São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2002

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Outros militares se sublevarão, afirma coronel

DA REDAÇÃO

Outros oficiais venezuelanos devem se somar à rebelião contra o presidente Hugo Chávez nos próximos dias. A previsão é do coronel Pedro Soto, primeiro oficial da ativa a pedir a renúncia do presidente, no último dia 7.
O coronel nega que haja um movimento militar organizado com o intuito de derrubar o presidente e diz que não haverá golpe. Segundo ele, o pedido de renúncia faz parte de uma saída institucional para a atual crise política.
"Não adotaremos nenhuma posição extrema", disse ele em entrevista à Folha, por telefone, ontem, de Caracas. Leia a seguir trechos da entrevista. (RW)

Folha - A sublevação do vice-almirante Carlos Molina Tamayo faz parte de um movimento organizado para derrubá-lo?
Coronel Pedro Soto -
A Venezuela é um país livre. Não podemos admitir um regime do tipo totalitário como o que vem tentando implementar o presidente Chávez. Os militares temos a obrigação e a responsabilidade de defender a pátria e as instituições, e é o que o vice-almirante fez hoje [ontem". Ele está fazendo isso por vontade própria. E a ele podem se somar outros oficiais descontentes que façam declarações por sua própria vontade, por sua própria consciência.

Folha - Mas os senhores mantêm contato entre si?
Soto -
A regulamentação militar da Venezuela não permite que façamos reivindicações ou ações conjuntas. Atuamos de acordo com a consciência de cada um.

Folha - Na semana passada, o jornal "Tal Cual" publicou uma reportagem sobre um suposto documento, elaborado por oficiais, que estaria circulando nos quartéis como uma espécie de manual para derrubar o presidente. Existe realmente um plano para derrubá-lo?
Soto -
Não se trata de derrubar o presidente. Trata-se de fazer uso das regulamentações e da institucionalidade. E dentro da institucionalidade está prevista a renúncia do presidente.

Folha - E se ele não renunciar, o que acontecerá?
Soto -
O povo continuará lutando. Eu espero que a Venezuela siga lutando até que o presidente tome essa decisão.

Folha - E isso incluiria um movimento armado para derrubá-lo?
Soto -
Eu não imagino nenhum golpe de Estado, nenhum governo de fato.

Folha - O presidente, por ter participado de um golpe, em 1992, teria hoje autoridade para evitar um golpe contra si próprio?
Soto -
Não sei se o presidente tem autoridade moral para nada. O presidente não pode tratar de implementar um sistema totalitário, tirânico, na Venezuela, quando nós não estamos dispostos a suportá-lo nem a aceitá-lo. Enquanto ele se mantiver fora do sistema democrático, vamos combatê-lo. Vamos combatê-lo com nossas idéias, com nosso pensamento, com nossas ações. Não adotaremos nenhuma posição extrema. Seremos democráticos, como é a Constituição venezuelana, agora e sempre.

Folha - Na semana passada, o sr. estabeleceu uma data-limite, até o dia 19 de abril, para que o presidente renuncie ou mude os rumos de seu governo. O que acontecerá se ele não mudar nem renunciar?
Soto -
Veremos. O povo é que vai decidir.



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