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MÍDIA
Sygma, sinônimo de excelência, demite seus fotógrafos após crise causada por mudanças tecnológicas e de enfoque do noticiário
Crise abala megagência de fotojornalismo
JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS
Uma instituição da imprensa
internacional morreu na semana
passada, embora sua morte não
tenha sido noticiada com destaque. A agência de fotojornalismo
Sygma -maior do mundo em
sua área de atuação, sinônimo de
excelência em fotojornalismo nos
últimos 25 anos- demitirá todos
os seus fotógrafos contratados.
Após uma greve que durou 16
dias, os 42 fotógrafos e quase a
metade dos outros funcionários
contratados da sede da Sygma em
Paris aceitaram acordos de demissão. É o fim da disputa trabalhista na qual fotógrafos de guerra
da Sygma, já grisalhos, fotografaram-se uns aos outros enquanto
faziam manifestações, nus. E, segundo os fotógrafos, também é o
fim da Sygma como agência fotográfica de primeira linha.
Criada após uma dissidência da
agência Gamma, em 1973, a
Sygma caiu vítima, em parte, dos
avanços e das mudanças tecnológicos nos usos e costumes da mídia, que ameaçam enfraquecer todas as grandes agências fotográficas internacionais. Além disso, foi
gravemente prejudicada pelo casamento infeliz, que já dura três
anos, com a Corbis (empresa pertencente ao fundador da Microsoft, Bill Gates), que se tornou a
maior proprietária e fornecedora
mundial de imagens on-line.
Quando adquiriu a Sygma, em
1999, a Corbis prometeu transformar a agência na base de sua estratégia global. Basicamente, ela
se tornaria uma espécie de "grande loja" de fotos de todo tipo para
jornais, revistas e sites.
Na verdade, dizem os fotógrafos
da Sygma, a Corbis estava interessada apenas em explorar o nome
da agência e seu acervo de 40 milhões de imagens. Ela não manifestou nenhuma compreensão ou
interesse, e tampouco investiu
qualquer dinheiro, no desenvolvimento da Sygma como agência de
fotojornalismo.
"A Corbis nos transferiu para
um escritório caro em Paris, mas,
apesar de sermos dirigidos por
Bill Gates, não nos deu a tecnologia de última geração da qual precisávamos", disse um dos mais
experientes fotógrafos da agência,
Patrick Durand, 49. "Sua abordagem era baseada na utilização do
acervo de imagens da Sygma.
Seus executivos não tinham a menor idéia de como organizar a cobertura fotográfica das notícias,
nem de como vender as imagens
que produzíamos. Chegamos à
conclusão lógica, porém absurda:
uma agência fotográfica sem fotógrafos. O nome Sygma pode sobreviver por algum tempo ainda,
mas, na essência, ela morreu."
A direção da Corbis-Sygma diz
que está reposicionando a agência
para reduzir as perdas substanciais sofridas nos últimos anos (situação semelhante a de outras
agências de qualidade, como Sipa
e Gamma). Todos os fotógrafos
que trabalham para a agência, de
agora em diante, serão free-lancers (como muito sempre foram).
Antes, a agência desenvolvia as
idéias, organizava as viagens e
custeava boa parte das despesas.
Agora, caberá a fotógrafos free-lancers, credenciados pela agência, fazer tudo por conta própria.
A Sygma se limitará a vender seu
trabalho e dividir o dinheiro.
"Sendo assim, não haverá razão
para um fotógrafo conhecido trabalhar para a Sygma. Todos os
profissionais experientes ou vão
trabalhar por conta própria ou
formarão agências novas, menores", disse Durand, veterano de
conflitos que abrangem desde a
guerra entre União Soviética e
Afeganistão até a Guerra do Golfo. "Se sobreviver, a Sygma ficará
com os principiantes."
Tudo isso é negativo porque as
grandes agências fotográficas como Sygma, Gamma e Sipa, em
suas épocas áureas, eram uma
força que promovia a excelência e
a originalidade, ampliando os limites do fotojornalismo -logo,
do próprio jornalismo.
O surgimento de novas tecnologias como câmeras digitais, telefonia via satélite e transmissão de
imagens on-line acabou prejudicando as agências fotográficas especializadas e beneficiando as
agências de notícias que produzem texto e imagens, como Reuters, Associated Press e France
Presse. Essas agências sempre dominaram as imagens vistas nos
jornais diários. Nos últimos anos,
passaram a ocupar espaço cada
vez maior também em revistas semanais e mensais.
O arrocho imposto aos orçamentos de publicações em todo o
mundo, o movimento em direção
a um jornalismo mais light, mais
"baseado em gente" e mais distante das notícias nuas e cruas,
mesmo nas revistas vistas como
"sérias", leva os editores a relutar
em pagar o preço de um fotojornalismo de excelente qualidade,
quando podem ter acesso a fotojornalismo de boa qualidade e supostamente "de graça", na medida em que as fotos vêem incluídas
nos valores fixos que pagam pelas
assinaturas dos serviços das agências de notícias.
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