São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2001

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ÁFRICA

Kinshasa não diz quem cometeu nem quem planejou o crime; novo governo, dirigido pelo filho de Kabila, bombardeia rebeldes

Ministro do Congo anuncia morte de Kabila

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Laurent-Désiré Kabila, presidente da República Democrática do Congo (ex-Zaire), morreu às 10h da manhã (horário local) de ontem, segundo anunciou o ministro do Interior do país, Dominique Sakombi. O governo estabeleceu 30 dias de luto oficial.
De acordo com autoridades que não quiseram se identificar, o corpo de Kabila será enviado hoje do Zimbábue -para onde o presidente teria sido levado após ser baleado na terça- para sua cidade natal, Lubumbashi. O funeral deve ocorrer na próxima semana.
Pouco depois do anúncio de Sakombi, o novo governo congolês bombardeou uma base dos rebeldes no norte do país, segundo Jean-Pierre Bemba, presidente da Frente de Libertação do Congo, que é apoiada por Uganda.
A morte de Kabila continua cercada de mistério, pois diplomatas ocidentais haviam dito que ele já estava morto na terça. Poucos líderes mundiais têm tantos inimigos e aliados nos quais não podem confiar como tinha Kabila, que foi baleado no palácio presidencial na capital, Kinshasa, aparentemente por um soldado.
Joseph, 31, filho de Kabila, assumiu o comando do governo e das Forças Armadas anteontem e encontrou-se com diversos diplomatas ocidentais ontem.
As autoridades não deram detalhes sobre quem foi o autor do crime nem quem o planejou.
Com as Forças Armadas de diversos países africanos, o Exército do próprio Kabila e milícias congolesas e africanas envolvidas no conflito no Congo, a lista de possíveis mandantes é vasta.
Ruanda e Uganda, que comandam a rebelião contra Kabila, seriam suspeitos óbvios e foram os primeiros a divulgar a notícia de sua morte. Mas a maioria dos analistas crê que seja mais provável que o assassinato tenha sido planejado por Angola, que, junto com o Zimbábue, apoiou Kabila contra os rebeldes, mas ficou descontente com o modo como ele lidou com a guerrilha no norte e no leste do país.
Alguns especialistas dizem que que a ordem pode ter vindo de algum militar congolês, com ou sem a aprovação de Angola.
A história mais exótica apresentada até agora é a de que Kabila estava discutindo com seus generais sobre as recentes baixas ocorridas no campo de batalha quando um soldado, que estava na sala onde a reunião estava acontecendo, sacou sua arma e atirou nele.
"É possível que Kabila estivesse discutindo com seus generais e que um de seus guarda-costas o tenha baleado por causa disso", disse George Bloch, um analista do Grupo Internacional de Crises.
Para Ahmed Rajab, editor da revista "Africa Analysis", "além dos rebeldes, há muitas pessoas que gostariam de ver Kabila morto".
Tomado pela desconfiança, Kabila ficou cada vez mais paranóico e criou diversas agências de espionagem para vigiar seus inimigos.
Ele tentou manter seus aliados estrangeiros felizes dando-lhes parte das riquezas minerais do território congolês.
Muitos analistas crêem que Angola controle os serviços de inteligência congoleses e que nenhum novo regime possa se estabelecer sem sua aprovação.
O assunto dominou as discussões numa reunião de líderes africanos em Iaundé, capital de Camarões, com o presidente francês, Jacques Chirac, que não quis fazer comentários.
O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que também participa da cúpula, pediu "calma" a todos os países vizinhos e aos congoleses.



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