São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2002

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ÁFRICA

Lavas do monte Nyiragongo avançam sobre Goma, destruindo quase toda a área; 300 mil pessoas estão desabrigadas

Vulcão mata 45 e arrasa cidade no Congo

France Presse
Morador de Goma observa o aeroporto da cidade em chamas devido à erupção do monte Nyiragongo


DA REDAÇÃO

Pelo menos 45 pessoas foram mortas pela erupção do monte Nyiragongo, a 50 km da cidade de Goma, na República Democrática do Congo (ex-Zaire). Representantes da ONU dizem que cerca de 300 mil pessoas haviam deixado Goma e os vilarejos próximos ao vulcão anteontem, horas antes da erupção, o que evitou um número maior de mortes.
Testemunhas dizem que rios de lava de até 60 m de largura destruíram cerca de 80% da cidade. As lavas formaram um muro negro de quase 2 m de altura que atravessou Goma de leste a oeste e atingiu as águas do lago Kivu, na fronteira com Ruanda, deixando a região sem água potável.
A cidade ficou em chamas, enquanto tremores de terra a sacudiam a cada meia hora. De tempos em tempos, ouvia-se o estrondo das explosões de depósitos de gasolina. Apenas as casas e lojas de Himbi, o bairro mais rico da cidade, foram poupadas, por ficarem numa colina.
A maioria dos moradores havia deixado Goma anteontem à noite, quando o Nyiragongo começou a lançar cinzas e fumaça. Carregando colchões, panelas, crianças e galinhas, eles cruzaram a fronteira com Ruanda, refugiando-se na cidade de Gisenyi.
Milhares de pessoas dormiram ao relento à beira das estradas, completamente bloqueadas por carros, ou em qualquer lugar onde pudessem encontrar um pedaço livre de chão.
"Parecia que toda a população de Goma partia a pé. As pessoas passavam pela minha casa, e pelo menos 50 dormiram em frente ao meu portão", disse Rosamund Carr, uma americana que dirige um orfanato em Gisenyi. "O céu estava escarlate. Havia tremores terríveis; um deles foi tão forte que abriu uma brecha no teto de minha casa", contou.
O Nyiragongo amanheceu ontem mais calmo, e muitos moradores retornaram a Goma para ver a destruição. O Centro de Vulcanologia da cidade advertiu, no entanto, que as erupções não terminaram. "Ainda há movimentos de lava e pressão no centro do vulcão", disse um porta-voz.
Os habitantes perambulavam com o olhar perdido pelas ruas ou se agrupavam nas esquinas. Muitos amarraram panos úmidos ao rosto para se proteger do gás e da fumaça expelidos pelo vulcão.
Algumas mulheres choravam ruidosamente após encontrar suas casas destruídas, e lojas foram saqueadas.
"Os danos são enormes. Bairros inteiros arderam. Precisamos de água, comida, remédios e barracas" disse um porta-voz do Grupo Congolês pela Democracia, milícia que controla a região e combate o governo de Kinshasa com o apoio do Exército de Ruanda.
Goma, considerada a capital africana da crise, achava que já tinha visto o pior. Enfrentou fome, guerra e doenças. Também foi invadida por milhares de refugiados hutus depois do genocídio de tutsis, em 1994, em Ruanda, muitos deles suspeitos de terem realizado o massacre. Foi de Goma também que o presidente Laurent Kabila, morto no ano passado, lançou a rebelião que derrubou o ditador Mobutu Sese Seko.
As agências humanitárias estão avaliando a melhor forma de levar assistência aos desabrigados. A Cruz Vermelha instalou um acampamento em Gisenyi, e a ONU disse que 46 toneladas de biscoitos energéticos estão sendo enviadas à cidade.
A Bélgica, antigo poder colonial, anunciou a doação de cerca de US$ 1,1 milhão para ajudar a cidade e também está enviando medicamentos, água potável e purificadores de água.

Área de vulcões
O Nyiragongo é um dos oito vulcões existentes na fronteira entre República Democrática do Congo, Ruanda e Uganda. A região, coberta por florestas tropicais, é o habitat do gorila-da-montanha, espécie em extinção que vive nas encostas dos vulcões adormecidos. Além do Nyiragongo, apenas um outro vulcão permanece ativo, o Nyamuragira, que entrou em erupção no ano passado sem causar mortes. Desde 1977, o Nyiragongo não provocava mortes. Em 1994, ele entrou em atividade, mas formou apenas um lago de lava em sua cratera.


Com agências internacionais



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