São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2000


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CONSERVADORISMO
Carolina do Sul, que faz hoje primária republicana, tem escola que expulsa homossexuais
Universidade veta namoro inter-racial

Associated Press - 14.fev.00
O pré-candidato do Partido Republicano à Presidência Alan Keyes faz discurso na Universidade Bob Jones, na Carolina do Sul


MARCIO AITH
enviado especial à Carolina do Sul

As regras internas de uma universidade encravada no conservador Estado da Carolina do Sul agitam o debate presidencial norte-americano.
Nas últimas duas semanas, os pré-candidatos democratas e republicanos trocam acusações sobre o que pensam a respeito da política interna da Universidade Bob Jones, uma escola fundamentalista cristã que, dizendo seguir à risca a Bíblia, proíbe namoros inter-raciais entre estudantes e expulsa alunos homossexuais.
Fundada em 1927 com dinheiro privado e situada na cidade de Greenville, no noroeste do Estado, a Universidade "entrou" na campanha presidencial ao convidar alguns pré-candidatos para dar palestras a seus alunos.
Como o Estado faz hoje uma das mais disputadas primárias republicanas da história, a escola ganhou destaque nacional.
O governador do Texas e ligeiro favorito na primária, George W. Bush, está sendo criticado duramente por não ter condenado com veemência a política racial da instituição em palestra a cerca de 3.000 alunos no final da semana passada. O senador John McCain recebe críticas por ter deixado de ir à universidade e ter-se negado a debater com os estudantes.
Vista de dentro do campus, Bob Jones parece ser uma universidade como as outras. Embora vestidos com menos cor -cores berrantes e qualquer tipo de música que não temas religiosos antigos estão proibidos-, os alunos parecem jovens normais.
Mas qualquer conversa revela uma concepção de mundo aparentemente incompatível com o sistema jurídico norte-americano e com os dias de hoje.
"A Bíblia diz que a mistura de raça e de línguas na Torre de Babel foi feita com o objetivo de ameaçar Deus", explicou à Folha Rebecca, de 22 anos. "Deus separou as raças no Gênesis e essas barreiras até hoje existem na língua, na cultura, na geografia e na etnia por alguma razão."
Se um aluno branco é pego namorando uma asiática ou uma negra pode ser expulso, assim como os alunos homossexuais.
Em 1996, Wayne Mouritzen, ex-aluno e pastor aposentado, recebeu uma carta da reitoria da Bob Jones quando a universidade soube que era homossexual.
"É com desgosto que informamos que, enquanto estiver vivendo como um homossexual, é claro que não o deixaremos entrar em nosso campus e que será preso se tentar", disse na carta Jim Berg, reitor dos alunos.
A Folha tentou falar com Bob Jones 3º, presidente da instituição. Sua secretária, Betty, disse que ele está viajando. "Mesmo se estivesse, não falaria com o senhor, pois está cansado da imprensa suja e pecaminosa".
Jonathan Pait, porta-voz da universidade, limitou-se a dizer que, por ser uma universidade privada, tem o poder de definir suas próprias regras. "Não podemos obrigar nossos alunos a acreditar ou não em nossos princípios, mas podemos dizer: você fez sua decisão, agora vá embora", disse ele. "Cristãos de todas as raças têm uma convivência harmônica no nosso campus. Entendemos que o preconceito é biblicamente errado, e ele não é tolerado aqui."
A universidade também condena o catolicismo, que chama de satânico: a missa católica seria uma blasfêmia, e o papa, um anticristo perigoso.
Várias entidades de direitos civis tentaram, sem sucesso, processar a escola. A Justiça entendeu que, por ser privada, ela teria poder de definir suas regras, mas ainda está em andamento uma ação movida por entidades que defendem direitos de minorias.


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