São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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ONG se retrata no Chile depois de informe com críticas a opositor

Chile Transparente reconhece erros em relatório que citou Sebastián Piñera

THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em desfecho de episódio que movimentou a campanha presidencial no Chile, a direção da ONG Chile Transparente, braço local da TI (Transparência Internacional), colocou o cargo à disposição nesta semana após reconhecer erros na produção de um informe crítico ao candidato opositor Sebastián Piñera.
A polêmica se centrou no capítulo chileno do Informe Global da Corrupção 2009 da TI, divulgado em setembro. O texto, produzido pela ONG local, se refere a uma compra por Piñera, em 2006, de ações da empresa aérea LAN como "uso de informação privilegiada".
De fato, o empresário de centro-direita pagou em 2007 multa de US$ 730 mil ao órgão regulador do mercado de ações por ter comprado papéis da LAN sabendo de antemão resultados financeiros da empresa. Mas a investigação do órgão apontou que houve uma infração de obrigação do acionista, e não o delito penal de uso de dados privilegiados.
O informe destaca ainda o fato de Piñera não ter recorrido da multa mesmo havendo apontado à época motivação política na sanção. "Apesar da decisão, Piñera não parece ter sofrido politicamente pelo incidente", afirma o relatório.
Citado pelo candidato do governo à Presidência, o ex-presidente Eduardo Frei, durante debate no mesmo dia de sua divulgação, o relatório causou celeuma na mídia chilena, já que Piñera rebateu suas afirmações. Motivou ainda uma crise institucional na ONG, que submeteu o material a uma comissão externa e agora promove o expurgo em retratação.
"A falta de precisão e cuidado de que padeceu o texto não foi detectada a tempo", informaram diretores da ONG na última segunda-feira ao colocarem seus cargos à disposição.
Fundada há dez anos, a ONG diz promover diretores de orientação política variada, mas na cúpula predominam nomes ligados à Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o país há 20 anos.
A atual presidente, Karen Poniachik, é ex-ministra de Mineração da presidente Michelle Bachelet, e o presidente do conselho assessor é o ex-presidente da República Patricio Aylwin (1990-1993). Após a divulgação do informe, descobriu-se que um de seus redatores trabalhara de 1991 a 2008 no Ministério da Fazenda.
Piñera, empresário de patrimônio avaliado em US$ 1 bilhão, venceu o primeiro turno no último domingo, com 44% dos votos. Frei, segundo colocado com 29,6%, tenta reaglutinar a esquerda e virar o jogo no segundo turno, em 17 de janeiro, apostando na crítica ao "poder do dinheiro" de Piñera.
No comando de Piñera, a possível queda da cúpula da ONG foi vista como confirmação do viés político do informe. "A renúncia demonstra que o trabalho foi guiado politicamente", afirmou à Folha José Izquierdo, chefe do grupo estratégico da campanha.
Já a campanha de Frei atribuiu o episódio a um problema interno da Chile Transparente. "Contudo, a multa sofrida por Piñera, da qual ele não recorreu, existe", afirmou Karin Sánchez, chefe de imprensa.
A reportagem procurou a ONG Chile Transparente, mas não obteve resposta.


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