São Paulo, quinta, 19 de junho de 1997.



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FIM DE ERA
Exército diz que guerrilheiros entregaram seu líder, responsável por mais de 1 milhão de mortes nos anos 70
Camboja anuncia rendição de Pol Pot

das agências internacionais

O Exército do Camboja anunciou ontem a rendição do líder do Khmer Vermelho, Pol Pot, considerado um dos maiores genocidas da história. O regime que comandou na década de 70 matou entre 1 milhão e 2 milhões de pessoas.
Segundo o general Nhek Bunchhay, subchefe do Estado-Maior do Exército do Camboja, os guerrilheiros chefiados por Pol Pot aceitaram entregar seu chefe para que fosse julgado em um tribunal internacional.
Assim como relatos recentes sobre sua morte, a rendição de Pol Pot não convenceu a todos no Camboja. "Precisamos ver se não é um jogo do próprio", afirmou o co-premiê Hun Sen, representante comunista no governo de coalizão cambojano.
Pol Pot, 69, tivera sua rendição anunciada inicialmente ontem por meio de uma transmissão da rádio clandestina pertencente ao Khmer Vermelho. "Uma nova era começou", dizia a transmissão, provavelmente feita por guerrilheiros revoltados contra o que chamaram de "traição" do líder.
Segundo o general Bunchhay, a rendição foi acertada com a deserção de mil de seus seguidores em Anlong Veng, no norte do país.
Drogas
Desintegrado no ano passado, quando surgiram notícias da morte de Pol Pot, o Khmer Vermelho se sustentava do tráfico de ópio e outras drogas na região.
À agência "Associated Press", o general disse que Pot se rendeu com um grupo de 15 pessoas após ver seus suprimentos acabarem.
Há versões de que a revolta de seus homens ocorreu após Pot ordenar a execução, na semana passada, de Son Sen -que fora seu ministro da Defesa. Ele também teria ordenado a destruição dos transmissores da rádio.
O Khmer Vermelho, nome pelo qual era conhecido o Partido Comunista Cambojano, comandou o país entre 1975 e 1979. Tomou o poder após cinco anos de guerra civil na qual era apoiado pela China e o então Vietnã do Norte.
Pol Pot comandou o regime com mão de ferro. Expulsou os estrangeiros do país, a começar pelos franceses remanescentes após a independência do Camboja em 1953, e cortou laços externos.
Coletivizou o trabalho no campo e obrigou trabalhadores urbanos a pegar em enxadas. Toda a oposição foi dizimada. As cifras são imprecisas, mas ultrapassam a casa de 1 milhão de mortes -um oitavo da atual população do país.
O filme "Os Gritos do Silêncio" (Rolland Joffe, 1984) retratou para o Ocidente os horrores do regime.
Decadência
Em 1977, com a perda do apoio chinês, o Vietnã unificado invadiu o Camboja. Após dois anos de guerra, a capital Phnom Penh caiu, e Pol Pot fugiu com seus comandados para as selvas do norte do país.
De lá, comandando rotas de tráfico, continuou uma guerra de guerrilha que se esvaziou com a decadência física do próprio Pot -que, segundo relatos, mal pode andar. Em 1991, um acordo de paz pôs um fim oficial à guerra, mas os combates continuaram de forma esparsa, mais para evitar a perda do controle sobre o tráfico.



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