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Muçulmanos reagirão com horror, diz acadêmico
VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO
A grande maioria do mundo
muçulmano vai reagir à decapitação do americano Paul Johnson
da mesma maneira que os ocidentais: com horror e indignação.
Porém, em muitos, haverá um
sentimento misto, inconfessável,
de vingança contra a política externa dos EUA e as torturas sofridas por prisioneiros iraquianos e
afegãos. Essa é a opinião do professor Alexander Knysh, diretor
do Departamento de Estudos do
Oriente Próximo, da Universidade de Michigan.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - A decapitação de um prisioneiro não contraria o islã?
Alexander Knysh - A lei islâmica
proíbe claramente o assassinato
de não-combatentes e a captura
de reféns. Tais atos são considerados uma ruptura da ordem pública, puníveis com a morte. São
ofensas não apenas contra o Estado, mas também contra a religião.
O problema é que há muitas interpretações do islã. Não podemos
dizer que haja um islã, há entendimentos, apropriações do islã por
diferentes grupos. As interpretações extremistas são as mais visíveis, porque são cruéis e atraem a
atenção das pessoas.
Folha - Como os muçulmanos
vêem esses assassinatos?
Knysh - Acho que essas mortes
são chocantes para todos. Eu falei
com algumas pessoas e elas estavam enojadas com a morte de Nicholas Berg no Iraque. A maioria
dos muçulmanos não apóia tais
atos. Para a maioria, eles são contra o islã, contra todas as regras
morais e éticas que existem no
mundo civilizado.
Por outro lado, haverá um sentimento mórbido de gratificação,
que muitos provavelmente não
manifestarão, por estarem revidando os sofrimentos dos prisioneiros de Abu Ghraib e em outras
áreas, como no Afeganistão.
Infelizmente tenho de dizer que
é um resultado da política externa
americana, que cria essa frustração e algumas vezes leva pessoas a
fazer atos horríveis de violência,
porque elas não sentem ter outros
recursos. Como acontece na Palestina, onde as pessoas estão tão
desesperadas que preferem morrer se explodindo do que viver sob
a ocupação israelense.
Folha - Como o sr. avalia a situação da Al Qaeda hoje na Arábia
Saudita?
Knysh - Sabemos que a maioria
do povo saudita apóia Bin Laden e
suas atividades e o considera um
herói. Mas esses são atos de desespero e não uma demonstração de
poder ou força.
Essas pessoas estão sendo caçadas e mortas na Arábia Saudita.
Elas sentem que só podem reagir
por meio do assassinato de ocidentais para atingir seus objetivos. E um dos objetivos da Al
Qaeda é a remoção de todos os estrangeiros da terra santa do islã,
que é a Arábia Saudita.
Folha - O sr. vê condições para a
queda da família real saudita?
Knysh - Não há garantias de que
o governo venha a ser capaz de
eliminar essa rebelião, mas ficaria
surpreso se ele caísse. A maioria
da população não compartilha essa agenda radical. No pior cenário
poderia haver uma situação como
a guerra civil na Argélia, que terminou com um triunfo do Estado, mas a que custo? Centenas de
milhares de pessoas mortas.
Folha - Os muçulmanos moderados estão perdendo terreno para
os radicais?
Knysh - Acredito que sim, enquanto a situação no Oriente Médio permanecer como está, com
diversos conflitos além do israelo-palestino. Há uma situação precária no Paquistão, tensões na Indonésia, nas Filipinas, no Iraque e no
Afeganistão. Há muitas fontes de
indignação e ressentimento e isso
vai se traduzir numa oposição baseada na religião. A religião transcende as agendas nacionalistas e
dá [aos extremistas] o sentimento
de pertencer a uma grande comunidade islâmica internacional, o
que basicamente é uma ficção.
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