São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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JUSTIÇA

Governo Kirchner fará denúncia

Argentina investigará tortura do pós-ditadura

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O governo argentino deve apresentar hoje uma denúncia judicial para que sejam investigadas violações de direitos humanos que teriam sido cometidas em cursos de treinamento de comandos militares no país entre os anos 1986 e 1994, entre os governos de Raúl Alfonsín e de Carlos Menem.
"Cada presidente e cada ministro da Defesa terá que explicar o que aconteceu", cobrou o presidente Néstor Kirchner. "É incrível que, depois de tudo o que passamos, se tenha seguido com essa prática de formação atroz", reagiu, referindo-se ao período de ditadura militar (1976-83).
Fotos divulgadas na última sexta-feira, cuja autenticidade foi confirmada pelo Exército, mostravam uma espécie de campo de prisioneiros sem roupas e encapuzados e pessoas atadas pelos pés e pelas mãos sendo submetidas a práticas de tortura, como choques elétricos.
O Ministério da Defesa afirmou que as fotos foram tiradas durante um curso de comandos do Exército em 1986, numa guarnição da Província de Córdoba.
"Vamos fazer uma denúncia à Justiça criminal, colocando ao conhecimento do juiz as fotografias e as informações que compilamos para que a Justiça determine se existiu a ocorrência de delitos, à medida que existem normas que protegem internacionalmente a dignidade humana, os direitos fundamentais e a integridade física", disse Eduardo Duhalde, secretário de Direitos Humanos.
Segundo o ministro da Defesa, José Pampurro, os militares com participação nos treinamentos que ainda estão em atividade poderão ser afastados caso "se comprove que cometeram algum outro tipo de violação dos direitos humanos".
Os ex-presidentes Menem e Alfonsín afirmaram desconhecer as práticas usadas nos treinamentos do Exército durante seus governos. "É a primeira notícia que tenho", disse Alfonsín. "Durante minha gestão não tive notícia desse tema", afirmou Menem.

Amia
O novo líder da comunidade judaica argentina, Gilbert Lewi, disse ontem que existiu "irresponsabilidade e talvez encobrimento" do Estado argentino no atentado contra a Amia em 1994, que deixou 85 mortos.


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