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IRAQUE SOB TUTELA
"Enquanto ninguém assumir publicamente que ele está morto, teremos uma ponta de esperança", diz irmã
Para família de brasileiro desaparecido, Lula foi omisso
TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A família do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr.,
que, há exatamente um ano, desapareceu no Iraque, diz estar decepcionada com a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Faltou a ele falar como um líder
[de nação]. Faltou dele um pronunciamento de caráter humanitário, um apelo pela vida do meu
irmão", disse Isabel Vasconcellos.
Em resposta às críticas, a Presidência emitiu uma nota afirmando que, desde o desaparecimento,
o presidente "empenhou-se com
determinação na elucidação do
caso e mobilizou toda a estrutura
do governo para essa tarefa", citando o envio do embaixador Affonso Celso de Ouro-Preto "para
estabelecer contatos diretos em
países como a Síria, Jordânia, Líbano e Palestina (sic)" e telefonemas de Lula aos presidentes da Síria e da Autoridade Palestina pedindo ajuda nas investigações.
O engenheiro desapareceu em
19 de janeiro de 2005, quando o
comboio em que estava foi atacado pelo grupo Esquadrões Al Mujahidin, perto de Beiji (norte), onde trabalhava em uma hidrelétrica. "Desde então, a gente monitora todos os seqüestrados libertados. A primeira coisa que fazem é
agradecer aos presidentes de seus
países por seus apelos públicos. A
questão é muito delicada, e o pronunciamento do presidente de
uma nação tem peso significativo
no desfecho do caso", crê Isabel.
Para ela, mesmo que os terroristas não tivessem o que pedir ao
Brasil, eles esperavam o empenho
pessoal de Lula. "Aqui, o apelo
veio do chanceler Celso Amorim,
nunca do presidente."
O Itamaraty, em nota oficial, cita os apelos de Amorim, sem
mencionar manifestações públicas de Lula. Mas afirma que o desaparecimento foi tratado pelo
presidente e pelo chanceler "com
interlocutores do mais alto nível".
Isabel disse que tentou, em vão,
insistentemente uma audiência
com Lula. "Fomos nós que entramos em contato com o Itamaraty.
Eles disseram que não tinham
ciência de que João tinha família,
além da mulher e dos filhos."
Como a Presidência, o Itamaraty afirma "continuar empenhados", mas frisa que "a difícil situação prevalecente no Triângulo
Sunita, durante grande parte dos
últimos 12 meses, dificultou sobremaneira a realização de investigações". "Caso for necessário,
poderão ser organizadas novas
missões à região", diz a nota.
Já a família reza para encontrar
o corpo do engenheiro. "Às vezes,
achamos que ele está desmemoriado, vagando pelo Iraque. Enquanto ninguém assumir publicamente que ele está morto, vamos ter uma ponta de esperança."
Diariamente Isabel monitora sites de redes de TV árabes. "Acompanho tudo o que sai em inglês.
Às vezes, espero uma imagem dele. Meu marido, que descende de
libaneses, acompanha jornais e
TVs árabes. Já apareceram os corpos de todos os reféns mortos.
Por que só não o do meu irmão?"
Hoje, a família não fará ato público. Mas vai mandar rezar uma
missa, como faz toda semana.
Seqüestros continuam
No Iraque, dois engenheiros
quenianos desapareceram em
uma emboscada que deixou dez
mortos em Bagdá.
A família da jornalista americana Jill Carroll, seqüestrada na semana passada, renovou os apelos
por sua libertação, e um grupo
anunciou ter soltado a irmã do
ministro do Interior iraquiano,
que sumira duas semanas antes.
Com agências internacionais
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