São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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CORRUPÇÃO

Democratas e republicanos correm para apresentar projetos que dêem maior transparência à ação dos grupos de pressão

Escândalo do lobby acua políticos dos EUA

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Pressionados pela opinião pública diante de um dos maiores escândalos políticos da história americana, os partidos Democrata e Republicano começaram a estudar e rascunhar projetos para mudanças na legislação e endurecimento das regras para a atuação de lobistas em Washington.
Republicanos tentam repelir a imagem de corrupção atrelada ao partido depois de diversas suspeitas, e os democratas jogam duro para convencer a população de que as acusações têm sentido.
Durante o recesso do Congresso, que volta a funcionar no início de fevereiro, lideranças do Partido Republicano na Câmara e no Senado apresentaram propostas de ampliar a quarentena de políticos antes que eles possam atuar como lobistas, banir viagens pagas por lobistas ou empresas e impor maior controle e transparência nos relatórios hoje existentes. Os democratas insistem em transformar os desvios éticos em crime e eliminar o sistema que os republicanos criaram para consolidar sua liderança.
As propostas vêm a reboque do acordo feito por Jack Abramoff, lobista ligado aos republicanos, com a Procuradoria Geral dos Estados Unidos. Ele se declarou culpado e prometeu auxiliar as investigações, o que de pronto provocou respostas até da Casa Branca. Considerado um dos primeiros arrecadadores de campanha do atual presidente, George W. Bush, Abramoff admitiu ter desviado dezenas de milhões de dólares enganando clientes. A equipe de Bush anunciou que parte do dinheiro levantado pelo lobista seria doado para a caridade. Apenas uma parte.
Com o capital político obtido após os atentados de 11 de Setembro, Bush conquistou a maioria das duas Casas do Congresso. E as lideranças políticas ali passaram a planejar um longo prazo de hegemonia republicana em Washington, o que incluiu influenciar as contratações em poderosas firmas de lobby. Os republicanos seriam preferidos. Desde então, os democratas reclamam que seus oponentes mantêm ligações suspeitas com o setor privado.
Para evitar essa imagem, os republicanos propõem agora que se aumente de um para dois anos a quarentena de um congressista ou servidor da Casa antes de atuar em firmas de lobby. Chegam a sugerir que os presentes, viagens e ingressos para eventos culturais e esportivos sejam banidos de todo.
Na proposta dos democratas, deveria haver mais detalhes nos relatórios preenchidos hoje com o nome do lobista e os gastos realizados para influenciar políticos. Passariam a contar também as refeições e os presentes. E a divulgação ocorreria a cada trimestre, por meio da internet.
Ambas as propostas ainda são preliminares. A versão final será consolidada com a volta dos trabalhos legislativos no início do mês que vem. Mesmo assim, ambas carecem de um ponto fundamental, e é nisso que se baseiam as ressalvas dos lobistas: como será feita a fiscalização do cumprimento das regras.
Muitas regras relativas aos lobistas são cumpridas, sobretudo porque são vagas no que diz respeito aos valores gastos e sobre a identificação dos clientes.
Desde o ano passado, o Congresso vem tentando modificar as regras e tornar mais eficaz a fiscalização. As eleições deste ano e a repercussão do caso Abramoff contribuem para turbinar o assunto. Ainda é preciso, porém, verificar como será na prática. Para isso, apenas o tempo.


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