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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Militares americanos afirmam se tratar de acidente de trânsito, mas iraquianos dizem que foi atentado

Explosão de caminhão mata 10 em Bagdá

Khalid Mohammed/Associated Press
Soldado americano vigia os destroços de um microônibus atingido por um caminhão de combustível que explodiu em Bagdá


DA REDAÇÃO

Pelo menos dez civis iraquianos morreram e 20 foram feridos ontem na explosão de um caminhão de combustível em Bagdá. Militares americanos afirmaram se tratar de um acidente de trânsito, mas a polícia iraquiana diz ter sido um atentado.
O incidente ocorreu no bairro de Bayaa no início da manhã. Um caminhão colidiu, em um cruzamento, com um microônibus lotado. As chamas atingiram carros que passavam pelo local.
"Era um caminhão de combustível que sofreu um acidente, pegou fogo e explodiu", disse o capitão Jason Beck, da 1ª Divisão Blindada, responsável pela segurança em Bagdá. "Não há prova de que tenha sido uma bomba", acrescentou, afirmando que os destroços e o local foram examinados por especialistas em explosivos.
Entretanto policiais iraquianos disseram que o caminhão levava explosivos e tinha como alvo uma delegacia próxima, que já foi usada como posto por soldados americanos e fora atacada com granadas-foguetes quatro dias antes.
Desde outubro, as delegacias se tornaram o alvo mais frequente de ataques da insurgência, que vê os policiais como colaboradores dos EUA. Nas últimas semanas, o número de policiais iraquianos mortos foi maior que o de soldados americanos, antes o principal objeto de ataque.
Em grande parte, a redução de ataques a militares se deve à intensificação das operações americanas para coibir os insurgentes.
No entanto a prisão do ex-ditador Saddam Hussein, vista como o maior trunfo americano no pós-guerra, parece não ter surtido efeito sobre os rebeldes. Desde a captura, no último sábado, não houve um só dia sem que ocorressem atentados -invariavelmente, explosões de veículos-bomba com vítimas civis.

Papel de Saddam
Documentos encontrados com o ex-ditador no momento de sua captura indicam que ele teria conhecimento da estrutura montada pelos insurgentes para solapar a ocupação iraquiana, embora sua participação não esteja clara -a principal suspeita é que ele financiasse parte dos ataques.
"Eu duvido que ele [Saddam] estivesse comandando operações diárias. Não é factível", disse o general Martin Dempsey, comandante da 1ª Divisão Blindada. Segundo Dempsey, a impressão é que os insurgentes prestassem contas a Saddam, "como um filho dá satisfação para seus pais".
Em declarações citadas pelo jornal "The Washington Post", o general disse que a comunicação dos insurgentes com Saddam parecia ser feita "unilateralmente e por meio de mensageiros, e não por via eletrônica (rádios)".
De acordo com o material apreendido, a rede insurgente teria ao menos 14 células diferentes. Desde a descoberta dos documentos, foram presos três suspeitos de organizar e financiar os ataques -nenhum figura na lista de 55 iraquianos mais procurados, dos quais 14 seguem foragidos.
Dempsey acredita haver cerca de mil insurgentes atuando em Bagdá -20% por ideologia e o restante apenas "aproveitando a oportunidade", provavelmente em troca de dinheiro.
O general também afirmou que os ataques contra as forças dos EUA diminuíram, enquanto as operações americanas contra a resistência aumentaram.
Ontem os EUA lançaram a operação "Ivy Blizzard" (nevasca de hera) em Samarra, 100 km ao norte de Bagdá. Mais 12 suspeitos de participar da insurgência foram capturados -outros 73 haviam sido detidos na véspera. Também foram detidos três suspeitos em Baquba, na mesma região. Entre eles, está um suposto comandante dos ataques.
Em Mossul, soldados dos EUA mataram três homens que tentaram atacá-los e feriram nove manifestantes que protestavam contra a prisão de Saddam. Na mesma cidade, um policial iraquiano foi morto a tiros por insurgentes.
Por sua vez, a Coréia do Sul anunciou que decidiu enviar mais 3.000 soldados ao Iraque a partir do início de 2004. O país já tem 675 médicos e engenheiros trabalhando na reconstrução.
Atualmente, estão no Iraque cerca de 130 mil militares americanos e aproximadamente 23 mil soldados de países que fazem parte da coalizão liderada pelos EUA.

Com agências internacionais

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