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ONG se retrata no Chile depois de informe com críticas a opositor
Chile Transparente reconhece erros em relatório que citou Sebastián Piñera
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em desfecho de episódio que
movimentou a campanha presidencial no Chile, a direção da
ONG Chile Transparente, braço local da TI (Transparência
Internacional), colocou o cargo
à disposição nesta semana após
reconhecer erros na produção
de um informe crítico ao candidato opositor Sebastián Piñera.
A polêmica se centrou no capítulo chileno do Informe Global da Corrupção 2009 da TI,
divulgado em setembro. O texto, produzido pela ONG local,
se refere a uma compra por Piñera, em 2006, de ações da empresa aérea LAN como "uso de
informação privilegiada".
De fato, o empresário de centro-direita pagou em 2007
multa de US$ 730 mil ao órgão
regulador do mercado de ações
por ter comprado papéis da
LAN sabendo de antemão resultados financeiros da empresa. Mas a investigação do órgão
apontou que houve uma infração de obrigação do acionista, e
não o delito penal de uso de dados privilegiados.
O informe destaca ainda o fato de Piñera não ter recorrido
da multa mesmo havendo
apontado à época motivação
política na sanção. "Apesar da
decisão, Piñera não parece ter
sofrido politicamente pelo incidente", afirma o relatório.
Citado pelo candidato do governo à Presidência, o ex-presidente Eduardo Frei, durante
debate no mesmo dia de sua divulgação, o relatório causou celeuma na mídia chilena, já que
Piñera rebateu suas afirmações. Motivou ainda uma crise
institucional na ONG, que submeteu o material a uma comissão externa e agora promove o
expurgo em retratação.
"A falta de precisão e cuidado
de que padeceu o texto não foi
detectada a tempo", informaram diretores da ONG na última segunda-feira ao colocarem
seus cargos à disposição.
Fundada há dez anos, a ONG
diz promover diretores de
orientação política variada,
mas na cúpula predominam
nomes ligados à Concertação, a
coalizão de centro-esquerda
que governa o país há 20 anos.
A atual presidente, Karen
Poniachik, é ex-ministra de Mineração da presidente Michelle
Bachelet, e o presidente do
conselho assessor é o ex-presidente da República Patricio
Aylwin (1990-1993). Após a divulgação do informe, descobriu-se que um de seus redatores trabalhara de 1991 a 2008
no Ministério da Fazenda.
Piñera, empresário de patrimônio avaliado em US$ 1 bilhão, venceu o primeiro turno
no último domingo, com 44%
dos votos. Frei, segundo colocado com 29,6%, tenta reaglutinar a esquerda e virar o jogo no
segundo turno, em 17 de janeiro, apostando na crítica ao "poder do dinheiro" de Piñera.
No comando de Piñera, a
possível queda da cúpula da
ONG foi vista como confirmação do viés político do informe.
"A renúncia demonstra que o
trabalho foi guiado politicamente", afirmou à Folha José
Izquierdo, chefe do grupo estratégico da campanha.
Já a campanha de Frei atribuiu o episódio a um problema
interno da Chile Transparente.
"Contudo, a multa sofrida por
Piñera, da qual ele não recorreu, existe", afirmou Karin
Sánchez, chefe de imprensa.
A reportagem procurou a
ONG Chile Transparente, mas
não obteve resposta.
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