São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 2011

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Europa chancela bloqueio a tunisianos

Para a União Europeia, França não violou nenhum acordo ao impedir a entrada de imigrantes no domingo

Os barrados portavam vistos temporários concedidos pela Itália que, em tese, garantiam livre circulação pela UE

Luca Zennaro/Efe
Imigrantes na estação de Ventimiglia, no norte da Itália, ontem, sem conseguir embarcar

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A União Europeia disse que a França "aparentemente" não violou nenhum acordo ao bloquear o trânsito de trens vindos da Itália no domingo para evitar a entrada de imigrantes tunisianos.
Cecilia Malmstroem, comissária para assuntos internos do órgão executivo da UE, disse que fechar temporariamente a fronteira não fere o acordo de Schengen.
Trata-se de uma convenção assinada, desde 1985, por 25 países do continente. Ela garante a circulação por terra entre eles sem a necessidade de passaporte ou visto.
No domingo, o governo italiano acusou o francês de desrespeitar o acordo e exigiu explicações.
A França enviou uma carta à Comissão Europeia. Nela, diz que o bloqueio ocorreu por razões de "ordem pública", uma vez que passageiros pretendiam fazer uma manifestação em solo francês pela liberdade de ir e vir dos tunisianos que fugiram de seu país depois da queda do ditador Ben Ali, no final de janeiro deste ano.
Após troca de críticas no domingo, Itália e França tentaram ontem minimizar o ocorrido. Os dois governos pretendem discutir o assunto na cúpula agendada para a próxima semana.
A questão dos imigrantes tem oposto a Itália a alguns outros países europeus desde o início de fevereiro. Foi quando recrudesceu a onda migratória de africanos.
Primeiro foram os tunisianos. Segundo a Itália, 23 mil já aportaram no país, a maioria na ilha de Lampedusa, que fica a apenas 120 quilômetros da costa tunisiana.
Agora, chegam também líbios - cerca de 4.700, segundo dados oficiais.
Por um acordo assinado entre os países da UE, os imigrantes têm que ficar no país em que chegaram até serem devolvidos a seus lugares de origem ou que seja decidido o pedido de asilo.
A Itália insiste que não tem condições de abrigá-los. Diz também que a maioria não quer ficar na Itália.
Em fevereiro, a Folha esteve em Lampedusa, e a maior parte dos tunisianos que estava lá dizia querer ir para a França (onde tem parentes e pela facilidade com a língua -a Tunísia foi colônia francesa e muitos são bilíngues).
Para esvaziar seus centros de imigrantes, a Itália passou a dar a eles documentos de permissão de permanência válidos por seis meses.
É com esses documentos que eles tentam viajar, e foi isso que irritou a França.
Para o país, é necessário que os imigrantes também cumpram outros requisitos, como contar com recursos econômicos próprios.
Os italianos, por outro lado, vêm pedindo ajuda à UE para lidar com o que, segundo o seu ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini, pode se tornar um "êxodo bíblico" causado pelas revoltas no norte da África (Tunísia e, depois, Egito e Líbia).
Questões políticas temperam a questão nos dois países. A Itália tem eleições municipais em maio, e o ataque aos imigrantes ajuda a extrema-direita a atrair votos.
Na França, as eleições presidenciais são em 2012.
O presidente Nicolas Sarkozy vai precisar muito do eleitor que hoje prefere Marine Le Pen, da Frente Nacional, partido que sempre atacou as imigrações.


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