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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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REFUGIADOS

Segundo especialistas, tática do ditador visa a colocar civis iraquianos em fuga no caminho dos americanos

Saddam prepara "corredor polonês"

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AMÃ (JORDÂNIA)

A menos de 24 horas do fim do prazo dado por George W. Bush, o ditador iraquiano prepara uma tática militar que pode colocar parte dos civis de seu país entre dois fogos. Saddam Hussein movimenta suas tropas de maneira a fazer do Iraque uma espécie de "corredor polonês" que empurraria os refugiados em direção ao sul, por onde deve vir a grande maioria das tropas aliadas.
O objetivo é colocar no meio do caminho entre os soldados americanos e Bagdá uma multidão de famintos e desesperados, o que atrasaria a marcha dos invasores em direção à capital iraquiana e daria tempo a seu líder.
A informação é do especialista em assuntos iraquianos Amir Taheri, que edita a publicação "Politique Internationale" e entrevistou Saddam várias vezes nos últimos anos. A hipótese foi considerada verossímil por outros experts em movimentações militares do país. O principal ponto a favor da tese é a própria geografia iraquiana, de formato mais ou menos retangular.
Assim funcionaria o corredor: o norte estará parcialmente seguro se persistir a recusa da Turquia em deixar os americanos usarem o país para atacar; ao longo de toda a fronteira leste, com o inimigo Irã, Saddam teria deslocado a Quarta Divisão de seu Exército; a oeste, além do clima desértico, a própria Síria e as vizinhas Jordânia e Arábia Saudita estão tratando de fechar suas fronteiras.
Sobraria o sul, mais precisamente o Kuait, onde está estacionada a maioria das tropas americanas, britânicas e australianas e por onde virá o grosso da invasão por terra, cujo primeiro objetivo será tomar a cidade de Basra, a capital da maioria xiita.
"Saddam quer deixar para os refugiados uma única porta de saída, justamente uma região já densamente povoada e problemática", disse Taheri. "Assustadas com os rumores sobre o uso de armas químicas, com fome e cansadas, as dezenas de milhares de pessoas dariam um trabalho extra aos soldados e atrasariam sua subida rumo a Bagdá."
Vai dar certo? Taheri ilustra com uma história contada pelo próprio Saddam numa das entrevistas que fez com o ditador. "Ele me contou que ele e outros garotos se divertiam muito pulando nos caminhões que passavam por Tikrit, sua cidade natal. Os assistentes dos motoristas chicoteavam os meninos e chegavam mesmo a pisar nos dedos de suas mãos para fazê-los descer do veículo", relata o analista.
A maioria cedia, menos o pequeno Saddam. "Eu aprendi que o que importava era continuar", me disse ele. "Os machucados das chicotadas em minhas mãos iriam desaparecer logo, mas o sentimento de que eu tinha conseguido continuar duraria por muito e muito tempo"."

Americanos na Jordânia
O chanceler da Jordânia negou que haja soldados americanos no país prontos para invadir o Iraque. "Já deixamos bem claro que não estamos participando desta guerra", disse Marwan Muasher.
"Não estamos negando que existam forças especiais na Jordânia nem que soldados americanos estejam no país", disse. "Mas quero deixar absolutamente claro que a presença deles aqui é com propósito puramente defensivo."


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