São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Para Human Rights Watch, guerra ao terror é desculpa usada por outros países para atacar opositores

Mau exemplo dos EUA mina direitos, diz ONG

Mark Wilson - 26.ago.04/Reuters
Presos se agarram às grades na prisão de segurança máxima da base de Guantánamo, em Cuba


DA REDAÇÃO

Novas provas mostram que, em 2005, tortura e maus-tratos foram uma parte deliberada da estratégia de contraterrorismo do governo de George W. Bush, minando a defesa global dos direitos humanos, segundo afirmou ontem a organização não-governamental Human Rights Watch ao divulgar seu Relatório Anual de 2006.
As novas provas obtidas pela HRW mostram que os métodos abusivos de interrogatório por parte de forças de segurança americanas não são limitados aos erros de alguns soldados de baixa patente, mas constituem uma escolha política consciente de autoridades graduadas americanas.
Isso minou a capacidade de Washington de pressionar outros Estados acerca de violações aos direitos humanos ou do respeito das leis internacionais, diz a introdução do relatório de 532 páginas.
"Combater o terrorismo é vital para a causa da defesa dos direitos humanos. Mas o uso de táticas ilegais contra supostos terroristas é tanto errado quanto contraproducente", afirmou Kenneth Roth, diretor-executivo da HRW.
Ele disse ainda que o uso dessas táticas ilegais alimenta o recrutamento de terroristas, desencorajando a participação popular em esforços antiterroristas e criando um enorme grupo de detidos que não podem ser processados.
"Em 2005, ficou claro que maltratar detidos se tornou uma parte central e deliberada da estratégia do governo Bush no que tange ao interrogatório de suspeitos", diz o relatório divulgado ontem.
Aliados dos EUA, como o Reino Unido e o Canadá, acabaram influenciados por Washington e buscaram minar importantes proteções globais aos direitos humanos. Londres tentou enviar suspeitos de elo com o terror a países em que eles tinham grandes chances de serem torturados com base em garantias de bom tratamento sem credibilidade.
Já o Canadá buscou diminuir o valor de um acordo sobre o tratamento de suspeitos, segundo a HRW, e a União Européia continuou a relegar ao segundo plano a defesa dos direitos humanos em suas relações com países considerados importantes para a guerra ao terrorismo, como a Rússia, a China e a Arábia Saudita.
Muitos governos, entre os quais o do Uzbequistão, o da Rússia e o da China, usaram a guerra ao terror, decretada por Bush após o 11 de Setembro, para atacar seus oponentes políticos, classificando-os de "terroristas islâmicos", de acordo com o texto da ONG de defesa dos direitos humanos.
Esta documentou vários casos de abusos sem relação com a guerra ao terror. Ao longo de 2005, o governo do Uzbequistão massacrou centenas de manifestantes em Andijan, o do Sudão consolidou a política de "limpeza étnica" na região de Darfur, e atrocidades recorrentes foram registradas na República Democrática do Congo (ex-Zaire) e na república russa da Tchetchênia.
Repressão severa a opositores foi registrada em Mianmar, na Coréia do Norte, no Tibete e em Xinjiang (China), enquanto a Síria e o Vietnã mantiveram duras restrições às atividades da sociedade civil. E o Zimbábue realizou "expulsões forçadas" de fazendeiros brancos de suas propriedades.
A HRW culpou autoridades americanas e iraquianas e a insurgência pela grave situação dos direitos humanos no Iraque, onde a ocupação militar liderada pelos EUA causou dezenas de milhares de mortes civis e permitiu o surgimento da insurgência.

Brasil
Como de hábito, o texto anual da HRW registrou "significativas" violações aos direitos humanos no Brasil. "Defensores dos direitos humanos sofrem ameaças e ataques, a polícia é muitas vezes violenta e corrupta, as condições nas prisões são aterradoras, e a violência rural e os conflitos agrários são recorrentes.", diz a HRW.
E a "desastrosa" situação dos direitos humanos no Haiti, onde o Brasil lidera missão da ONU, piorou ainda mais, segundo a ONG.


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