São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 2011

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Regime cubano começa a definir a sucessão dos Castro

Congresso do Partido Comunista vota para definir novo número dois da legenda; delegados aprovam reformas

Em artigo, Fidel elogia discussão pelos jovens, diz que não entende tudo o que falam e pede que consertem regime

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O Partido Comunista de Cuba começou ontem a eleger sua nova cúpula elevando a expectativa para conhecer o novo número dois do regime, dias depois de o ditador Raúl Castro admitir que sua geração falhou na tarefa de preparar sucessores.
A imprensa oficial distribuiu fotos da votação, mas não havia informações sobre o resultado até a noite.
No sistema de partido único cubano, o PC é a autoridade máxima do país e é comandado por um primeiro-secretário -posto ocupado por Fidel Castro, 84, até adoecer, em 2006- e pelo segundo-secretário, Raúl.
Espera-se que o ditador ascenda ao posto do irmão, abrindo a estratégica vaga na linha de sucessão. É provável que seja a primeira vez, em 53 anos, que um posto tão alto seja ocupado por alguém sem o sobrenome Castro.
Mil delegados do PC se reúnem desde sábado no primeiro Congresso da legenda em 14 anos.
Convocado para discutir reformas econômicas, o encontro ganhou voltagem política com a proposta de Raúl de reduzir a dez anos o período máximo de um dirigente no poder e sua promessa de "rejuvenescer sistematicamente" o partido.
"Acho positiva a mudança, ainda que, como tudo em Cuba, a decisão só venha muito mais tarde. Não temos ideia de quem vai vir depois [dos irmãos Castro]", disse o engenheiro mecânico Dennis G., 25.
Os comunistas cubanos votarão ainda para eleger o restante da estrutura da cúpula: o comitê central, de cerca de 130 membros, e o birô, hoje com 19.
Também há vagas nestas instâncias, causadas pela morte de vários líderes históricos -em média, os ligados à guerrilha vitoriosa em 1959, com mais de 70 anos.

FIDEL E OS JOVENS
A mensagem insistente dos Castro nos últimos dias tem sido a de que sua geração não tem mais muito tempo de vida e de que é preciso preparar a sucessão.
Raúl se disse "envergonhado" porque o PC não conseguiu se renovar e admitiu que faltam quadros.
Já o convalescente Fidel preferiu um tom mais otimista e incentivador de "soldado das ideias", como ele se definiu. Elogiou as discussões do Congresso e também o preparo dos delegados jovens e seu vocabulário que ele não "conseguia entender".
Exortou-os a "consertar tudo que tem de ser consertado" e mostrar mais uma vez que o socialismo é "fazer o impossível".
No sábado, Raúl deixou claro os limites dos ajustes: afirmou que nada que atente contra o espírito socialista será acatado. Citou especificamente a concentração da propriedade.

REFORMAS
Também ontem, o 6º Congresso do PC aprovou o plano de reformas econômicas para "atualizar" o modelo socialista, apresentado por Raúl como forma de retomar o crescimento de Cuba.
As reformas, algumas já em curso, têm "tendências de mercado" e incluem mais de 300 pontos para abertura do setor privado, cortes no setor público e redução de subsídios, entre outros.
Em resolução, delegados apresentaram as reformas como tendo objetivo de "garantir a continuidade e irreversibilidade do socialismo, o desenvolvimento e o aumento do nível de vida".


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