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REFUGIADOS
Segundo especialistas, tática do ditador visa a colocar civis iraquianos em fuga no caminho dos americanos
Saddam prepara "corredor polonês"
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AMÃ (JORDÂNIA)
A menos de 24 horas do fim do
prazo dado por George W. Bush,
o ditador iraquiano prepara uma
tática militar que pode colocar
parte dos civis de seu país entre
dois fogos. Saddam Hussein movimenta suas tropas de maneira a
fazer do Iraque uma espécie de
"corredor polonês" que empurraria os refugiados em direção ao
sul, por onde deve vir a grande
maioria das tropas aliadas.
O objetivo é colocar no meio do
caminho entre os soldados americanos e Bagdá uma multidão de
famintos e desesperados, o que
atrasaria a marcha dos invasores
em direção à capital iraquiana e
daria tempo a seu líder.
A informação é do especialista
em assuntos iraquianos Amir Taheri, que edita a publicação "Politique Internationale" e entrevistou Saddam várias vezes nos últimos anos. A hipótese foi considerada verossímil por outros experts em movimentações militares do país. O principal ponto a favor da tese é a própria geografia
iraquiana, de formato mais ou
menos retangular.
Assim funcionaria o corredor: o
norte estará parcialmente seguro
se persistir a recusa da Turquia
em deixar os americanos usarem
o país para atacar; ao longo de toda a fronteira leste, com o inimigo
Irã, Saddam teria deslocado a
Quarta Divisão de seu Exército; a
oeste, além do clima desértico, a
própria Síria e as vizinhas Jordânia e Arábia Saudita estão tratando de fechar suas fronteiras.
Sobraria o sul, mais precisamente o Kuait, onde está estacionada a maioria das tropas americanas, britânicas e australianas e
por onde virá o grosso da invasão
por terra, cujo primeiro objetivo
será tomar a cidade de Basra, a capital da maioria xiita.
"Saddam quer deixar para os refugiados uma única porta de saída, justamente uma região já densamente povoada e problemática", disse Taheri. "Assustadas
com os rumores sobre o uso de
armas químicas, com fome e cansadas, as dezenas de milhares de
pessoas dariam um trabalho extra
aos soldados e atrasariam sua subida rumo a Bagdá."
Vai dar certo? Taheri ilustra
com uma história contada pelo
próprio Saddam numa das entrevistas que fez com o ditador. "Ele
me contou que ele e outros garotos se divertiam muito pulando
nos caminhões que passavam por
Tikrit, sua cidade natal. Os assistentes dos motoristas chicoteavam os meninos e chegavam mesmo a pisar nos dedos de suas
mãos para fazê-los descer do veículo", relata o analista.
A maioria cedia, menos o pequeno Saddam. "Eu aprendi que
o que importava era continuar",
me disse ele. "Os machucados das
chicotadas em minhas mãos
iriam desaparecer logo, mas o
sentimento de que eu tinha conseguido continuar duraria por
muito e muito tempo"."
Americanos na Jordânia
O chanceler da Jordânia negou
que haja soldados americanos no
país prontos para invadir o Iraque. "Já deixamos bem claro que
não estamos participando desta
guerra", disse Marwan Muasher.
"Não estamos negando que
existam forças especiais na Jordânia nem que soldados americanos
estejam no país", disse. "Mas quero deixar absolutamente claro
que a presença deles aqui é com
propósito puramente defensivo."
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