FÁBIO ZANINI
de Londres

O número de mulheres vítimas de estupro ou abuso sexual na Inglaterra e País de Gales pode ser mais de dez vezes maior do que indicam os dados oficiais.
A estimativa é do Ministério do Interior britânico, que comparou os registros policiais com levantamentos de pesquisadores junto a mulheres britânicas, baseados em amostragens.
Oficialmente, cerca de 25 mil casos de estupro e abuso sexual são denunciados à polícia anualmente, mas a maioria das mulheres, por medo ou vergonha, acaba escondendo a condição de vítima.
"Nossos estudos permitem estimar que haveria entre 118 mil e 295 mil ocorrências todos os anos na Inglaterra e no País de Gales", diz o Ministério do Interior.
Um dos dados mais impressionantes divulgados pelo governo diz respeito ao perfil dos agressores -89% deles são pessoas íntimas da vítima (como marido, padrasto, namorado) ou ao menos conhecidas.
Isso representa um crescimento em relação a dados de 1990, quando estudo semelhante constatou que conhecidos ou pessoas íntimas correspondiam a 70% dos responsáveis por crimes de ordem sexual.
"É inaceitável que tantas mulheres sejam vítimas de violência sexual dentro de casa e que muitas mais fiquem tão assustadas que não consigam sair às ruas", disse Margaret Jay, porta-voz do governo para assuntos relacionados à violência contra mulheres.
Segundo Daphney Glick, presidente do Conselho Nacional de Mulheres (organização não governamental que luta pela proteção a mulheres), o relatório do governo confirma algo de que já se suspeitava.
"Nós sempre soubemos que isso estava acontecendo. O problema é que, muitas vezes, os estupradores, mesmo denunciados, acabam conseguindo não ir para a cadeia e se tornam uma nova ameaça para as vítimas", disse Glick à Folha.


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