dois meios de
comunicação pró-Zelaya.
Medidas
Enquanto os líderes da Alba
(Aliança Bolivariana para as
Américas) aprovaram anteontem novas sanções econômicas
e comerciais contra o governo
interino de Honduras, os EUA,
que desde o golpe de 28 de junho cortaram ajuda financeira
em diversas áreas, não falam
em aprofundar a pressão.
Segundo um diplomata do
país que acompanha as negociações em Tegucigalpa, o cancelamento dos vistos de membros do governo interino, além
do corte nos recursos, já são
medidas "bastante duras". Micheletti e ministros tiveram
vistos para os EUA cancelados.
Autoridades americanas tem
exercido pressão sobre parlamentares hondurenhos, empresários e candidatos a presidente em busca de uma resolução rápida para a crise que inclua a restituição de Zelaya. Se
isso não ocorrer, diversos países ameaçam não reconhecer
as eleições de 29 de novembro.
Ainda ontem, um recurso
apresentado por um advogado
não ligado a Zelaya pedindo
que seja revisado o decreto que
retirou o presidente do poder
foi aceito para análise pela Suprema Corte do país, mas sem
prazo. Não havia expectativa de
qualquer resultado da ação que
tivesse impacto na crise.
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