São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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ARTIGO

Fé com cautela

ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"

Já tivemos o período de esperança excessiva em Barack Obama. Já passamos pelo período no qual os críticos apontaram os limites do que se pode esperar que ele consiga realizar no palco internacional -e do que é provável que realize. Então, quem sabe, talvez seja hora de voltarmos a expressar um pouco de esperança.
As razões para uma atitude de cautela são claras. Só foi preciso assistir à sabatina no Senado de sua indicada para secretária de Estado, Hillary Clinton, na semana passada, para sentir as restrições. Buscando pessoas com experiência em temas internacionais, Obama se cercou de figuras do passado clintoniano.
Mas ainda é muito cedo e fácil demais fazer pouco caso de Obama, dando de ombros com resignação e dizendo que ele será "mais do mesmo". Nem que seja apenas porque ele representa uma quebra com o passado, personificado em Bush, e está comprometido com essa quebra.
Apesar dos esforços de Condoleezza Rice para moderar a diplomacia de Bush, a realidade foi a de uma política externa intervencionista que criou novos inimigos, expôs relações antigas a tensões e explodiu o mito dos EUA como única hiperpotência mundial. Ao pautar sua política pelo foco estreito da "guerra ao terror" e a divisão maniqueísta de países entre forças do bem e do mal, Bush recriou uma Guerra Fria.
Simplesmente por afastar-se das posições de seu antecessor, Obama vai melhorar radicalmente a posição dos EUA no mundo e proporcionar a Washington o espaço necessário para desenvolver novas alianças e políticas diferentes.
Obama pode -e vai- começar sua Presidência com poucas dessas ilusões, ou mesmo nenhuma. Seu discurso ainda é imbuído da visão da América como potência mundial singular, dotada da missão especial de promover a democracia e seus valores em todo o mundo.
Mas, em suas declarações domésticas, ele enfatiza sobretudo a necessidade da inclusão, e acho que ele quer adotar a mesma abordagem no exterior, ouvindo a gama mais ampla possível de opiniões e procurando definir uma abordagem ampla que inclua todos os lados.
É claro que os fatos podem obrigá-lo a seguir um rumo diferente. Os fatos certamente vão testar seu julgamento. Por enquanto, porém, o mundo deve dar um profundo suspiro de alívio porque um período ativista chegou ao fim, e um período de abertura está começando.


Tradução de CLARA ALLAIN


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