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JUSTIÇA
Governo Kirchner fará denúncia
Argentina investigará tortura do pós-ditadura
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
O governo argentino deve apresentar hoje uma denúncia judicial
para que sejam investigadas violações de direitos humanos que
teriam sido cometidas em cursos
de treinamento de comandos militares no país entre os anos 1986 e
1994, entre os governos de Raúl
Alfonsín e de Carlos Menem.
"Cada presidente e cada ministro da Defesa terá que explicar o
que aconteceu", cobrou o presidente Néstor Kirchner. "É incrível
que, depois de tudo o que passamos, se tenha seguido com essa
prática de formação atroz", reagiu, referindo-se ao período de ditadura militar (1976-83).
Fotos divulgadas na última sexta-feira, cuja autenticidade foi
confirmada pelo Exército, mostravam uma espécie de campo de
prisioneiros sem roupas e encapuzados e pessoas atadas pelos
pés e pelas mãos sendo submetidas a práticas de tortura, como
choques elétricos.
O Ministério da Defesa afirmou
que as fotos foram tiradas durante um curso de comandos do
Exército em 1986, numa guarnição da Província de Córdoba.
"Vamos fazer uma denúncia à
Justiça criminal, colocando ao conhecimento do juiz as fotografias
e as informações que compilamos
para que a Justiça determine se
existiu a ocorrência de delitos, à
medida que existem normas que
protegem internacionalmente a
dignidade humana, os direitos
fundamentais e a integridade física", disse Eduardo Duhalde, secretário de Direitos Humanos.
Segundo o ministro da Defesa,
José Pampurro, os militares com
participação nos treinamentos
que ainda estão em atividade poderão ser afastados caso "se comprove que cometeram algum outro tipo de violação dos direitos
humanos".
Os ex-presidentes Menem e Alfonsín afirmaram desconhecer as
práticas usadas nos treinamentos
do Exército durante seus governos. "É a primeira notícia que tenho", disse Alfonsín. "Durante
minha gestão não tive notícia desse tema", afirmou Menem.
Amia
O novo líder da comunidade judaica argentina, Gilbert Lewi, disse ontem que existiu "irresponsabilidade e talvez encobrimento"
do Estado argentino no atentado
contra a Amia em 1994, que deixou 85 mortos.
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